Dossie Bond 13: 007 Contra Octopussy

O roteiro foi uma salada de ideias retiradas de historias distintas dos livros de Fleming

12/03/2021 20:05 Por Adilson de Carvalho Santos
Dossie Bond 13: 007 Contra Octopussy

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Em 1982, já tendo passado o lançamento de “007 Somente Para Seus Olhos”, Roger Moore havia declarado sua aposentadoria como James Bond. A EON Pictures chegou a escalar James Brolin para substituir Moore quando o produtor irlandês Kevin McClory anunciou a refilmagem de “007 Contra a Chantagem Atômica” – cujos direitos lhe pertenciam – e com Sean Connery de volta ao papel (Entenda melhor isso na próxima postagem de Bond aqui no site). Temerosos de competir com a inesperada volta de Connery, Moore foi trazido de volta com um novo contrato para mais dois filmes.

O roteiro de George McDonald Fraser, Richard Maibaum e Michael G. Wilson foi uma salada de ideias retiradas de histórias distintas dos livros de Fleming. O título veio do 14º e último livro de Fleming, uma publicação póstuma de 1966, entitulada “Octopussy & The Living Daylights” , este na verdade reunia quatro contos de Bond : “Octopussy”, “The Living Daylights”, “The Property of A Lady” e “007 in New York”. Do primeiro conto veio a personagem feminina central da trama que dá título ao filme (apontada como filha do Major Smythe, vilão do livro) . Já o roubo de ouro nazista , no filme,foi transformado nos tesouros perdidos do último czar da Rússia. Enquanto no livro, um major renegado é o vilão, no filme este foi transformado no príncipe Afegão Khamal Khan, vivido nas telas pelo ator Louis Jourdan. Do conto “The Property of a Lady” os roteiristas extraíram o roubo e falsificação de um Ovo Farbegé, rara joia que funciona como o elemento de investigação inicial que levará Bond à casa de leilões Sotherby’s em Londres. O restante os roteiristas inventaram de forma a criar uma aventura movimentada, o que de fato funciona em termos de ação, levando Bond à India , e ao final do filme à Berlim onde um militar russo renegado (aliado de Khan) planeja explodir um artefato nuclear na Alemanha ocidental. Assim se desenrola a trama de “007 Contra Octopussy”.

A direção de John Glenn (pela segunda vez) consegue conduzir a trama sem os exageros de humor dos primeiros filmes de Roger Moore, que apesar de sua persona descolada e ar debochado, atua mais contido, admirável se levarmos em conta que Moore não se sentia à vontade no papel contando , na época , com 56 anos.A sequência em que Bond está no circo, disfarçado de palhaço e tenta desesperadamente alertar sobre a bomba foi muito criticada na época, mas revista hoje ela não prejudica tanto. É nítido que Albert Broccoli desejava um filme com um tom menos sério do que em “007 Somente Para Seus Olhos”. Talvez, pelo fato de estar enfrentando nas bilheterias o filme de McClory, fora o fato do sucesso de Indiana Jones, Broccoli quis fazer um filme mais leve, ao gosto de Roger Moore quer parecia gostar de atuar de forma mais despretensiosa. O fato é que o filme divide bastante as opiniões dos fans, com críticas severas às piadinhas infames como Bond dentro de um traje de crocodilo ou na selva dando um grito como Tarzan.

No elenco, a atriz Maud Addams tornou-se Bond girl pela segunda vez depois de ter trabalhado em “007 Contra o Homem da Pistola de Ouro”, ainda que a personagem fosse outra. O papel de Octopussy lhe foi entregue depois das recusas de Faye Dunaway e Barbara Carrera (esta recusou o convite da EON Pictures pois preferiu contracenar com Sean Connery no filme de Kevin McClory entitulado “Nunca Mais Outra Vez”. O tenista profissional indiano Vijay Armitrage ficou com um papel menor tentando assim iniciar uma carreira paralela de ator. Para isso, Albert Broccoli havia pedido a seu amigo Leonardo Goldberg que conseguisse uma participação de Vijay na série de Tv “A Ilha da Fantasia”, pois assim o tenista poderia obter um registro de ator. Este chegou a fazer aparições em “Casal 20” (seriado de TV) e até mesmo em “Jornada nas Estrelas IV: A Volta Para a Casa” (1987). Desmond Lewelly, intérprete de Q, tem participação mais ativa na trama pela primeira vez na série. O ator Kabir Bedi é até hoje o único ator de Bollywood (a Hollywood Indiana) a atuar em um filme de 007 e seu personagem certamente é tão cruel e mortífero quando Oddjob (Goldfinger) ou Dentes de Aço (O Espião que me Amava). Foi a primeira vez que o ator Robert Brown interpreta M, o chefe de Bond, depois do falecimento de Bernard Lee.

Algumas das sequências em “007 Contra Octopussy” eram ideias já planejadas anteriormente, mas não utilizadas. A caçada de elefantes, por exemplo, era ideia de Harry Saltzman (co-produtor nos primeiros nove filmes de 007) que era prevista para “007 Contra o Homem da Pistola de Ouro”; o jogo de Gamão foi inicialmente previsto para “007 O Espião Que Me Amava”, o mini jato no começo do filme e os gêmeos atiradores de faca seriam a princípio usados em “007 Contra o Foguete da Morte”. John Barry, que ficara de fora da trilha sonora do filme anterior retorna e traz consigo a belíssima canção tema “All Time High” na voz da cantora norte-americana Rita Coolidge, e que se tornou sucesso nas execuções de rádio chegando até a fazer parte da novela da Globo “Eu Prometo” no ano de 1983.

Lançado meses antes do filme rival, “Octopussy” foi melhor nas bilheterias, arrecadando em torno de $187 milhões contra $163 milhões de “Nunca Mais Outra Vez”. Foi a última vez que um filme de 007 anuncia o título do filme seguinte, que se chamaria “From a View to a Kill”, modificado depois para “A View to a Kill”. Particularmente não é o melhor de Bond, nem sequer o melhor filme da era Moore, mas cumpre o papel de entretenimento mediano, mesmo não sendo o que Ian Fleming escreveu.

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Sobre o Colunista:

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com

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