OSCAR 2018: A Grande Jogada (Mollys Game)
O resultado discutvel, mais para experts em pquer e admiradores de Jessica Chastain, que consigam suportar o massacre da falao
A Grande Jogada (Molly´s Game)
EUA, 17. 2h20min. Direção e roteiro de Aaron Sorkin baseado em livro de Molly Bloom. Com Jessica Chastain, Kevin Costner, Idris Elba, Michael Cera, Jeremy Strong, Chris O´Dowd, J.C. Mackenzie, Brian D´Arcy James, Graham Greene (como o juiz), Justin Kirk, Samantha Isler (Molly jovem).
Não tinha me dado conta ainda como pode ser irritante e aborrecido um filme inteiro que tem o tempo todo uma voz narrativa em off! Ainda por cima um filme longo (duas horas e vinte de metragem como se dizia antigamente!). Já ouvi gente reclamar do abuso deste recurso não muito cinematográfico, mas nem tanto quanto neste caso onde é apenas uma voz feminina um pouco ácida demais, que está encarregada de contar em detalhes não apenas sua vida e estrepolias, mas principalmente porque também se dedica a descrever os detalhes de jogos de azar. Deixa eu esclarecer esse outro problema. Se você gosta de jogos de cartas, os chamados jogos de azar, é capaz que seja mais tolerante com esta história real que basicamente tem dois temas 1) uma moça chamada Molly Bloom que gasta quase o filme para manter-se ressentida e magoada com o seu pai (feito por um Kevin Costner bem envelhecido e mal-humorado). A mãe e os irmãos praticamente não aparecem, vá se entender porque. 2) por outro lado, ela entende muito de jogos de azar, carteado, tanto que é capaz de realizar jogos de pôquer com milionários, do qual ela ganha uma parte relativamente pequena para não despertar a atenção do governo, que pode achar que é jogo de azar e levar ela para a cadeia. Se for o caso de gostar desse tipo de jogo então o filme já se torna obrigatório para você.
Infelizmente não é meu caso, embora o filme se esforce muito para deixar tudo muito claro e relativamente acessível. Esta é a estreia na direção de um dos mais famosos e respeitados roteiristas da teve americana, o muito premiado Aaron Sorkin (que foi responsável por séries de sucesso como a peça Questão de Honra, O Homem que mudou o Jogo, West Wing, o roteiro do filme Rede Social, o filme Steve Jobs, a série The Newsroom, e outros menores). Com certeza é alguém que gosta muito de falar e tergiversar decifrando todos os detalhes até a mais pura irritação!
Não fosse isso, o filme que tem sido indicado para melhor atriz (outra menção para Jessica Chastain, que concorreu ao Oscar antes por coadjuvante por The Help, Histórias Cruzadas, 12, e Zero Dark Thirty/A Hora mais Escura, 12, e cinco indicações ao Globo de Ouro (com suas interpretações mais competentes que vem a ser A Most Violent Year/O Ano Mais Violento, 15, Miss Sloane/Armas na Mesa, 16 - provavelmente seu melhor trabalho e muito pouco visto!). Confesso não tinha maior simpatia pela atriz ruiva e de presença antipática, mas o tempo tem demonstrado que é capaz de crescer e ser versátil como aliás sucede neste filme. No mínimo uma indicação ao Oscar ela merece ter e parece uma questão de tempo que já está entre as melhores de sua geração.
O filme é bem curioso porque mostra ela como criança e depois adolescente, feita obviamente por outras atrizes, embora de tal maneira que nos deixa na dúvida no caso da “teen”. Muito editado, bem produzido, começa com o pai ensinando a garota a esquiar na neve (para competições de grande perigo), até que ela sofre acidente que lhe deixara marcas tanto no corpo quanto na sua relação com ele. É quando então resolve dar um jeito para fazer dinheiro sem ser ir para a cadeia (e o filme vai ficando cada vez mais picotado). Se houve romances e casos o filme não desenvolve esse lado, se contentando em transformar Miss Jessica numa sombra bem maquiada de Julia Roberts. Há dois detalhes curiosos. Este é o melhor momento no cinema americano do britânico Idris Elba - embora na verdade tenha sido rodado no Canadá! - que faz um advogado (fictício)que tenta resolver seu caso. Andou errando em outros projetos, mas aqui convence bem e o curioso é que a dupla tinha pouco tempo - apenas 10 dias - para fazer as diversas cenas de discussão e disputa entre eles, de forma que ficarem ensaiando durante todos intervalos, 45 páginas em 6 dias! Outro detalhe curioso, o ator famoso de cinema que no filme é vivido Michael Cera, na verdade é outro mais conhecido, o antigo Homem Aranha, Tobey McGuire. Outro: todos os que aparecem no filme são jogadores profissionais de pôquer. Além disso, Sorkin pediu a ajuda para um diretor que achava mais experiente que ele, no caso David Fincher.
O resultado então é discutível, mais para experts em pôquer e admiradores de Jessica, que consigam suportar o massacre da falação.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.