NA NETFLIX: Rebecca

A refilmagem de Ben Wheatley guarda ainda assim algumas diferencas ate mesmo de seu livro de origem

26/10/2020 13:28 Por Adilson de Carvalho Santos
NA NETFLIX: Rebecca

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Comparações são inevitáveis quando falamos de refilmagens, e quando além disso temos um clássico de Alfred Hitchcock, natural que seja recebido com descrença, o que não é o caso de “Rebecca” (2020) que chegou há alguns dias à Netflix.

Adaptado do romance da escritora britânica Daphne Du Maurier (1907 – 1989), a história acompanha a narradora (a sempre ótima Lily James), cujo primeiro nome nunca é mencionado, recém-chegada à mansão Manderley, seu novo lar depois de seu rápido casamento com o milionário Maxim de Winter (Armie Hammer), um viúvo jovem e sedutor cheio de mistérios, principalmente por se recusar a falar de sua falecida primeira esposa, Rebecca. Esta parece ainda viver nos infinitos cômodos e corredores da mansão Manderley, uma presença fantasmagórica alimentada pela intimidadora Sra Danvers, a governanta da casa. O tom gótico da história está presente em ambas as versões e o diretor Ben Wheatley sabiamente decidiu não imitar Hithcock, mas se aproximar mais do livro original, explorando o terror psicológico com habilidade para tratar de questões que em 1940 eram proibidas pelos códigos de censura. A química do casal formado por Hammer e James é nítida e mais profunda que Lawrence Olivier e Joan Fontaine na versão de 1940, justamente pela liberdade maior da atualidade para tratar de temas como amor, sexo, traição e morte. Kristin Scott Thomas reafirma seu papel vilanesco de forma respeitosa ao desenvolvido por Judith Anderson no clássico Hithcockiano, e que a tornou a 31ª maior vilã do cinema pelo AFI (American Film Institute).

O diretor Ben Wheatley conduziu muito bem o filme e em duas sequências específicas com grande estilo: a do baile em Manderley quando a personagem de Lily James é rejeitada pela escolha do figurino, uma armadilha elaborada pela Sra. Danvers, e a cena de revoada de pássaros por sobre a cidade em duas ocasiões que poderia ser entendida como homenagem a Hithcock que teve seu primeiro trabalho nos Estados Unidos com “Rebecca” em 1940, e que também dirigiu “Os Pássaros” (1960), outra obra literária de Daphne De Maurier.

A história de amor gótica da autora britânica ainda virou mini-série em 1979 e em 1997. Nesta última, o papel de Sra Danvers foi vivida pela recentemente falecida Diana Rigg (1938-2020). Tanto sucesso inclui uma polêmica envolvendo a autora brasileira Carolina Nabuco, autora do livro “A Sucessora”, publicado em 1934, quatro anos antes de “Rebecca”, e com quem guarda impressionante semelhança, tendo gerado acusações de plágio na época. A discussão rendeu matérias no jornal carioca “Correio da Manhã” e no New York Times pontuando as diversas coincidências entre os livros. Em 1978, o livro de Carolina Nabuco veio a ser adaptado pela Rede Globo com Suzana Viera e Rubens de Falco.

A versão de 1940, que completa agora 80 anos, ainda teve o mérito de ter sido o único filme de Hithcock premiado com o Oscar de melhor filme. Reza a lenda que Manderly, a mansão de Maxim de Winter, teria sido a inspiração para a Xanadu de “Cidadão Kane”, de Orson Welles.

A refilmagem de Ben Wheatley guarda ainda assim algumas diferenças até mesmo de seu livro de origem. A personagem de Lily James tem seu momento de virada na trama, quando na meia hora final assume um papel mais ativo na trama para elucidar o mistério da morte de Rebeca. Quando viaja a Londres para conversar com o médico que tratou de Rebecca, e entra no meio da noite no consultório, sua personagem ganha ares anacrônicos, mais em sintonia com o papel da mulher atual, carregando a narrativa em seus passos e conduzindo ao seu desfecho. Ponto positivo para a Netflix, que reapresenta a uma nova geração uma trama envolvente e que pode levar a redescoberta de outras obras literárias que poderiam ter uma releitura, que como o subtítulo do filme de 1940 as torna inesquecíveis.

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Sobre o Colunista:

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos

Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com

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