O Olhar do Ator no Universo Cinematogr?fico de Gerbase

Gerbase faz uma de suas obras de maior brilho e densidade: todo o seu processo de filmar, exercitado e mutante ao longo de anos, se afigura depurado neste seu filme atual

22/08/2020 14:36 Por Eron Duarte Fagundes
O Olhar do Ator no Universo Cinematogr?fico de Gerbase

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Em Bio (2017), de Carlos Gerbase, os atores falam sem parar olhando para um ponto estranho do espaço cinematográfico em que parece estar ou o espectador ou alguém que faz o filme ou que simplesmente maneja a câmara. O ator que fala dá com alguém que entrevista e que não aparece no quadro; alguém que vê e ouve, simplesmente, sem manifestar-se. O jogo da fala-olhar do ator é o ponto-chave da narrativa de Bio, uma simulação de documentário futurista em que, à maneira de Cidadão Kane (1941), do americano Orson Welles, ou um pouco mais próximo de Zelig (1983), do também americano Woody Allen, um grupo de contemporâneos sobreviventes dá seus depoimentos sobre a vida e a personalidade dum indivíduo. No caso do filme de Gerbase apresenta-se, pelas palavras de várias personagens, o retrato de um homem que teria vivido na terra no longo período de 1959 a 2070. O início de Bio é cósmico: parte da figura do universo e do fenômeno da vida no universo para criar algo da atmosfera de outro clássico do cinema, o metafísico corredor de luzes de 2001, uma odisseia no espaço (1968), do americano Stanley Kubrick.

Gerbase faz uma de suas obras de maior brilho e densidade: todo o seu processo de filmar, exercitado e mutante ao longo de anos, se afigura depurado neste seu filme atual. O realizador juvenil de Inverno (1983) e Verdes anos (1984), o cineasta de anotações comportamentais de Tolerância (2000) e o cérebro que divaga em imagens em Sal de prata (2005) atinge em Bio uma ambição que se equilibra de maneira sinuosa, limítrofe. Seus achados de construção cinematográfica superam os eventuais problemas das tateantes ideias de um pós-iluminismo em que navega. Como poucos diretores hoje em dia no Brasil, Gerbase é um extraordinário diretor de atores. Em Bio este atributo está em sua altura mais refinada. Um elenco variado e com tons que se diferenciam (Maria Fernanda Cândido, Maitê Proença, Marco Ricca, Tainá Müller, Werner Schünemann) se apresenta na tela quase como iluminações simbólicas de atuação. O que  transforma Bio numa espécie de feira visual extremamente atrativa.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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