A Linguagem: Virtude e Limite de Bernardo lis
Bernardo lis talvez seja o principal nome da literatura goiana
Bernardo Élis talvez seja o principal nome da literatura goiana. Viveu basicamente no Brasil Central entre 1915 (ano de seu nascimento) e 1997 (ano de sua morte). É ali que produziu sua literatura bastante particular, onde temos dois romances, poesia, alguns contos, crônicas e ensaios. Foi advogado e sua vida forense deve ter influenciado sua escrita, há algo da solenidade de bacharel em seu texto, para bem ou para mal. Eu situaria sua ficção num limbo intermediário da literatura brasileira, a julgar por seu romance Chegou o governador (1987), que analiso abaixo; seu modo de frasear as coisas se diferencia do ramerrão de nossas letras, cria algum encanto mais ou menos original, mas às vezes estorva a fluência narrativa ou verbal pela utilização deste tom bacharelesco e um pouco demagógico do fazer literário.
Segundo Tristão de Athayde (pseudônimo do literato e crítico Alceu Amoroso Lima), “a obra de Bernardo Élis é de verdade social impressionante e uma criação linguística de uma beleza e de uma originalidade absolutamente singulares”. A sua verdade social se esvai um pouco em seus artifícios de narrar. A criação de linguagem tem seus achados de imponência. Com seu viés arcaico, Chegou o governador parece um pouco um discurso político popularesco, com seus refinamentos de um homem culto originário do interior remoto. O leitor depara com os aspectos trancados da narrativa ficcional, impedindo que personagens e tramas deslizem pela alma de quem lê; a linguagem meio oficiosa é um pouco um pedregulho em série, mas não tem como deixar de envolver-se, ao mesmo para quem ama os encadeamentos sintáticos, com orações assim:
“Aí o rio tinha uma caixa dilatada, pois o curso das águas incidia perpendicularmente sobre um gigantesco rochedo que o fazia desviar para o norte, enquanto formava um calmo e extenso rebojo. Logo ao chegar a vista do governador se aprouve com o espetáculo de diversos grandes barcos e muitas outras montarias e igarités que serenamente balançavam-se sobre as águas esverdinhadas que refletiam o céu profundo e o mato próximo.”
Sem ser nenhum Guimarães Rosa ou mesmo Mário Palmério, o goiano Bernardo Élis é uma considerável ligação entre a cidade literária e o Brasil rural longínquo e de onde todos, no fundo, viemos.
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a dcada de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicaes de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br