NA NETFLIX: Aniquilação (Anihilation)
O fato é que o filme é daqueles que não explica quase nada, mas vai capturando o espectador numa mistura de ficção cientifica, fantasia e principalmente terror
Aniquilação (Anihilation)
EUA, 18. Direção e roteiro de Alex Garland.Baseado em livro de Jeff Vandermeer. Com Natalie Portman, Jennifer Jason Leigh, Tessa Thompson, (de West World e Creed), Oscar Isaac, Sonoya Mizuno, David Gyasi, Gina Rodriguez.
Alex Garland é um novelista e diretor britânico (onde foi rodada a maior parte desta história), que teve sua obra reconhecida com os livros: A Praia, com Leonardo de Caprio, Extermínio, No Limite da Realidade (filmado na Coréia do Sul), Sunshine Alerta Solar , Não me Abandone Jamais. Em 2014, fez o primeiro longa: Ex Machina, Instinto Artificial (14). Que foi indicado ao Oscar de roteiro e ganhou o de efeitos visuais. Foi o filme que revelou a sueca Alicia Vikander assim Domhall Gleeson. E curiosamente saiu no Brasil apenas em DVD e não nas salas. O que foi uma injustiça já que em toda parte foi muito bem recebido. Escrevi na época: ”Ele demonstra sua competência realizando um trabalho estiloso, visualmente excitante e intrigante. Igualmente marcante é a criação do cientista alcoólatra e pretensioso que a criou e faz experimentos com ela, em sua mansão hiper moderna no meio de uma floresta (as locações com montanhas, geleiras e cachoeiras foram na Noruega)”.
Mas infelizmente tem menos sucesso com este drama misterioso que teve orçamento 40 milhões de dólares (Bilheteria nos EUA: 30 milhões e noventa e mil). O filme teve problemas, quando foi mal recebido em testes e David Ellison, um financista da Paramount, ficou preocupado com a certa perda de dinheiro achando que o filme é intelectual demais e muito complicado. Exigiu mudanças tornando o personagem de Portman mais simpático e mudando o fim. O produtor Scott Rudin ficou com Garland não querendo alterar o filme (ele tinha corte final). Mas por causa do conflito entre eles, da Paramount resolver ceder o filme para a Netflix no exterior 17 dias depois sua estreia oficial na América (Paramount ficou só com direitos nos EUA e China). Oscar Isaac, que também esteve em Ex-Machina, fez simultaneamente neste filme ao mesmo tempo que rodava Star Wars O Ultimo Jedi.
Houve também uma confusão quando o autor Garland decidiu que não iria reler o livro, mas em vez disso decidiu adaptar a história como se o livro fosse “um sonho do livro”. Antes da estréia houve críticas a escolha do elenco como Natalie e Jennifer porque os personagens são descritos pelo autor como Asiáticos e uma nativa americana. Garland explicou que essa etnia não era apresentada no primeiro Livro (trata-se de uma trilogia) e ele leu apenas o primeiro livro e o script já estava pronto antes que o segundo livro fosse editado. Escolheu o elenco baseado na sua reação aos atores que escolheu ou que trabalharam com ele antes. Que desejava contar a história por sua conta, não queria ser influenciado pelos livros. Embora tenha corrido o boato que a história teria sido inspirada por Stalker, 79, de Tarkovsky. Ele também negou qualquer inspiração disso (apenas no livro Southern Reach). A tatuagem da cobra que surge no pulso de Lena só aparece quando ela entra no “MP Shimmer”. Também aparece no corpo de um soldado morto. Essa tatuagem é um símbolo de uma cobra que come a si própria, que seria o tema do filme da autodestruição. Alguns personagens deste filme se parecem com o livro The Crystal World, de J.G. Ballard, com a floresta que se expande e seus habitantes parecem se cristalizar. E ao final, o farol é cercado de arvores de cristal! Outra influencia teria sido o filme de John Carpenter, The Thing, O Enigma do Outro Mundo, 82, sobre um alienígena vindo do espaço caindo na Terra.
De qualquer forma, o resumo oficial do IMDB diz o seguinte: “o marido de uma bióloga desaparece. Ela faz parte de uma expedição numa zona de desastre, mas não encontra o que estava esperando. O grupo que vai com ela, é formado por mulheres, uma bióloga, uma antropóloga, psicóloga, uma sobrevivente e outra que fala varia línguas”. Mas acreditem que isso não ajuda muito a compreender o filme. Dá a impressão de que o diretor /escritor quis deliberadamente fazer uma narrativa confusa e complexa mais para ser degustada do que entendida.
O fato é que o filme é daqueles que não explica quase nada, mas vai capturando o espectador numa mistura de ficção cientifica, fantasia e principalmente terror (elas são inicialmente atacadas por um crocodilo gigante!). Parece acontecer num futuro próximo, onde supomos mais do que vemos uma enigmática invasão alienígena. Com seu jeitinho delicado, Natalie Portman é a protagonista bióloga Lena que reencontra o marido Kane (Oscar Isaac) que afinal de contas não está morto. Mas tudo fica meio confuso a ponto de se sugerir em ver o filme novamente, no que um critico americano chamou de “horror barroco”. É que logo depois sem explicar muita coisa a expedição de mulheres se encontra no que chamam de shimmer (o brilho), uma força misteriosa que parece ter descido num pântano numa região estranha na Flórida (embora rodada na Inglaterra). E o diretor nos oferece curiosas e interessantes imagens visuais de belas cores variadas, quase sempre delicadas (alguns críticos o comparam a O Mágico de Oz e as aventuras de Dorothy).
O fato é que o “production designer” do filme fez um trabalho interessante e meio mágico. Mas ainda assim o espectador vai interpretar o mistério ao seu gosto, no que parece ser um mergulho no inferno. O que pode irritar as pessoas ou conquistá-las levando-as a rever o filme de novo (afinal é Netflix, pode ver quantas vezes quiser). O fato, porém é que este misterioso terror é bem capaz de capturá-lo. E deverá ser possível Cult!