O Sicario - Terra de Ningum (Sicario)
Este drama confirma o talento inesperado do diretor canadense Dennis Villeneuve
O Sicario - Terra de Ninguém (Sicario)
EUA, 15. 121 min. Direção de Dennis Villeneuve. Roteiro de Taylor Sheridan. Com Emily Blunt, Josh Brolin, Benicio del Toro, John Bernthal, Victor Garber, Jeffrey Donovan, Raul Trujillo.
Concorrente em Cannes (mas não premiado) este drama confirma o talento inesperado do diretor canadense Dennis Villeneuve, que já tinha deixado boa impressão desde Incêndios, 10, Os Suspeitos, 13 e que deve fazer a próxima continuação de Blade Runner. Ele sabe encenar momentos de ação, movimentar sua câmera, criar tensão e suspense. Consegue também reunir um elenco excepcional, em particular a britânica Emily Blunt, que era ótima em comédia mas esta esplêndida aqui como a protagonista agente do FBI.
O problema dele porém é a dificuldade de tornar o filme mais claro e compreensível. O roteiro é assinado por um certo ator Sheridan em seu script de estreia. A impressão que eu tenho é que o diretor simples o desrespeitou e deixa o espectador perdido, ao deixar de explicar muita coisa. Baseio a impressão também por causa de um fato, no roteiro o personagem de Benicio Del Toro (em seus melhores dias, como rosto cansado, de gente insone, possível indicado ao Oscar de coadjuvante)se explica quem era e porque estava ali. Mas o ator teria convencido o diretor a cortar praticamente todas suas falas, de tal modo que ele sai como entra, sem deixar a gente saber quase nada sobre ele.
Ou seja, não é um novo Traffic (que alias deu Oscar a Benicio), embora se passe na mesma região no México (que poucos aqui sabem que consegue ser um pais ainda mais violento e corrupto do que nós!). O filme antes faz questão de deixar claro o que seria Sicário (que existe em português como assassino de encomenda) que teria sua origem na antiga Judéia. Emily faz Kate Mercer, a agente voluntaria e ingênua que de repente se vê envolvida numa missão de tomar uma casa semi abandonada só para ter o choque de descobrir cadáveres escondidos dentro de paredes eliminados por gente do Cartel de drogas, ampliando depois por uma inesperada explosão. Fica muito claro então que estamos na malfada fronteira entre Estados Unidos e México, para outra história de mexicanos que fazem qualquer coisa para tentar a sorte na America.
Mas a situação não é claramente explorada, ficando reduzida a discussões entre os diversos chefes de diferentes policias americanas e a sucessivas matanças desses caras em cima de bandidos categorizados. Aconselho você a desistir de entender muitas coisas e se deixar levar pelas situações altamente violentas e de grande impacto. Rodado ao custo de 30 milhões de dólares, o filme rendeu apenas essa quantia nas bilheterias americanas, justamente por ser tão confuso e tão forte. Mas não deixa qualquer dúvida sobre o talento do Sr. Villeneuve.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.