Ad Astra - Rumo as Estrelas

Embora o filme tenha sido elogiado em sua passagem pelo Festival de Veneza, as criticas t?m sido mistas

24/09/2019 18:46 Por Adilson de Carvalho Santos
Ad Astra - Rumo as Estrelas

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Desde seus primórdios “realidade” e fantasia co-existem nas telas. Tiros disparados, trens atravessando a estação e cowboys perseguindo diligências dividiram a atenção com a imagem da lua atingida por um projétil em “Le Voyage dans La Lune” (1902) do genial George Mélies, adaptando o texto de Jules Verne, um dos pais do gênero. Nos últimos anos o gênero tem explorado temas fantásticos imersos em temas mais dramáticos como a linguista que sofre a dor de ter perdido a filha em “A Chegada” e precisa estabelecer contato com seres de outro mundo. O novo filme de Brad Pitt também acentua a importância da comunicação, sendo esta a última esperança de salvação, de encontrar significados na existência humana, essência da ficção cientifica.

“Ad Astra – Rumo às Estrelas” nos leva a uma viagem muito além da lua, quando o astronauta Roy McBride (Brad Pitt) embarca em uma missão nos confins do espaço para contatar seu pai desaparecido (Tommy Lee Jones) cujo paradeiro de alguma forma se relaciona com estranhos picos de energia que ameaçam a vida na terra. Se por um lado a missão pode significar a continuidade ou o fim da vida no planeta; por outro, sua busca pelo pai que acreditava estar morto revela uma viagem mais sentimental, pessoal. Embora seja inevitável comparações com filmes como “Gravidade” e “Interestellar”, o filme de James Gray faz de seu roteiro uma releitura de “Coração das Trevas”, de Joseph Conrad, tal qual fez Coppola em “Apocalipse Now” (1979), mas trocando o Vietnã por uma roupagem existencial que remete a “2001 – Uma Odisséia no Espaço” (1968).

O filme não se apoia somente nas pretensões do roteiro de Ethan Gross e do próprio James Gray. A fotografia de Hoyte Van Hoytema, que trabalhou com Christopher Nolan em “Interestellar” e “Dunkirk”, combina de forma harmoniosa a vastidão do espaço com planos centrados em Pitt e nos outros personagens humanos. A sequência inicial em que o personagem de Pitt mergulha no vazio já impressiona, tanto quanto intriga ao tomarmos conhecimento que o mistério se encontra no distante planeta Netuno, local para o qual décadas atrás Clifford (Jones), o pai de Roy, se dirigiu como parte do Projeto Lima, que visava entrar em contato com vida extraterrestre. A cenografia e a direção de arte sabem como explorar os ambientes na lua e Marte, os locais de parada de Roy em sua odisseia, cada qual refletindo de forma apropriada reflexões filosóficas nas dimensões externas e internas na viagem do protagonista. O trabalho de Kevin Thompson (Birdman) consegue acentuar a aura claustrofóbica no interior da nave Cepheus e representar com realismo as possibilidades científicas. Outro momento igualmente empolgante é a sequência com os rovers lunares, baseados no design de veículos reais.

Brad Pitt tem uma atuação perfeita cercado pelos talentos de Liv Tyler e Donald Sutherland. O astro tem sido mencionado pela mídia internacional como um forte candidato ao próximo Oscar, o que é fortalecido por sua presença igualmente magnética no recente sucesso de “Era Uma Vez em Hollywood”, de Quentin Tarantino. Igualmente admirável é a direção de James Gray em sua primeira ficção cientifica, que nas palavras do próprio se propõe a mostrar a mais realista viagem espacial nas telas. O ritmo desigual da narrativa talvez seja notado; afinal de contas, apesar de algumas sequências de ação, o filme segue um caminho filosófico com metáforas e entrelinhas a serem percebidas pelo olhar clínico. Pitt, que por duas vezes antes já planejava trabalhar com Gray, incluindo no recente “Z – A Cidade Perdida”, que veio a ser estrelado por Charlie Hunnam, incorpora a busca do homem por seu criador, no caso o pai desaparecido. Os humanos almejam as estrelas, mas suas imperfeições os acompanham a cada passo, e o roteiro procura destacá-las a medida que McBride procura por suas respostas, sem imaginar como as mudanças que o afetarão.

Embora o filme tenha sido elogiado em sua passagem pelo Festival de Veneza, as críticas têm sido mistas, algumas exaltando a história e os méritos técnicos alcançados pelo filme, outras classificando o filme como banal ou pretensioso. O que é fato é que existem diversas ramificações em abordar questões existenciais e o texto de Conrad, que serve de base para o roteiro guarda muitas reflexões, muitas perguntas e poucas respostas que podem ser encontradas em uma viagem para as estrelas, como diz o nome em latim dessa produção que certamente não passará despercebida nas telas.

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Sobre o Colunista:

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com

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