Dossie Bond 9: 007 Contra o Homem da Pistola de Ouro
Infelizmente, apesar do elenco envolvido, o filme veio a se tornar um dos piores da trajetoria do superespiao de Ian Fleming


Imagine só James Bond enfrentando Drácula. Isto deve ter passado na cabeça dos fãs quando a United Artists lançou em 1974 “007 Contra o Homem da Pistola de Ouro” (The Man With the Golden Gun), 9º filme da franquia e 2º estrelado por Roger Moore. Infelizmente, apesar do elenco envolvido, o filme veio a se tornar um dos piores da trajetória do superespião de Ian Fleming.
Na história, 007 precisa recuperar o Solex, um aparelho capaz de captar a energia solar e, ao mesmo tempo, vencer o assassino Francisco Scaramanga, o personagem do título, que tem Bond em sua mira para provar quem é o melhor. O roteiro de Tom Mankiewics, reescrito por Richard Maibaum, investiu pesado no clima de comédia, resvalando no pastelão muitas vezes. As cenas de ação, os diálogos ou mesmo a direção de Guy Hamilton, em seu 4º trabalho com Bond, não convergem de forma a entregar o que se espera de um filme de 007. Talvez se pensasse que a franquia se sustentaria em meio às transformações do cenário político mundial. Sem poder usar a SPECTRE ou Brofeld como metáforas da guerra fria, e ainda a preocupação em produzir um filme leve, afetou 007 em um ano em que a realidade era a crise do petróleo e um aumento considerável da violência urbana. Poucos meses antes do lançamento de “007 Contra o Homem da Pistola de Ouro”, um atentado do IRA abala o Palácio de Westminster, sede do parlamento Inglês. Nesse contexto, os produtores Albert Brocolli e Harry Saltzman optaram por uma aventura que, em nenhuma cena se leva a sério. Trouxeram o Xerife Pepper (Clifton James) de volta, fizeram de Mary Goodnight (Britt Ekland) uma bondgirl extremamente atrapalhada, acrescentaram uma manobra de carro que mais parece saído do desenho animado “Corrida Maluca”, ou seja, o clima de paródia é a todo momento.
Talvez se tivessem sido mais fiéis ao livro de Fleming, seu último escrito e publicado postumamente, o filme teria sido melhor. Nas páginas do livro, Bond ressurge desmemoriado, depois de ter sofrido lavagem cerebral no Japão, em um atentado contra seu chefe “M”. Para provar seu valor e lealdade, depois de recobrar sua identidade, 007 é enviado para matar Scaramanga, o assassino da pistola de ouro e algoz de vários agentes do MI6. Outra importante passagem na história do livro é a participação de Felix Leiter, o agente da CIA amigo de Bond, mas este foi eliminado do filme, voltando a ser usado só em 1989 em “007 Permissão Para Matar”. A ação se passa na Jamaica, mas como no filme anterior “Com 007 Viva e Deixa Morrer” a Jamaica já havia sido usada, as locações mudaram para a Tailândia. A escolha de Christopher Lee para Scaramanga foi um pedido tardio de Fleming, que deseja ver Lee, que era seu primo na vida real, no papel do Dr.No, ainda no primeiro filme. Ainda assim, o papel seria oferecido primeiro a Jack Palance, que recusou. Christopher Lee, que se notabilizou no papel de Drácula, era amigo de Roger Moore e nos bastidores o clima era muito descontraído. Durante as filmagens na Tailândia, Roger Moore encontrou, em uma das locações, uma caverna cheia de morcegos. Moore teria chegado próximo de Lee e teria dito “Master, they are at your command” (Mestre, eles estão à suas ordens). Entre os destaques do elenco ainda tem a ex modelo sueca Maud Adams, em personagem criado para o filme, e que voltaria a ser bond girl novamente em 1983, como o personagem central de “007 Contra Octopussy” (1983); além de Nick Nack, o misto de mordomo e assassino que trabalha para Scaramanga. Nick Nack foi a primeira grande chance do ator Hervé Villechaizze, que faria anos depois Tatoo, o braço direito do Sr. Roarke (Ricardo Montalban), no popular seriado de tv “A Ilha da Fantasia”.
No Brasil o filme, que marcaria o fim da sociedade entre Albert Broccolli e Harry Saltzman, seria lançado em janeiro de 1975, além de ter sido o primeiro filme da franquia lançado na Rússia. A trilha sonora teve a canção tema cantada pela cantora escocesa Lulu (de “Ao Mestre com Carinho”), depois que a produção recusou a composição inicial de Alice Cooper, que viria a ser lançada por este somente anos depois. Demorou um pouco para que a produção do filme seguinte fosse iniciada, mas Bond sempre foi incansável e retornaria dois anos depois.
James Bond volta ao DVDMagazine na semana que vem com “007 O Espião que me Amava”.


Sobre o Colunista:
Adilson de Carvalho Santos
Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com

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