Um Sol no Cinema de Spielberg

Imperio do Sol aborda os aspectos das grandes guerras que marcaram o seculo XX

07/06/2024 02:36 Por Eron Duarte Fagundes
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O americano Steven Spielberg construiu sua fama cinematográfica ancorada em narrativas de grandes aventuras que adaptavam o cinema clássico das matinés para o paladar do espectador que costumava ir aos cinemas comerciais nas décadas de 70 e 80. Bafejado pelos bons ventos de seu tempo e por seu senso do cinema de espetáculo, Spielberg naturalmente enriqueceu. Hoje sua forma de fazer cinema fica um pouco à distância das aventuras ingênuas de seus primeiros anos, porém mantém o mesmo jeito de comunicação com o público. É o mérito mais acentuado de sua obra cinematográfica ao longo dos anos.

No entanto, seu filme mais consistente cinematograficamente é uma produção intermediária de sua filmografia, geralmente pouco citada. Império do sol (Empire of the sun; 1987), cujo roteiro Spielberg e seu roteirista Tom Stoppard foram buscar num romance, de características confessadamente autobiográficas, do escritor inglês J.G. Ballard, publicado em 1984. Certamente Império do sol traz todas as facilidades de construção narrativa e de personagens a que Spielberg acostumou suas plateias, gerando uma visão sempre simplificadora e estereotipada dos conflitos humanos encenados.

Ainda assim, Império do sol é uma saliência num terreno que até ali vinha dominado por coisas bastante pueris, como o tubarão ameaçador, as luzes estranhas dos seres vindos do espaço, os caçadores correndo na imagem, o pequeno extraterrestre da pieguice familiar. Passado o sucesso fácil a partir de Tubarão (1975), ciclo que parece fechar-se com E.T., o extraterrestre (1982), Spielberg tem-se voltado mesmo para tentativas de um cinema um pouco mais sisudo, como se vê de seu mais recente trabalho, Os Fabelmans (2022). Pela mão de Ballard, Spielberg vai aos inícios da II Guerra Mundial e surpreende um casal britânico com um filho pequeno em Xangai, China, no dia em que os japoneses ocupam a grande cidade chinesa; na confusão bélica, Jim, o pequeno filho, se perde de seus pais e mergulha num périplo estranho, onde alguns momentos de encenação simulam delírios surrealistas, mágicos mesmo.

Crianças perdidas na guerra já teve momentos históricos no cinema. O francês René Clement põe, em Brinquedo proibido (1952), um casal de crianças perdido, sem família, enfrentando os sobressaltos de entre-batalhas. O italiano Roberto Rossellini, em Alemanha, ano zero (1948), relata com profundidade o drama do garoto Edmund no seio dos cenários destroçados da Alemanha do pós-guerra. Em A infância de Ivã (1962) o russo Andrei Tarkovski debruça-se sobre as desventuras de Ivã para se desviar dos horrores dos nazistas no território soviético. É também um russo, Elem Klimov, quem radicaliza esta visão em Vá e veja (1985), em que uns olhos adolescentes se horrorizam diante das imagens que veem, imagens encenadas pela humanidade. Spielberg dá sua visão a Jim, a criatura que ele trouxe da literatura: comovente, superficial e singelo, como Spielberg sempre foi, mas agora mais célere em termos cinematográficos.

O elenco, para uma certa autenticidade (pois a história é inglesa), é basicamente britânico, desde o papel central, Cristian Bale aos 12 anos em sua primeira aparição no cinema. John Malkovich é a estrela americana entre ingleses, como Miranda Richardson. Outro dado de fundamental importância no filme é a música de John Williams, capaz de valorizar e dimensionar com brilho o poder das imagens.

Spielberg ainda voltaria ao tema da guerra em A lista de Schindler (1993) e O resgate do soldado Ryan (1998). Mas são filmes super-estimados. Menos badalado, Império do sol aborda os aspectos das grandes guerras que marcaram o século XX, o século do cinema, o século de Spielberg, o século deste comentarista.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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