O Mais Belo Horror Literario
Pelo que se le em Dracula (1897), o romancista irlandes Bram Stoker foi um criador de genio


Pelo que se lê em Drácula (1897), o romancista irlandês Bram Stoker foi um criador de gênio. Por uma destas curiosidades da história literária, em Drácula se cruzam todos os ingredientes do sucesso duradouro: o sabor narrativo, a criatividade da linguagem e uma série de signos (o mito do vampiro, as artimanhas daquele mundo gótico, símbolos, símbolos) que passaram à posteridade e hoje em dia o leitor identifica com coisas bem conhecidas. Ainda assim, uma releitura de Drácula, após tantos anos de estereótipos, especialmente divulgados pelo cinema, traz um prazer estético inconfundível: e perene, com certeza, como ler Dostoievski ou Tolstoi.
Por quê? Porque ali, nestas páginas densas e sombrias, está a natureza do homem, seus fantasmas, suas demências, que é o que parece ter interessado mesmo à grande maioria dos escritores fundamentais ao longo dos séculos. Estruturado sob forma indireta (relatos, diários, cartas), entregando as vozes narrativas diretamente às personagens, Drácula torna complexa todas as relações que nos acostumamos a ver, em filmes, com certo automatismo previsível.
Envolvendo-se às vezes em um erotismo de poesia e controle, Harker no castelo ameaçador e sedutor do Conde (“senti então o trêmulo e macio toque dos lábios molhados sobre a supersensível pele de minha garganta, de mistura com as cortantes serrilhas de seus fortes dentes, que agora pareciam repousar ali”), avançando para reflexões que se valem da ciência de sua época mas no texto em momento algum parecem datadas (“possuísse eu ao menos o segredo de uma mente deste tipo e teria em minhas mãos a chave das fantasias científicas até um grau comparável com o qual a Filosofia de Burdon-Sandersen ou os conhecimentos psiquiátricos de Ferrier nada mais significariam”, diário do Dr. Seward), Drácula é um multirromance. Ousado, permanente: a despeito dos desgastes de todos os seus símbolos e invenções. Ao lê-lo, esquecemos todas estas derivações.
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)


Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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