RESENHA CRTICA: Labirinto de Mentiras (Im Labyrinth des Schweigens)
No chega a ser o docudrama que pretendia, nem tem o impacto que o tema e a denncia merecia
Labirinto de Mentiras (Im Labyrinth des Schweigens)
Alemanha, 14. 124 min. Direção de Giulio Ricciarelli. Starring Alexander Fehling, André Szymanski, Friederike Becht, Johannes Krisch, Johann von Bülow, Gert Voss, Hansi Jochmann.
Este é o representante oficial da Alemanha para o Oscar de filme estrangeiro, muito bem recebido na Mostra de São Paulo e melhor filme no Festival de Atenas, melhor ator no Bavarian Film Awards, prêmio do público em Les Arcs European Award. Teve cinco indicações ao Oscar local (German Film Awards, mas houve prêmio apenas para Gert Voss (póstumo, ele faz a figura chave do promotor Fritz Bauer). Por isso e por se tratar de um drama real sobre o holocausto ficou a impressão de que ele seria um forte candidato (já que a Academia aprecia particularmente esse tema), mas não me parece um rival a altura do favorito O Filho de Saul (distribuição da Columbia, aqui deve estrear em janeiro!). Curiosamente o filme é dirigido por um ator italiano, Ricciarelli, que antes tinha realizado apenas curtametragens.
A inexperiência dele é um fato negativo do filme, que conta uma história importante e sempre oportuna (inclusive para o Brasil onde se vive atualmente a fuga dos culpados e as jogadas para encobrir fatos vergonhosos). Não gosto das opções que ele tomou com o visual do filme, utilizou um estilo de fotografia e colorido da época, dos anos 50. Mas a direção de arte, o figurino, parece artificial e posado. Isso só se acentua ainda mais por causa da escolha errada do protagonista, que é um loiro duro e inexpressivo, cujo personagem na verdade é uma mistura de vários promotores que estiveram envolvidos no caso. Pensando bem nenhum ator do filme demonstra garra ou veracidade, enquanto o desenrolar da trama é altamente previsível. E repetitivo, já que ficam falando o tempo todo na captura de Mengele na Argentina que no final das contas estava sossegado no Brasil. Ou seja, o roteiro se repete e vai terminar da forma mais óbvia possível.
Sabe-se que os aliados fizeram um processo de "desnazificação" logo depois do fim da Segunda Guerra. Mas logo começou a Guerra Fria e outros assuntos foram mais urgentes e Berlim foi dividida. Nessa de esquecer o passado muitos criminosos nazistas que agiram em campos de concentração saíram incólumes e assumiram outras profissão, principalmente professores. Isso que levou então ao Julgamento de Frankfurt /Auschwitz que aconteceriam anos depois do inicio do filme, entre 1963-65.
Mas o filme começa em 58 com a figura de promotor jovem chamado aqui de Radmann que tenta investigar o caso e a única pessoa que lhe dá atenção é o Procurador Geral Fritz Bauer (Voss), que manda ele organizar um pequeno grupo e fazer a pesquisa para desenterrar velhos documentos e culpados. Embora tenha variantes românticas com uma modista para tornar o filme mais leve, não chega a ser o docudrama que pretendia, nem tem o impacto que o tema e a denúncia merecia.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.