Buster Keaton - O Homem Que Trouxe as Novidades

O humor nos filmes de Buster Keaton era moldado em cima de gags visuais; corridas, quedas, fugas

19/02/2018 15:56 Da Redação
Buster Keaton - O Homem Que Trouxe as Novidades

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O cinema surgiu em 1895, mas o cinemão como conhecemos, começou a ser desenvolvido em torno de 10 anos depois (enredo, gênero, longa metragem). Somente no final dos anos 30 o cinema passou a ser falado. Então, é justo afirmar que gênios do cinema nasceram e se firmaram em um território inexplorado. Suas grandes sacadas eram colocadas na tela sem que nunca ninguém tenha visto algo parecido. Assim, grandes nomes como Chaplin, Harold Lloyd e Buster Keaton se destacaram.

Neste contexto, entra "O Homem das Novidades". O título em português não poderia ser mais feliz, pois se refere às notícias que o personagem persegue nas ruas e também significa as novidades, no sentido de inovação, que Keaton deixou como legado.

No filme, ele interpreta um fotógrafo que, para se aproximar da bela secretária do cinejornal da MGM, troca sua câmera fotográfica por uma câmera de cinema e se torna um cinegrafista. O filme discute o cinema e a relação entre ficção e realidade no momento derradeiro do cinema mudo, através de organização caótica dos elementos.

A produção foi um dos maiores sucessos de Keaton, tendo sido produzido pela MGM (primeiro do ator no estúdio). Mas por incrível que pareça, isto foi péssimo para Keaton, pois ele perdeu o controle criativo das produções, tendo que aceitar roteiros impostos pelo estúdio. Isto, obviamente, influenciou o final de sua carreira, que foi marcado por depressão, alcoolismo e uma acusação de adultério vinda de sua primeira esposa. Keaton disse que a mudança foi tão prejudicial em sua carreira que na sua autobiografia ele intitulou um capítulo de "o pior erro da minha vida", se referindo ao acordo da MGM. Keaton acabou sendo demitido em 1933, após os problemas pessoais (bebida, por exemplo) afetarem drasticamente seu comportamento no estúdio.

O humor nos filmes de Buster Keaton era moldado em cima de gags visuais; corridas, quedas, fugas. Uma das grandes inovações de Keaton, no entanto, é o fato de sua comédia se basear num personagem calmo e obstinado, que mantém a mesma expressão durante todo o tempo. Isto lhe proporcionou um dos apelidos mais famosos do cinema: “O homem que nunca ri”, que é certamente citado em qualquer matéria que o envolva. Keaton percebeu que ao não modificar sua expressão, o espectador projetaria nele suas próprias aspirações. Gênio não? A MGM usou o filme para treinar novos roteiristas, exaltando-o como uma "comédia perfeita" por décadas...

Mas, voltando ao filme. O personagem de Buster se chama... Buster. Com isto, ele (ator) se insere no filme de forma pessoal, nos mostrando a visão do mundo pela arte, dizendo que ambas se confundem. E afirma que o cinema pode ser espelho da verdade, ao mesmo tempo que conta mentiras em prol da narrativa ou de um objetivo (político, social...). O cinema é uma forma direta de se conectar com o público e neste sentido, Keaton traça um paralelo com a câmera, mostrando que ela pode ser o obstáculo (em muitas situações ele torna isto explícito no filme) para a comunicação ser verdadeira ou não. É uma forma genial de mostrar, por exemplo, o controle que a MGM estava exercendo sobre seus filmes. A câmera é o filtro, e mostra a vida pelos olhos do "Cameraman" (título do filme) e propositalmente, Buster se coloca como personagem para tentar fazer a ponte com a realidade.

O filme foi considerado perdido, destruído em um incêndio na MGM de 1967. No entanto, uma cópia completa foi descoberta em Paris em 1968. E anos depois, outra cópia, de qualidade muito maior (embora faltando algumas imagens), foi descoberta em 1991. As duas foram combinadas em uma versão que agora está disponível.

Ahh....

Uma observação final importante, que mostra o poder destrutivo que o estúdio pode ter sobre a vida de seus astros: a MGM queria que o filme terminasse com um sacrilégio: Buster sorrindo. Seria a destruição do mito que Buster criou em torno do seu sorriso. E seria a forma mais clara possível de demonstração de poder dos estúdios. Essa cena foi filmada e testada. Claro que o público odiou e o sorriso nunca foi revelado...

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Sobre o Colunista:

Marcus Pacheco

Marcus Pacheco

Marcus V. Pacheco é jornalista, formado na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Cinéfilo, Editor de site, Colecionador e Escritor. Marcus já realizou vários curtas metragens e um longa chamado "O último homem da terra (2001)", baseado no conto de Richard Matheson. Escreveu também 30 e-books sendo 29 sobre cinema e um de ficção que está em fase inicial para publicação. Criador e editor do site "Tudo sobre seu filme (http://www.tudosobreseufilme.com.br/)" onde publica críticas, listas, aulas de cinema e curiosidades do mundo da 7ª arte há 4 anos, além de realizar entrevistas com atores, diretores, críticos e colecionadores do mundo todo.

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