A Caminho do Oscar 2018
Rubens Ewald Filho começa a contar a história do prêmio do próximo ano!
Talvez seja um pouco cedo para começamos a fazer especulações sobre o próximo Oscar, ainda mais quando nunca chegou a ser muito esclarecida aquela confusa entrega dos vencedores deste ano. E duvido muito que isso mude. O fato é que houve uma mudança na direção da Academia, e sabemos muito pouco do novo presidente, que é o veterano diretor de fotografia John Bailey, de 74 anos e obra não tão famosa, a ponto de nunca ter levado um Oscar! (mas fotografou Feitiço do Tempo, Melhor É Impossível, Mishima, Silverado, A Marca da Pantera, num total de 84 créditos). Isso sucedeu também porque a favorita dos votantes, a excelente Laura Dern, recusou a escolha!
Ou seja, fica meio difícil prever o futuro e especular se a antiga política da ex-presidenta irá continuar. O que se pode afirmar sem medo é que Hollywood atravessa neste momento sua pior crise econômica, com a queda espantosa (as vezes de ate vinte e cinco por cento) de suas bilheterias. Mas ainda tem a sorte dos filmes de quadrinhos terem segurado a onda (enquanto as rendas delirantes que vinham da Rússia e da China, declinaram fortemente. E a farra parece ter acabado!). De qualquer forma, minha intenção é ir comentando os filmes que podem ter chance para a premiação conforme for assistindo e assim começarmos a ter uma visão mais curiosa do momento atual. E mais próxima do Oscar!
The Book of Henry: Era um dos favoritos da Imprensa, acabou massacrado. E pior: o seu diretor foi despedido de Star Wars!
Não preciso dizer isto para os fãs que começaram a perceber que estão estourando as crises por trás dos filmes da franquia Star Wars. A minha impressão é de que os herdeiros de George Lucas, achavam que bastava chamar os diretores mais jovens e ambiciosos, ou seja, o mais promissores e menos caros para virem realizar os filmes próximos e mais distantes da série. Naturalmente era uma premissa errada. Como bons jovens, eles queriam mais autonomia, mas também não estavam preparados, para segurar a pressão por parte de profissionais que muitas vezes tem quarenta anos de carreira e completa experiência. Há muito desafio a enfrentar, as pessoas são avessas a mudarem coisas que sempre deram certo e assim por diante.
Mas vamos por enquanto nos fixar no caso mais irônico e atual, que é o de Colin Trevorow (1976-, San Francisco). Fez curtas desde garoto, estudou cinema em Nova York e o primeiro longa para cinema foi (Sem Segurança Nenhuma (Safety Not Guaranteed, 12), comédia com Mark Duplass, Aubrey Plaza, que ganhou Spirit Award de primeiro roteiro, também em Sundance, prêmio de roteiro. É sobre três amigos empregados de uma revista que fazem uma viagem que colocou um anuncio para serem seus companheiros numa viagem espacial. Sim, ele passou no Brasil, mas só me ficou a impressão de que era moderadamente engraçado.
Enfim, o sucesso relativo levou Colin num pulo monumental para dirigir logo Jurassic World: o Mundo dos Dinossauros (onde fez também o roteiro), que ressuscitou a franquia e foi um enorme êxito (os produtores eram Steven Spielberg e seu parceiro Frank Marshall, sendo que a mulher deste Kathleen Kennedy é quem cuida de Star Wars). Mas não chegou a fazer o segundo filme o Jurassic: O Reino Está ameaçado (Fallen Kingdom), previsto para estrear apenas em Junho, sob a direção de outro desconhecido, o espanhol J.A.Bayona, que arrasou no brilhante mas pouco visto O Impossível.
De qualquer forma, Colin se achou que se devia realizar um filme mais modesto, mais pessoal, que certamente lhe desses prêmios. Chamou The Book of Henry (e ainda não sei a data de estréia no Brasil, custou 10 milhões de dólares e rendeu até agora pouco mais de quatro. E seu diretor deu uma entrevista que pode ser a chave de seu desastre, o roteiro já existia a vinte anos!). Vou transpor o resumo oficial da divulgação: “Às vezes as coisas não são sempre o que parece, especialmente na cidadezinha onde vive a família Carpenter. A mãe solteira e suburbana Susan Carpenter (Naomi Watts), trabalha como garçonete numa lanchonete onde também trabalha uma amiga da família Sheila (Sarah Silverman, conhecida como comediante de boatos, tentando aqui ser bem dramática). Seu filho mais novo Peter (o menino Jacob Tremblay de O Quarto de Jack) tem 8 anos, mas o mais velho, Henry de 11 anos (Jaeden Liebeher, que fez Um santo vizinho com Naomi) é responsável e cuida de toda a família. Além disso, a família vizinha e a jovem Christina têm um perigoso secreto e Henry esta tentando ajudá-la afastando um pai abusivo”
Se a história não parece promissora vai ficar ainda mais complicada. Vejam o que escreveu e só uma parte a crítica do New York Times, Manohla Dargis, “Tenho a certeza de que certa esqueci alguns dos clichés e ‘nonsense’ do filme, mas aqui está uma lista parcial: uma criança sensível e genial, uma família comicamente disfuncional, uma mãe solteira que não entende direito as coisas, uma empregada assanhada que tem uma tatuagem nos seios, feita por cômico famoso. Uma jovem adolescente vitimada, o predador que mora ao lado, pais agindo como criança, um incompetente mas não antipático diretor burocrata da Escola, uma diagnose fatal, um relógio que não para de clicar, uma corrida contra o tempo, um médico que é feito por um ator bonitão da TV, que só vem distrair tudo e uma estrela que merecia algo bem melhor!”. Isso tudo apenas na abertura, ela logo depois conclui: “um filme choramingas, um thriller, uma tragédia e um pastiche sub spielbergeriano”.
Utilizo a crítica do mais importante jornal do mundo simplesmente para ilustrar um fato muito mais comum do que se pensa, como as pessoas se iludem com projetos antigos achando que é um grande texto e que o mundo precisa ouvi-lo. Neste caso não acho que o massacre ao filme tenha sido alguma vingança contra o diretor novato. Ele certamente acreditava que a história a beira do ridículo, mal contada e antiquada, muitas vezes inverossímil, seria o filme que lhe traria o Oscar e a consagração já que blockbuster não ganha o prêmio. Tentou e errou brutalmente. Foi dispensado (assim como já sucederam outros, só que esses não tiveram um filme tão massacrado quanto este). Ressuscitar agora será um milagre.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de Éramos Seis de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionário de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.