Dossie Bond 8: Com 007 Viva e Deixa Morrer
Veja os detalhes do primeiro filme de Bond com Roger Moore no papel
No início da década de 70, os produtores Broccoli & Saltzman viviam um impasse: Embora Sean Connery tivesse feito “007 Os dimantes são Eternos” (Diamonds are forever), este não estava disposto a continuar mais vindo a recusar uma oferta de $5,5 milhões de dólares. O mundo também não era o mesmo, a cultura pop abraçara a “blaxploitation” (filmes dirigidos e protagonizados por atores negros) e o público ligava a Tv e via um mundo mais cínico em que a violência urbana assustava mais ao cidadão do que o embate ideológico da guerra fria. Os nomes de Burt Reynolds, Clint Eastwood, Paul Newman e Robert Redford chegaram a ser cogitados para substituir Connery. Assim sendo, os produtores decidiram redirecionar os filmes de Bond para uma nova geração, retirando o tom mais sério das primeiras aventuras, privilegiando o deboche na figura de seu novo intérprete, o inglês Roger Moore, então com 46 anos. Este já havia sido quase escolhido para o papel ainda nos anos 60 mas Moore estava impossibilitado por seu contrato com a série de TV “O Santo”. Na época de sua escalação afinal, Moore terminara seu contrato com a Tv onde atuava no seriado “Persuaders”, ao lado de Tony Curtis.
“Com 007 Viva & Deixa Morrer” (Live & Let Die) já começa com o inusitado assassinato de um agente secreto que assiste a um funeral, que em seguida se torna um festival popular pelas ruas de Nova Orleans. Logo em seguida, a canção tema de Paul McCartney preenche a tela com seus acordes eletrônicos que se tornam onipresentes a medida que a narrativa segue os passos de 007 para investigar as conexões do diplomata Dr.Kananga com o gangster Mr.Big, responsável por uma rede de tráfico de drogas. Ambos acabam sendo a mesma pessoa, interpretado pelo ator novaiorquino Yaphet Kotto. O vilão deste 8º filme de James Bond se cerca de importantes aliados como o terrível Tee Hee (Julius Harris) que possui um braço direito mecânico com uma garra no lugar da mão e o sombrio Barão Samedi (George Holder), um feiticeiro Vudu dono de uma gargalhada extremamente sinistra. Além desses, o vilão utiliza em seus planos o dom de profetizar o futuro da belíssima e virginal sacerdotisa Solitaire (Jane Seymour, então com 22 anos em sua estreia nos cinemas). Contudo, se for tocada por um homem, Solitaire perderá seus poderes, o que claro é o que acontecerá em seu encontro com Bond, despertando ainda mais o ódio de Mr.Big/Kananga.
O livro original de Fleming foi lançado em 1954, o segundo logo após “Cassino Royale”. A história mistura a ação conduzida pela investigação de Bond em cima de antigas moedas de ouro contrabandeadas e o sobrenatural através dos elementos do vudu. O MI6 e a SMERSH agem no Caribe mostrando nitidamente a bipolarização representada pela guerra fria e sua influência nos países de terceiro mundo. O filme, dirigido por Guy Hamilton (o mesmo de “Goldfinger” e “Os Diamantes são Eternos”) também tomava outras liberdades em relação ao livro: Neste, não há humor e nem existe a sequência de Bond saltando por sobre as cabeças de famintos crocodilos, Simone Latrelle , o nome real de Solitaire não é mencionado no filme e na cena que Bond é ameaçado de perder um de seus dedos, no livro a ameaça é concretizada.
O filme ainda trouxe de volta dois personagens da primeira aventura cinematográfica de Bond : Quarrell Jr – que também não aparece no livro já que este foi escrito antes de “Dr.No”) que é o filho do barqueiro que auxilia Bond e o agente da CIA Felix Leiter, papel que aqui coube a David Hedison (que era amigo na vida real de Roger Moore) e ainda reprisaria o papel de novo em 1989 em “007 Licença Para Matar”. O filme ainda inclui no elenco o xerife Pepper, que persegue Bond e que foi tão bem sucedido que voltaria no filme seguinte “007 Contra o Homem da Pistola de Ouro”.
Apesar de todas as mudanças em relação ao livro de Fleming, que se tornaram cada vez mais frequentes nos filmes subsequentes, Moore marcou uma era com seu Bond nada sério dividindo preferências e ficando no posto ao longo de 12 anos e 7 filmes, um recorde. Também foi o ator mais velho a ficar com o papel que teria em frente altos e baixos artísticos mas alta bilheteria que justifica que o personagem vive não apenas duas ou três vezes, mais muito mais.
BOND VOLTA AO DVDMAGAZINE SEMANA QUE VEM COM “007 CONTRA O HOMEM DA PISTOLA DE OURO”
Sobre o Colunista:
Adilson de Carvalho Santos
Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com