RESENHA CRTICA: Um Dia Perfeito (A Perfect Day)
Um road movie, passado em algum lugar dos Blcs, repleto de ironia e um humor particular, que provoca sorrisos irnicos e nunca chega farsa
Um Dia Perfeito (A Perfect Day)
Espanha, 15. 96 min. Direção de Fernando Leon de Aranoa. Baseado no livro Dejarse Llover de Paula Farias. Com Benicio Del Toro, Tim Robbins, Sergio Lopez, Olga Kurylenko, Mélanie Thierry, Fedjka Stukan.
Premiado com o Goya de melhor roteiro adaptado (também indicado como diretor, montagem, coadjuvante Robbins, figurino, foto e produção) este filme espanhol foi muito bem recebido no Festival de Cannes, na Mostra Paralela Quinzena dos Realizadores, onde foi ovacionado por 10 minutos. Rodado em Andaluzia e Cuenca (La Mancha) e Málaga, todos na Espanha, com elenco internacional é a confirmação do talento do diretor Leon de Aranoa, que fez o ótimo roteiro e direção de Segunda Feira ao Sol, Princesas e No Gueto de Madrid e depois realizou Segredos em Família.
Não chega a ser um filme de denúncia, nem tem grande apelo comercial. Porque é um road movie, passado em algum lugar dos Bálcãs, repleto de ironia e um humor particular, que provoca sorrisos irônicos e nunca chega à farsa. Por outro lado, os atores estão em grande forma, relaxados e inspirados, exatamente no tom que o diretor procurou conseguir. Basicamente é um conflito sem sentido, como alias a maior parte de qualquer guerra, mas ainda gritante na sangrenta luta entre povos vizinhos e que deveriam ser parceiros.
Começa quando o chamada guerra está já na sua parte final, e um grupo vem ajudar a tirar um corpo (de gordo desconhecido) que está num poço de água o que, portanto o torna perigoso seu aproveitamento. A primeira tentativa falha quando a corda se rompe, mas quando procuram ajuda, esbarram numa estúpida burocracia porque os militares não apenas recusam ajudar mas também impedem que eles o façam. Formam o grupo Benicio Del Toro (na melhor forma), Tim Robbins (maduro e melhor ator que costume), a russa e Bond Girl, Kurylenko e francesa Thierry.
Não há pressa em apressar a história, ela é contada como a placidez aparente da paisagem e a falta de esperança de gente bem intencionada mas já cínica. Por isso, que praticamente não tem ação, nem grandes dramas (apesar de Benicio e Olga tenham sido antes namoradas, e Thierry é cheia de verdades e despreparada). É preciso ter paciência e entrar no ritmo e saborear um trabalho inteligente e bem sucedido. Meu momento favorito é ao final onde se tem uma surpresa e um desfile de rostos e paisagem, enquanto se ouve uma velha gravação da lendária Marlene Dietirch cantando com sua voz rouca e limitada, Quando será que o jovens irão aprender? Vale a pena assistir.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.