Não pensem que elas gostam de dar entrevistas. Nos enormes contratos que assinam que lhes garante alguns milhões de dólares consta que elas participarão da divulgação e atenderão a imprensa de acordo com o pedido dos produtores. Praticamente ninguém escapa hoje em dia dessa exigência, ate mesmo os mais ariscos (Pacino ou De Niro). E nos últimos tempos com maior ênfase no mercado externo já que os filme de Hollywood hoje rendem mais fora do que dentro dos EUA.

Alias é por isso que elas começaram a vir ao Brasil, mais especificamente ao Rio de Janeiro (assim eles trazem também os repórteres da America Latina para o fotogênico Rio!). Alguns já viraram regulares, Will Smith e Tom Cruise (trazendo a péssima idéia de não fazerem coletivas mas dando cinco minutos de conversa na fila da pré estreia no cinema, onde só podem dizer lugares comuns). Não pensem que Brad Pitt e o novo Superman deixaram de vir por culpa de deles fugindo das passeatas, foram os estúdios e não eles que cancelaram suas vindas.

A entrevista vai depender sempre da importância do veiculo e não do repórter. Rede Globo sempre terá preferência e também os canais abertos. TVs por assinatura as vezes porque os estúdios em geral são sócios deles (Sony e Warner na HBO, Fox, Disney e outros do Telecine). Mas raramente a entrevista passa de 3 a 4 minutos e com frequência dividida entre duas pessoas, o que torna impossível uma boa conversa.

É verdade que os astros americanos já são treinados desde a escola ginasial para falar em público. São simpáticos, sorridentes, superficiais e sabem fazer piadas e são gentis por definição. Isso inclui mesmo estrelas que poderiam ser difíceis, mas por causa de seu perpétuo sorriso e boa vontade são queridos pelos jornalistas, o que por sinal pode lhes render frutos quando são indicados para prêmios de jornalistas como no caso do Globo de Ouro. Nicole Kidman, Angelina Jolie, George Clooney, o nosso Rodrigo Santoro são alguns desses preferidos.

Para ter acesso a eles porem é preciso seguir algumas regras precisas que os “publicistas” avisam antes. Nada de perguntas pessoais, ou sobre determinados temas (tipo algum filme que fracassou ou escândalo recente). Não adiante nem tentar porque correm o risco de nunca mais ser aceito para um junket de entrevistas e entram na lista negra dos estúdios. Não conseguirão nem fotos para revistas. É um tipo de censura sim, mas ou você topa ou fica fora desse tipo de atividade.

 Os melhores para entrevistar

Sempre gosto mais de quem tem algo a dizer de importante sobre a vida ou a temática do filme. Mas as tevês americanas não acham isso de tal forma que muitas vezes nem os diretores são convocados para a promoção do filme (embora eles que sabem o que é o filme, ou por que foi feito!). Resultado: um monte de bobagem! Os atores europeus são sempre melhores, mais informados e preparados, entendem de política e cultura. Mas também são mais arredios e tem medo de polemizar com os americanos. Vale quando você consegue um bom tempo de entrevista e o filme tem valor artístico. Já fiz excelentes entrevistas com gente como Jane Birkin, Emmanuelle Béart, a grande Liv Ullman mas certamente elas tem um menor público. Meryl Streep é uma das favoritas da imprensa, porque é simpática, acessível, bem humorada e se pressionada tem o que dizer. Helen Mirren é outra figura brilhante. Os homens por outro lado, como disse uma vez Helen quando vão envelhecendo vão ficando cada vez mais birrentos e sem paciência, virão rabugentos. Sim, Tom Cruise pode ser maluquinho, mas na entrevista é ponta firme, sorridente e faz tudo para te vender um carro novo (uma imagem, na verdade, quer se vender e o novo filme!). E agora que precisa de publicidade para seus filmes até mesmo Woody Allen da entrevistas que não escondem sua inteligência. Ah, sim. Todos concordam que Brad Pitt é um bom sujeito e uma simpatia.

Os piores

Uma vez ia entrevistar Robert Downey Jr quando caiu a luz do prédio e ele disse: Adeus America do Sul! Mas voltou depois quando foi preciso. Só que acabou falando cobras e lagartos de Hugh Grant que ele odeia. Isso é uma boa entrevista, quando tem com humor e coragem. Julia Roberts é famosa por não ter paciência e não gostar de conversar com mulheres, que por vezes trata muito mal. Ah, é bom lembrar que quando se faz entrevista para print, ou seja revista ou jornal (importantíssimo claro), fica como quem não quer nada, um agente de imprensa ouvindo tudo para ter certeza de que não estão falando nada proibido, nem o ator nem a gente. Os piores que já entrevistei foram sem dúvida os astros pretensiosos. Arnold Schwarzenegger é falso e nazista. Quando acende a luz da câmera ele começa a sorrir, quando para nem tem olha na câmera, por vezes vira as costas e ainda pede para ser coberto por seguranças! (caso raro). É mesmo um robot terminator, completamente falso e mecânico. Também detestei Kevin Costner que se comportou de forma arrogante e pretensiosa, talvez porque estava numa fase ruim, se separando da esposa e correndo atrás de garotas de vinte anos. De qualquer forma, essa atitude afetou sua carreira de forma que passou anos tentando voltar ao sucesso (o que só vem acontecendo agora na TV e como pai de Homem de Aço!).

Conclusão: A publicidade dos filmes é um caminho de ida e volta, interessa tanto as empresas jornalísticas que conseguem material exclusivo de gente famosa e divulgam com destaque filmes que serão sucesso internacional. Eles costumam levar jornalistas desses principais veículos para os junkets (as entrevistas em geral em Nova York ou LA), mas os jornalistas vão de classe econômica e voltam imediatamente depois (portanto é muito cansativo, mais dias o jornalista tem que pagar por si só). E no fundo estão todos fazendo seu trabalho, os estúdios vendendo seu produto, os atores cumprindo seus contratos e os jornalistas tentando trazer novidades atraentes para seus leitores. Mas para que tudo de certo tem outro porém: É melhor que o filme seja bom e faça sucesso. Quando não dá certo e fracassa, todos compartilham o desastre.