Apresentao de O Nascimento de uma Nao (The Birth of a Nation)

Qualquer semelhana (ou no) mera coincidncia: no confunda com o filme clssico e saiba tudo sobre os bastidores deste filme polmico!

08/11/2016 22:18 Por Rubens Ewald Filho
Apresentação de O Nascimento de uma Nação (The Birth of a Nation)

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Apresentação de O Nascimento de uma Nação (The Birth of a Nation)

EUA, 16. 120 minutos. Direção e roteiro de Nat Parker. Com Nat Parker, Armie Hammer, Penelope Ann Miller, Jackie Earle Haley, Mark Boone Junior, Colman Domingo, Aunjanue Ellis. Gabrielle Union. Produção de Edward Zwick, David S. Goyer e 25 outros. Música de Henry Jackman, Foto de Elliot Davis. Edição de Steven Rosenblum.

Favor não confundir com outro filme homônimo que é aquele clássico mudo que foi criado por um dos inventores do próprio Cinema, David Griffith, de 1915, e que aqui é usado apenas o título, sem maior relação a não ser o óbvio: a nação americana já nasceu com problemas e que apesar de tanta conversa ainda não se resolveram. Na verdade até pioraram conforme pode se ver pela recente eleição presidencial.

Este filme em particular teve uma recepção muito entusiasmada durante o último Festival de Sundance de tal forma que a distribuidora Fox comprou os direitos por 17 milhões e 500 mil de dólares, um recorde no Festival. O original era uma adaptação do livro de Thomas Dixon Jr escrito em 1902-5, a favor da Ku Klux Klan, nas novelas “Marcas de Leopardo” e “Os Homens do Clã “ que haviam sido imensos sucessos! O Presidente Wilson quando o exibiu na Casa Branca declarou que era como escrever “História com luz e a única coisa que ele lamentava é que o filme mostrava era tudo terrivelmente verdade”. Hoje se diz que foi por causa do filme que a Ku Klux Klan renasceu e cresceu tanto. Mesmo os críticos e historiadores de cinema sempre deixaram de lado essa sua mensagem tenebrosa e racista. Spike Lee chegou quase a ser expulso da Universidade de Nova York por acusar os professores que defendiam o filme (que hoje em dia felizmente circula raramente, por razões óbvias).

Este novo filme rodado em 27 dias, conta a história real de uma rebelião que ocorreu em Southhampton, Virginia, em 21 de agosto de 1831, liderada por Nat Turner. Mas usa um truque de dramaturgia, mostra o brutal assalto que homens brancos que atacaram a mulher dele. A História mostra que Turner nunca teve uma mulher e há registros de que o dono de Nat o casou com uma escrava chamada Cherry (pode ser este não considerasse o casamento valido e por isso nunca o mencionou em seus escritos). Nat achava que sua rebelião era uma guerra sagrada e que era sua missão levantar-se contra seus opressores.

Então não confunda Nat, uma figura histórica que o cinema nunca teve coragem de mostrar antes, com Nate Parker, que estreia como diretor de longa com este filme, que investiu cem mil dólares dele mesmo no projeto. A canção no trailer é a celebre Strange Fruit de Billie Holliday (a canção de 37 era um protesto contra linchamentos) e o roteiro começou a ser escrito em 2009. As locações foram numa plantação entre Springfield e Clyo, na Georgia, 30km ao norte de Savannah.  

Nate nasceu em Norfolk, Virginia, em 1979, e teve certo sucesso como ator em filmes como O Grande Debate, dirigido por Sidney Poitier, A Vida Secreta das Abelhas, com Queen Latifah, Amor Fora da Lei, com Rodney Mara, Sem Escalas, com Liam Neeson e Julianne Moore, Amigos para a Vida, Nos Bastidores da Vida (que estranhamente foi indicado ao Oscar de canção em 2015, Grateful). Ou seja, era um ator bastante conhecido e que de repente se tornou um ídolo. Ou quase. Por que o conto de fadas teve um revés.

Dias antes do filme estrear oficialmente e com muita expectativa, explodiu a notícia já sabida por alguns, que Nate Parker havia sido acusado de estupro de uma mulher estudante em 1999. Ele e um colega, que aliás é amigo até hoje, foram presos e julgados, mas por uma série de confusões, ambos foram inocentados. A moça que continuou contra eles e em 2012 acabou se suicidando depois de lutar durante anos contra a depressão. Gabrielle Union que faz um dos papeis principais do filme e que foi na vida real também vítima de estupro (não de Nate) publicou na imprensa numa carta ao Los Angeles Times, também o rejeitou.

Parece que os advogados da Fox, o estúdio do filme e até mesmo Oprah Winfrey que conheceu Nate, lhe ofereceram ajuda e orientação jurídica, mas este recusou tomar qualquer posição insistindo que era inocente e que o caso já passou. Enquanto todos tentavam lhe pedir para que assumisse a culpa e pedisse perdão, que é normalmente a maneira dos americanos serem perdoados pela opinião pública. Ele recusou e recusa até hoje o que acabou provocando uma rejeição do filme, que chegou a render 15 milhões de bilheteria. Pior que isso é que acabou com as chances do filme ter uma boa carreira e até mesmo levar um Oscar (ainda mais com os contínuos escândalos de estupros provocados pelo comediante negro Bill Cosby).

E foi assim que o sonho acabou. E no caso brasileiro, a situação se complica ainda mais já que é uma triste e lamentável verdade o fato de que tradicionalmente filmes sobre negros, de trama política ou social ou dramática são sempre fracassos. Ação pode funcionar ocasionalmente. Comédia não tem problema e muitos humoristas (Whoopi, Eddie Murphy), deram certo. Mas nada de biografias musicais, dramas familiares e filmes sérios. Agora apoiar um filme como este cria um problema. Mais tarde voltamos a falar sobre suas qualidades e defeitos como cinema.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de “ramos Seis” de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionrio de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.

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