Quem diria que já se passaram 17 anos desde que Sam Raimi nos fez balançar pelos edifícios de Nova York nas teias de Tobey Maguire. De lá para cá tivermos um total de seis filmes, uma animação premiadíssima no Aranhaverso e três interprétes disputando a preferência dos fãs, imprimindo em nossas mentes a mesma sensação de Christopher Reeve voando em 1978, fazer de um personagem das páginas em quadrinhos alguém real, tridimensional, de carne, osso e teias.

 O filme que serve de epílogo para a fase 3 do Universo Cinemático Marvel traz de volta o britânico Tom Holland aos 23 anos que iniciou o papel por breves momentos em “Capitão América : Guerra Civil” (2016), brilhou em “Homem Aranha De Volta Ao Lar” (2017), além de participar com destaque em “Vingadores : Guerra Infinita” (2018) e “Vingadores. Ultimato” (2019). Holland trouxe um frescor juvenil ao papel vestindo com perfeição o manto do poder e da responsabilidade tecido por Stan Lee (1922 – 2018) e Steve Dikto (1927 – 2018) desde “Amazing Fantasy #15” de agosto de 1962. Inicialmente desacreditado pelo editor Martin Goodman que publicou o personagem nas páginas de uma revista cuja tiragem era insatisfatória e estava marcada para cancelamento iminente. Desde então, provando que perdedores conseguem mudar o rumo de suas vidas e se tornar grandes vencedores, o personagem caiu no gosto dos leitores que se identificaram com a história do orfão Peter Parker, criado por seus tios e nada popular entre os colegas de escola. Ao ganhar seus poderes, Peter inicia um processo de amadurecimento que novo filme está relacionado à morte de Tony Stark, seu mentor, no final de “Vingadores Ultimato”.

Com uma galeria de vilões que rivaliza com a do Batman quanto ao apelo diante do público, o roteiro de Chris McKenna e Erik Sommers coloca Peter Parker e seus amigos em uma viagem pela Europa quando o surgimento de criaturas baseadas nos 4 elementos coloca o cabeça de teia ao lado de Mysterio (Jake Gyllenhaal), que alega ser de uma terra de outra dimensão. O personagem surgiu pela primeira vez em “Amazing Spider Man #13” (Junho de 1964), e sempre deu bastante trabalho para o Homem Aranha por sua habilidade de criar ilusões convincentes graças a seu passado como ex dublê e especialista em efeitos especiais. Antes de assumir o nome de Mysterio, Quentin Beck foi um dos homens do vilão Consertador em “Amazing Spider Man #2” (Junho de 1963). Gyllenhaal assume o papel curiosamente depois de ter sido cogitado para substituir Tobey Maguire como Homem Aranha. Outros personagens coadjuvantes, famosos nas histórias do herói, tem passagens pelas telas como Flash Thompson (Tony Revolori), Betty Brant (Angourie Rice), além de MJ (Zendaya), Tia May (Marisa Tomei) e Ned (Jacob Batalon), responsável por vários momentos cômicos. O retorno mais divertido, no entanto, fica reservado para a primeira das duas cenas pré créditos (NADA DE SPOILERS) que encerram o filme.

As criaturas elementais emulam poderes de outros adversários dos quadrinhos originais como o Homem-Hídrico, Homem Areia e Magma (Molten Man), fazendo de suas incursões pura diversão. O filme está cheio de caras conhecidas como Samuel L.Jackson (Nick Fury), Cobbie Smulders (Maria Hill) e Jon Favreau (Happy Hogan) conectando 22 filmes anteriores do MCU. Nos quadrinhos Peter Parker já teve histórias passadas em outros países como Londres em “Amazing Spider Man # 95”, Terra Selvagem em “Amazing Spider Man #104” entre outras, sempre lidando com situações limites ao tentar fazer bom uso de seus poderes, mesmo com todas as atribulações, e sempre despertando identificação em vários leitores, como esse que escreve. Sua popularidade atravessa décadas e passa por várias versões em desenho animado, e uma série de TV de curta duração na segunda metade da década de 70, que chegou a ter o piloto exibido nos cinemas brasileiros, com Nicholas Hammond (Intérprete de Friedrich, uma das crianças da família VonTrapp no clássico A Noviça Rebelde) de 27 anos, o primeiro ator a fazer o papel do alter ego do herói aracnídeo. A produção era muito pobre e não aproveitou praticamente nada do material original: nada de supervilões (o orçamento não permitia), os famosos coadjuvantes das HQs (Mary Jane, Harry Osborn, Flash Thompson...) não apareciam exceto por J.Jonah Jameson (o editor do Clarim Diário, jornal para o qual Peter trabalha como freelancer). Até mesmo a bondosa Tia May não é mais que uma mera ponta no filme. Curiosamente, o filme que foi feito para a tevê e exibido com sucesso nos cinemas brasileiros (não apenas o piloto, mas também, em 1978 houve a compilação de dois episódios duplos que também passaram nos cinemas brasileiros “Homem-Aranha Volta a Atacar” (The Deadly Dust) e “Homem-Aranha & O Desafio do Dragão” (The Chinese Web), todas verdadeiras pérolas para quem é fã do herói.

O novo filme vem no embalo de muita expectativa pois além de encerrar um ciclo, prepara o terreno para uma nova fase. Somos leitores que torceram pelo herói amigão da vizinhança, choraram por Gwen Stacy, se apaixonaram por Mary Jane, deram risadas com as tiradas de J.Johan Jameson, enfim, somos todos Peter Parker.