Na Netflix: Castelo de Areia (Sand Castle)

Importante para nós porque é o primeiro longa metragem deles dirigido por um brasileiro nos Estados Unidos, no caso Fernando Coimbra

24/05/2017 10:20 Por Rubens Ewald Filho
Na Netflix: Castelo de Areia (Sand Castle)

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Castelo de Areia (Sand Castle)

EUA, 17. 1h53min. Netflix. Direção de Fernando Coimbra. Roteiro de Chris Roessner. Com Nicholas Hoult, Logan Marshall Green, Henry Cavall, Tommy Flanagan, Glen Powell, Beau Knapp, Neil Brown Jr.

Esta é uma recente produção da Netflix, já disponível no Brasil que é importante para nós porque é o primeiro longa metragem deles dirigido por um brasileiro nos Estados Unidos, no caso Fernando Coimbra (que é amigo de José Padilha para quem dirigiu alguns - 2 - episódios da série Narcos, e que além disso Coimbra já dirigiu episódio para a nova série de TV Outcast). Ele ficou conhecido por aqui pela boa repercussão do longa O Lobo Atrás da Porta (13) com Leandra Leal, Milhem Cortaz, Fabiula Nascimento, Juliano Cazarré. Premiado em Havana, San Sebastian, Rio, Miami, era inspirado em fato real dos anos 60, apelidado de a “Fera da Penha”! A história deu origem a um filme hoje esquecido mas de qualidade que se chamou Crime de Amor (1965) e revelou Joana Fomm ótima como a mãe. A nova versão optou por outra leitura mais contemporânea, mais adequada a figura de Leandra Leal, com ar de anjo e comportamento de demônio e também um final mais aberto e cínico. Leandra começa a ter um casinho com um homem casado e pai de filha (Milhem Cortaz). Ela descobre onde ele mora e se infiltra na casa, se passando por sua mulher e provocando uma tragédia. Um primeiro longa digno de Fernando Coimbra.

Desta vez Coimbra parte para um filme de guerra do Iraque (Bagdad) que é uma história autobiográfica do roteirista Chris Roessner (na verdade seu único trabalho até agora e caso filmado na Jordânia). Quem faz o papel principal Marc é o jovem ator britânico Nicholas Hoult que marcou com Mad Max -Estrada da Fúria (15) , é o Beast do X Men, ex namorado de Jennifer Lawrence e sobrinho - descobri recentemente - de uma das mais populares atrizes da Inglaterra nos anos 40-50, Anna Neagle. Ele faz o protagonista que esta na missão no deserto que parece sem fim (sua primeira aparição no filme é quando tenta se machucar para ser liberado do conflito). Quando não consegue a dispensa, não sabe que caminho tomar, dividido entre lealdades.

Estamos em 2003, Marc é obrigado a participar de missão (não sem antes visitar o antigo palácio do Ditador Saddam Hussein) que é basicamente nos arredores de Bagdad quando forças norte-americanas acidentalmente destruíram canos que conduziam água para uma aldeia. Eles tentam ajudar, mas é uma situação complicada porque eles são recebidos com hostilidade, ataques de bombas e até brigas internas entre facções locais. Mas não há heróis, inclusive os soldados norte-americanos são todos mostrados de um ponto de vista positivo.

O filme embora lembre outros anteriores com o mesmo tema funciona especialmente bem na primeira parte quando vai se mostrando a ação dos soldados com a câmera steady-cam no seu encalço, com imagens fortes e marcantes, mas também ajudada pela música dos brasileiros do Sepultura. Cria-se um clima de amizade entre os soldados (o oficial Sargento Harper é feito pelo americano Logan Marshall, que o próprio admite ser a cara de Tom Hardy, o que sem dúvida o prejudica). Outra escalação de elenco mais curiosa ainda é a participação pequena que só rola depois de meia hora, quando surge o Capitão Syverson, que é interpretado por ninguém menos do que o Superman, Henry Cavill, que surge de barba, camisa esportiva, procurando ser um chefe humano e compreensivo (só há pouco descobri que Cavill é ator juvenil desde há muito tempo e pelo jeito não vai aprender nunca a ser mais expressivo e menos duro).

O protagonista é mesmo Hoult, um jovem que vem fazendo uma interessante carreira (tem dois filmes mais recentes, The Current War e The Favourite). Na verdade, o filme é construído em cima de sua personalidade, o soldado cheio de dúvidas e ambivalências, que ao mesmo odeia a Guerra e admira os dias brilhantes de sol no deserto.É importante e bem vindo que Coimbra esteja fazendo este pulo para produções internacionais, seguindo o caminho de outros realizadores brasileiros de carreira lendária como Fernando Meirelles, Hector Babenco e Waltinho Salles.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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