CENTENARIO DE O GAROTO DE CHARLES CHAPLIN
O primeiro filme de longa-metragem de Chaplin foi uma obra?prima
“Um filme com um sorriso, e talvez uma lágrima”, assim abre uma das grandes produções do cinema, que completou em janeiro desse ano 100 anos. Em um momento tão crítico por que não relembrarmos quem mais falou de esperança e alegria contra todas as adversidades, alguém como Chaplin, em um filme simplesmente chamado “O Garoto”.
A história começa com uma mãe abandonando seu filho no banco de trás de um carro. Quando o carro é roubado, o bebê é largado em juma ruela e encontrado pelo adorável vagabundo interpretado por Chaplin. Embora incialmente tente se livrar do bebê, ele se afeiçoa e o adota. Juntos, eles vivem em meio a pequenos trambiques até que, tempos depois, a mãe da criança, agora uma cantora de ópera bem-sucedida, resolve reaver a criança.
O primeiro filme de longa-metragem de Chaplin foi uma obra–prima equilibrando magistralmente emoção e humor, uma mistura que sempre foi característica da arte chapliniana. O forte apelo emocional tinha traços dickensianos, mas também estava enraizado na infância do ator. Criado na Londres vitoriana, levado para o orfanato quando sua mãe foi internada em hospital psiquiátrico, criado nas ruas onde conheceu a fome e a necessidade, o gênio que escrevia, produzia, dirigia e compunha a trilha sonora de seus filmes exorcizou todas as adversidades em seus filmes. A química com o garoto Jackie Coogan, então com 7 anos, era nítida mesmo fora das telas. Chaplin levava Jackie para o parque de diversões e outros passeios todo domingo durante várias semanas em um período de filmagem que durou 5 meses e meio, longo demais para um filme do período. Ainda havia outras nuances na amizade entre ambos, uma vez que Chaplin havia perdido um filho e estava se divorciando de Mildred Harris, sua primeira esposa, nos meses de filmagem de “O Garoto”. Jackie se tornou o primeiro astro infantil do cinema, antes mesmo de Shirley Temple (1928-2014), ganhando muito dinheiro do qual nada usufruiu. Sua mãe e padrasto gastou todos e seu dinheiro, levando a um processo judicial sem precedentes. O resultado foi a criação do “Coogan Bill”, uma lei de proteção aos astros mirins. No entanto, as despesas judiciais foram altamente custosas, e foi Chaplin quem, mais tarde, estendeu a mão para ajudá-lo financeiramente. Em 1964, Jackie ganhou mais fama como o tio Funéreo do seriado “A Família Adams”.
São vários os momentos memoráveis do filme, como as cenas em que o garoto atira pedras nas janelas para que Chaplin conserte-as ganhando dinheiro para seu sustento. Divertido, quando o guarda persegue ambos, e Chaplin parece assim reviver seu próprio passado, adquirindo tons autobiográficos que conferem ao filme um sentimentalismo envolvente.
Aclamado pelos críticos em seu lançamento, o filme teve a bilheteria de sua estreia revertida para caridade. Cinco anos antes de sua morte, Chaplin realizou uma remontagem, removendo algumas cenas, que acreditava não estar mais em sintonia com o público da época, além de compor uma nova trilha sonora. O filme ainda manteve admirável impacto, e mesmo hoje quando o famigerado rotten tomatoes atribuiu uma rara nota 100 para o filme. Um triunfo ímpar de um filme não falado, mas que se comunica com o público em imagens, rostos e gestos capazes de despertar emoção, e assim como a filmografia de seu realizador, fazer renascer a esperança, transformar lágrimas em risos e risos em lágrimas. Nesses tempos atuais, tudo de que precisamos.
Sobre o Colunista:
Adilson de Carvalho Santos
Adilson de Carvalho Santos e' professor de Portugues, Literatura e Ingles formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela UNIGRANRIO. Foi assistente e colaborador do maravilhoso critico Rubens Ewald Filho durante 8 anos. Tambem foi um dos autores da revista "Conhecimento Pratico Literatura" da Editora Escala de 2013 a 2017 assinando materias sobre adaptacoes de livros para o cinema e biografias de autores. Colaborou com o jornal "A Tribuna ES". E mail de contato: adilsoncinema@hotmail.com