RESENHA CRTICA: Gata Velha Ainda Mia
Rubens Ewald Filho exalta o trabalho das timas atrizes neste bom filme nacional
Gata Velha Ainda Mia
2014. Direção e roteiro de Rafael Primot. Com Regina Duarte, Barbara Paz, Gilda Nomacce. 89 min.
Este é um momento ruim para lançar filmes brasileiros por causa das salas lotadas com blockbusters (mais chegando) e a proximidade da Copa e suas consequências. Mas este é um filme particular, de baixo orçamento (realizado num único set, pedaço de um apartamento, financiado pelo Canal Brasil) e que não se preocupa em esconder a narrativa televisiva (não faz nem um único plano externo). Seu maior trunfo é a rara presença estrelar de Regina Duarte madura, que sempre foi uma boa atriz que nem sempre teve as oportunidades de demonstrar seu talento. A facilidade com que interpreta em particular na televisão, dominando o veiculo, a deixou sempre num segundo plano no cinema apesar de alguns bons trabalhos (Além da Paixão). Menos do que merecia.
Seu retorno agora é conduzido por um diretor talentoso, Rafael Primo (agora Primot), que anos atrás me chamou para fazer uma aparição num curta dele, Manual para Atropelar Cachorro, que me deixou bem impressionado.Desta vez ele envereda num drama que coloca em conflito duas mulheres. Carol (Barbara Paz, boa atriz, outra subestimada) é uma jornalista que vem entrevistar uma escritora, Gloria Polk (Regina), que foi famosa feminista e que agora esta preparando um retorno com novo livro depois de ausência de anos. Só depois que descobrimos que elas são aparentadas, já que Carol vive com o ex-marido de Gloria, a quem deu um filho (Gloria teria três filhos mais velhos que são apenas citados e uma ligação afetiva com outra mulher que não é desenvolvida. Seu problema atual é encontrar um final para seu livro e exercitar seu talento para cozinhar comidas exóticas).
As conversas entre elas (com muitos closes) segura bem o espectador, mas Primot não resiste a tentação de citar seus filmes favoritos (de Gata em Teto de Zinco Quente a Crepúsculo dos Deuses, só que os escritores que ficaram menores não os atores). Pior que isso envereda pelos caminhos de Baby Jane, caindo num terror duvidoso.
Não acredito que o final seja satisfatório e teria preferido um pouco mais de humor no caldo. Regina foi escolhida melhor atriz no Festival do Rio do ano passado e com toda razão e justiça. Agora que façam para ela outro filme e personagem maior que a vida, que Regina merece.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.