RESENHA: Eu, Mame e os Meninos (Les Garons et Guillaume, Table!)
RESENHA: Eu, Mame e os Meninos (Les Garons et Guillaume, Table!)
Eu, Mamãe e os Meninos (Les Garçons et Guillaume, à Table!)
França, 13. Direção e roteiro baseado em peça de sua autoria: Guillaume Galliene. Com Galliene, Françoise Fabian, André Marcon, Nanou Garcia, Diane Kruger, Reta Kateb, Götz George, Brigitte Catillon.
Esta é sem dúvida a melhor comédia do ano e do Festival Varilux. Não é à toa que ganhou o César de melhor ator, melhor roteiro adaptado, montagem, filme de estreia , sendo indicado ainda para coadjuvante (a estrela dos anos 50, ainda bela Françoise Fabian, que faz a avó), som, figurino, diretor, o prêmio Lumiére de primeiro filme e melhor ator (o filme fez parte da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e ficou como finalista, mas um júri pretensioso não soube ver suas qualidades!). Também em Cannes, na Quinzena dos Realizadores, teve dois prêmios.
Não conhecia o autor Guillaume Galliene, que certamente deve ser importante porque junto de seu nome vem o titulo “membro da Comédie Française” (o grupo teatral oficial da França, especializado em clássicos). E olha que já esta em seu quinquagésimo filme. Também no filme da Varilux, Yves Saint Laurent (como Pierre Bergé), no ultimo Astérix (que se passou eu não soube), Confissões de um Jovem Apaixonado, O Concerto, Maria Antonietta, Um Lugar na Platéia, Sabrina de Pollack,em geral em papeis característicos e pequenos. Mas sua historia é contada de uma forma original, criativa (sem negar a origem teatral, ao contrario dando-lhe mais sabor dessa forma) e principalmente permitindo um show de interpretação do ator, ao ter a sacada de interpretar não apenas ele quando jovenzinho mas também sua própria mãe.
Embora possa ser classificado como filme gay, é certamente um dos que melhor sabe contar a história, que poderia ser trágica. Mas é muito engraçada. Vejam só: é uma autobiografia. O jovem Guillaume é criado por sua mãe (Maman)como se fosse gay. Não uma menina, que tivesse que usar roupas femininas. Não, gay, efeminado, nos maneirismos, na maneira de se vestir e se comportar. O problema é que ninguém conversa com ele, nem explica nada. O pai fica mudo, os parentes ajudam pouco (a avó é a mais aberta) e ele vai passando pela escola e crescendo sem entender direito, ou o que esta sucedendo. A história autobiográfica é diferente, porque vai no caminho oposto, não é como geralmente sair do armário, mas conhecer seu próprio armário e entender porque com tudo isso, ele ainda sente atração por mulheres.
Não procure filosofar, a maestria de Guillaume está em fazer os dois papeis na medida certa. Sem facilidade, sem desmunhecação gratuita para conquistar o público como se faz em telenovelas. Mesmo assim se torna frágil e adorável. Mas também a mãe dela, uma megera que não parece ter consciência sequer de ser um monstro manipulador. Claro que é a vilã, mas em momento nenhum uma figura odiosa como seus atos. Mas que o filme parece mesmo assim, amar e admirar (o titulo original inclusive é uma frase que ela dizia chamando todos à mesa, tomando o cuidado de nunca achar que Guillaume é um rapazinho!). O público francês o abraçou e consagrou. Espero que o mesmo suceda aqui.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.