Assim Caminha a Literatura Brasileira

Salvar o Fogo (2023), segundo romance de Itamar Vieira J?nior, por via de regra, tem sido recebido com as simpatias de seu primeiro livro

03/02/2024 02:46 Por Eron Duarte Fagundes
Assim Caminha a Literatura Brasileira

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O baiano Itamar Vieira Júnior é um dos nomes mais citados hoje em dia quando se alude à literatura brasileira. Mais ou menos o que foram, em outra época, em termos de reconhecimento nacional e internacional o também baiano Jorge Amado e o gaúcho Erico Verissimo. Como Amado e Verissimo, Itamar dialoga bem com o público de sua época; é bem verdade que na pulverização de espetáculos de nossa época (rádio, televisão, celular, internet) o atual escritor pode muitas vezes ser mais uma estrela que alguém de fato muito lido. A quem interessa a literatura neste multifacetado século XXI? Bons escritores podem amiúde ser convertidos em estrelas por uma sociedade cada vez mais espetacular: Conceição Evaristo, autora de um dos mais belos romances de nossa literatura, Ponciá Vicêncio (2003), é um bom exemplo; numa festa literária ela foi assediada por tanta gente que fica difícil imaginar que todos ali se dispusessem a acompanhá-la nesta sua rigorosa aventura narrativa. Itamar é uma estrela de nosso espetáculo literário, mas não tem o estofo da escrita que tem Conceição; como toda estrela, Itamar, em seu narcisismo, tem dificuldades com qualquer crítica à sua literatura.

Salvar o fogo (2023) é o segundo romance de Itamar. Por via de regra tem sido recebido com as simpatias de seu primeiro livro, Torto arado (2013). Ele reitera o desleixo de sua escrita, as facilidades de suas edificações de personagem, sua fonte de pasteurizações do romance brasileiro da década de 30 do século passado. A invenção das frases soa demasiado fácil: quase um sub-Jorge Amado. Desde seu início. “A ira do corpo se torna mais violenta em noite de lua cheia.” A imaginação do ficcionista Itamar escorre com fluência, é verdade. Herança simples de uma certa forma brasileira de contar histórias. Suas epígrafes começam por uma citação ao mexicano Juan Rulfo, circulam pelo brasileiro João Guimarães Rosa e desembocam na francesa Simone Schwartz-Bart. Itamar busca suas pistas por aí. Vai empilhando as situações espinhosas de suas personagens, tenta moldar criaturas de mulheres fortes que no entanto estão longe de marcar nossa retina de leitor. A despeito das facilidades de leitura para o público de hoje; navegamos por ali sem sobressaltos mas também sem consistência.

Prestigiado, bafejado, o signo literário de Itamar Vieira Júnior parece destinado a determinar caminhos em nossa literatura. É como se faz o espetáculo: com alguns signos. Resta ao observador saber se, de alguma maneira, por esses caminhos apostados, sairíamos da opacidade da escrita para textos capazes de pulsar. Um exemplo mais sanguíneo de ficção brasileira atual ambientada no povo mais sofrido, Os supridores (2020), de José Falero, que é no fundo um reestudo da própria linguagem popular que se opõe aos convencionalismos formais e linguísticos de Vieira Júnior.

P.S.: Este texto é uma visão particular nas alusões a um autor geralmente visto em outras bases. Só o futuro dirá o que poderá prevalecer; embora saibamos que nem sempre o futuro tem uma palavra final, a descoberta ou a releitura de obras do passado esquecidas pelo futuro em que vivemos, mostram o quanto a posteridade pode ter brechas equivocadas.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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