RESENHA CRTICA: Para o Outro Lado (Kioshibe No Tabi/Journey to the Shore)
O filme lento, cansativo, da poucas explicaes e deixa a impresso de no ser bem compreendido pelos ocidentais
Para o Outro Lado (Kioshibe No Tabi/Journey to the Shore)
Japão , 2015. 127 min. Direção de Kyoshi Kurosawa. Roteiro de Kurosawa baseado em livro de Kazumi Yumoto.Com Eri Fukatsu, Tadanobu Asario, Masaaki Akahori.
Este é o Kurosawa que não é parente do mestre Akira, mas já é bem conhecido dos que frequentam festivais, em particular a Mostra de São Paulo. Com longa carreira de 43 títulos (entre eles Sonata de Tóquio, Crimes Obscuros), este recente drama espiritualista ganhou no Festival de Cannes na mostra paralela Un Certain Regard o premio de melhor direção. Mas é bom deixar claro que não é para qualquer público, que se encantaria com a trama espiritualista ou um novo Ghost. O filme é lento, cansativo, da poucas explicações e deixa a impressão de não ser bem compreendido pelos ocidentais, menos informados.
Muita coisa fica na adivinhação. A heroína é Mizuki que perdeu seu marido afogado Yusuke há 3 anos mas que nem por isso fica surpresa. Aparentemente ele teria se matado e agora para chegar a outro lado tem que ajudar outros que são uma espécie de mortos vivos. O casal sai pelo interior do país, ele aprende a fritar “quyosas”, e viajar por lugares que eles acham bonito e onde ficam felizes. Mas é tudo passageiro porque a viagem terá que continuar até o outro lado. Os fantasmas não tem muito a ver com os ocidentais e seguem outras regras.
Cito agora o critico português Miguel P que diz: “Se Yusuke, estando morto, nunca difere da pessoa que era enquanto vivo, é porque o amor ou saudade de Mizuki o restituiu e o chama para últimas despedidas sem quase nada alterar na vivência do casal. É a morte assim tão diferente da vida?”. Parece que parte do problema é que o filme é baseado em um livro para mulheres românticas, ou seja, um romance para donas de casa. E por isso não perde o seu ar de evocar a eternidade do amor e do casamento mais do que questionar o que seria essa vida do outro lado, onde nunca se esconde ingenuidades e idealismos sobre a suposta "eternidade". E como conclui Miguel, “o lirismo mais embaraçoso passeia de mãos dada com a austeridade mais experimental”.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.