A Prosa Tranquila de Graham Greene
A prosa do romancista ingles Graham Greene eh tranquila. Mas dentro de sua simplicidade de narrar vai topando aos poucos aquelas emo?oes escondidas nos truismos da vida
A prosa do romancista inglês Graham Greene é tranquila. Mas dentro de sua simplicidade de narrar vai topando aos poucos aquelas emoções escondidas nos truísmos da vida. O americano tranquilo (The quiet american; 1957) é seu romance vietnamita e traz laivos autobiográficos, desde a dedicatória a uns tais de René e Phuong, com os quais conviveu no Vietnã; mas, adverte Greene, a autobiografia é superficial, apesar do nome Phuong da protagonista ser o mesmo da pessoa a quem o livro é dedicado.
Narrado na primeira pessoa por um dos polos do triângulo amoroso do enredo, justamente o inglês em quem Greene parece espelhar-se, O americano tranquilo começa com um encontro inesperado entre o inglês e a oriental Phuong, enquanto ele esperava pelo amigo americano Pyle, algum tempo depois que o amor de Phuong foi roubado ao inglês por Pyle: um triângulo de amor, claro, no coração dos acontecimentos tumultuados de Saigon. Greene viveu lá e sabe do que fala. Estará ele falando de seus próprios sentimentos para com as mulheres?
Um frase provocada pelo diálogo entre o inglês e Phuong. A frase passa-se na cabeça do narrador, que é um over da personagem do inglês. “Havia, entre elas, a superstição de que um amante que fumasse voltaria sempre, mesmo da França. A capacidade sexual de um homem poderia ser prejudicada pelo ópio, mas elas prefeririam um amante fiel a um amante potente.” Haveria oração melhor que definisse o coração duma mulher? (Explicação: o pronome “elas” alude às mulheres vietnamitas, um olhar europeu cético e também afetuoso para as crenças vietnamitas). É a moral feminina definida por Greene: o sexo é uma circunstância; o essencial é estar-junto, é a companhia.
O americano tranquilo segue a caçada do amor de Thomas (o inglês), Pyle e Phuong. Ela é primeiramente de Thomas, depois passa a Pyle, que falece nas loucuras de Saigon, e torna no final a Thomas. A frase de encerramento do romance desvela o lado culposo dos amores do narrador com a heroína naquele momento. Thomas está falando da morte de Pyle, Phuong acaba de deixar a cama conjugal para ir falar com a irmã dela. “Tudo me havia corrido bem desde sua morte, mas como eu desejava que existisse uma pessoa a quem eu pudesse pedir desculpas.”
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br