RESENHA CRTICA: Mulheres No Poder
Com humor e certa ferocidade rara no cinema brasileiro o filme devasta Braslia e sem julgamento de moral
Mulheres No Poder
Brasil, 14. Direção de Gustavo Accioli.Com Dira Paes, Stella Miranda, Totia Meirelles, Milena Contrucci Jamel, Elisa Lucinda, Chica Xavier, Maria Helena Pader, Paulo Tiefenhaler, Roberto Maya, João Velho, Camilo Bevilacqua.
Uma pena que este filme tenha sido tão mal lançado, mesmo para o padrão baixo do cinema brasileiro (nunca tinha ouvido falar nele e era o único na sala que o exibia). Caiu vítima da falta de sorte, já que trata de um assunto que semanas antes seria palpitante, a presença e comportamento das mulheres em Brasília, em cargos oficiais, mais particularmente como deputadas e conspiradoras. Só que depois de tantos meses de conflagração poucos terão a paciência de conferir a comédia que não tem nada a ver diretamente com a presidenta recém saída e pode ser mesmo que provoque uma certa revolta entre as mulheres já que se fixa na ação delas em determinadas áreas do poder, mostrando com que ligeireza e habilidade elas são capazes de construir e destruir, se aproveitar de vantagens, negociar e corromper, sem o menor pudor.
Não conheço bem o diretor Accioli, mas assisti o longa anterior dele sempre com a Dira Paes, que era bem interessante, Incuráveis (05). Antes de tudo é preciso registrar minha continua admiração por Dira, que é certamente uma de nossas melhores atrizes. Aqui ela talvez esteja num ponto a mais, quase caindo na caricatura. Mas não chega a resvalar, apenas da um dinamismo a figura da política Senadora (conforme o resumo do próprio filme) Maria Pilar que vê uma grande oportunidade de ganhos na licitação do projeto Brasil Brasileiro. Após entrar em contato com a ministra Ivone Feitosa em busca de maiores informações, Maria é orientada a conversar com a secretária-executiva do ministério, Madalena, para acertar uma armação. Mal sabe ela, porém, que Madalena tem seu próprio plano para se dar bem sozinha.
Dira dá um show de interpretação em todos os tons (particularmente curti a dança que ela faz na festa!) e tem a sorte de estar bem cercada, por Stela Miranda que habitualmente vejo em musicais no teatro, saindo-se muito bem. Mas também por outras, que nem sei o nome e pelo prazer de rever o veterano Roberto Maya.
Com humor e certa ferocidade rara no cinema brasileiro o filme devasta Brasília e sem julgamento de moral descreve o submundo da política, até com certa coragem sem envolver partidos ou nomes explícitos. A crítica é geral e bem humorada. Nem por isso menos pertinente. Deveria causar polêmica e ter assim um público maior. Até porque não vai deixar de ser atual.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.