Projeto Gemini
Curiosamente o titulo original do filme ja foi usado por uma serie de Tv de 1976 que tinha a invisibilidade como tema, e nenhuma relacao portanto com a historia de Projeto Gemini
Seja um filme de romance entre dois cowboys em “O Segredo de Brokeback Mountain” (2005) ou uma aventura em alto mar com um jovem e um tigre em “As Aventuras de PI” (2012) o diretor taiwanês Ang Lee sempre se sobressaiu com um competente contador de histórias, passando por vários gêneros. Seu novo trabalho “Projeto Gemini” (Gemini Man) traz sua assinatura no campo visual, da ação desenfreada, mas não se equipara à perfeição conquistada em “O Tigre & O Dragão” (2000) mesmo trazendo um ótimo elenco com o super carismático Will Smith protagonizando em papel duplo.
O ex-maluco no pedaço interpreta Henry Brogan um assassino a serviço de uma agência governamental que decide se aposentar. O que ele não contava é que se tornaria ele próprio o alvo de uma conspiração que quer eliminá-lo e, pior ainda, seu algoz é um clone mais jovem dele mesmo. Henry precisa salvar-se de seu perseguidor capaz de prever todos seus movimentos, descobrir o que se esconde por trás da criação de sua versão junior, além de tentar salvar este das escolhas erradas que definirão seu destino. A ideia de um confronto dessa natureza não é exatamente uma ideia original, lembrando a premissa de “Star Trek Nemesis” (2002) onde o heroico Capitão Picard (Patrick Stewart) enfrenta um clone mais jovem de si próprio. A história de Darren Lemke, no entanto, é mais antiga, e desde 1997 já circulava entre os estúdios. Os nomes de Tony Scott e Curtis Hanson chegaram a ser cogitados para a direção com produção da Disney e o papel principal pensado para Arnold Schwarzenegger, Harrison Ford, Mel Gibson, Clint Eastwood, Sylvester Stallone e até Sean Connery. Como os efeitos de computação gráfica não estavam suficientemente avançados na época, o filme foi engavetado até recentemente cair nas mãos da Skydance Media com distribuição pela Paramount.
Não há dúvida quanto ao talento de Ang Lee como realizador, seja nas ótimas cenas de perseguição ou luta. Lee domina bem as possibilidades técnicas de sua narrativa, mas é perceptível que o roteiro final, feito e refeito várias vezes, deixa escapar possibilidades não exploradas no resultado final, ficando superficiais questões psicológicas na ligação entre o clone e sua matriz, preferindo focar na ação sem se preocupar que os clichês e estereótipos encenados não o diferenciam de outros filmes do gênero. Quando dirigiu “Hulk” em 2003, o diretor também falhou em explorar a complexidade psicológica de seu herói. Mesmo a questão da conspiração por trás de tudo fica simplista demais, sem grandes surpresas e não dando a atores do calibre de Clive Owen uma oportunidade de explorar melhor motivações e interesses. Algumas soluções são de grande previsibilidade na trama como “a alergia mortal a picada de abelhas” mencionada pouco depois de Henry eliminar um terrorista Russo.
O elenco também traz Mary Elizabeth Winstead, que em breve será vista como a Caçadora em “Aves de Rapina” (2020), no papel de Danny Zakarweski, aliada de Henry e Benedict Wong (o assistente do Dr. Estranho nos filmes da Marvel). Outro mérito técnico do filme de Lee, único diretor asiático a ter ganho o Oscar, é o uso de 120 quadros por segundo que torna a ação que desenrola à frente das câmeras de uma nitidez e ritmo impressionantes. O diretor já havia optado por essa definição nas filmagens de seu trabalho anterior, o drama de guerra “A Longa Caminhada de Billy Lynn” (2017), alcançando um efeito admirável com esse filme de ação que teve sua première no Festival Internacional de Zurique em 1º de outubro passado.
Curiosamente o título original do filme já foi usado por uma série de Tv de 1976 que tinha a invisibilidade como tema, e nenhuma relação portanto com a história de “Projeto Gemini”. Will Smith consegue carregar o filme por seu extremamente carismático em cena, mas fica algo faltando que justifique a frase de efeito que nos instiga a descobrir quem poderá nos salvar de nós mesmos. Vendo o filme ou um espelho partido de nossa própria natureza.
Sobre o Colunista:
Adilson de Carvalho Santos
Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com