A Histria do Cinema: Os Cem Primeiros Anos Parte 2

Na segunda parte da matria, vamos detalhar o sistema de Estdios na chamada Idade do Ouro de Hollywood

26/11/2014 12:31 Por Rubens Ewald Filho
A História do Cinema: Os Cem Primeiros Anos Parte 2

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Hollywood e o Sistema de Estúdios

 

Hollywood era uma região de Los Angeles que acabou simbolizando toda a indústria do cinema americano. A partir de 1912, os produtores de cinema começaram a se mudar para a região oeste dos EUA por várias razões: para escaparem das brigas pelas patentes, da censura imposta pelas autoridades de Nova York, mas, principalmente, por que no oeste chovia muito pouco e havia sol constante e paisagens diversas, o que possibilitava a rodagem das fitas sem ter que sair do estado. O lugar também foi escolhido porque ficava perto da fronteira mexicana (para onde podiam fugir em caso de problemas). A paisagem permitiu também a rodagem de faroestes de grande popularidade (com astros como Tom Mix, Bronco Billy e William Hart) e, nas cidades, as comédias de pastelão. O fato é que deu certo e Hollywood passou a ser mais um estado de espírito do que um local.

 

 

Não se sabe quem foi o publicitário que teve a ideia de criar o termo Star (Astro ou Estrela) para designar os atores de cinema famosos (o ator chega ao status de Star, quando o seu nome aparece antes dos letreiros do filme. Este fato provoca brigas, especialmente quando dois astros famosos fazem um filme juntos, discutem o tamanho das letras e qual o nome vai aparecer primeiro nos letreiros e cartazes). Mas, certamente nasce de uma alegoria, onde a indústria do cinema é um céu estrelado com diversas estrelas de diferentes magnitudes. Uma metáfora que foi abraçada pela própria indústria (a Metro, o maior dos estúdios, dizia ter mais estrelas do que o céu).

Inicialmente, os produtores eram relutantes na escolha dos atores de um filme, porque tinham certeza de que se tornassem famosos, eles pediriam mais dinheiro. A imprensa se encarregou de identificá-los ao público que os abraçou como ídolos. Já se disse que como nos Estados Unidos não existe realeza, então os astros de cinema assumiram esse papel na sociedade, como modelos de comportamento, moda, beleza, perfeição etc. Criou-se uma mitologia em que esses atores famosos viviam numa espécie de Olimpo (a morada dos deuses, segundo a mitologia grega), como semideuses, diferente dos meros mortais.

Como num Conto de Fadas, uma pessoa desconhecida poderia ser descoberta tomando sorvete, contratada por um estúdio e se tornar uma estrela rica e famosa (como diz a lenda, sucedeu-se com Lana Turner, encontrada na Schwabbs, em Hollywood). Os primeiros grandes astros ajudaram muito a formar esta mitologia, com Douglas Fairbanks (astro de fitas de ação e capa-espada, na vida real um autêntico atleta) e Mary Pickford (especializada em papéis de menina ingênua). Casados na vida real, compraram uma mansão chamada Pickfair (inicial dos nomes deles), onde recebiam príncipes, nobres e chefes de estado do mundo inteiro. E numa época, onde a comunicação entre os povos era mais lenta, figurinos serviam de modelo para a moda no mundo inteiro.

O importante é que por causa dessas estrelas, criou-se o chamado Star-System (o Sistema de Estrelas). Os produtores se organizaram em estúdios que eram basicamente grandes fábricas de fazer filmes. Tinham grandes galpões para as filmagens (os estúdios, propriamente ditos), protegidos de ruídos externos, com ar condicionado, grande altura para se poder construir cenários gigantescos e tudo o mais que fosse necessário. Por que filmar em estúdio? Porque só assim se tem o controle absoluto do tempo, da luz e das condições. Numa filmagem exterior, o tempo pode mudar a cada minuto (chove, faz sol, os rios mudam, a floresta cresce), o que provoca perda de tempo e prejuízos, já que não se pode ter continuidade (num plano, o céu pode estar sem nuvens, no seguinte, que seria rodado alguns minutos depois, carregado de nuvens). Assim, eles optaram por recriar tudo em interiores, onde poderiam inventar o que desejassem. Tinham também uma infraestrutura para se construir cenários (sets) impecáveis, com marcenarias, serralherias e serrarias próprias. Além de um estoque de material (tudo o que era utilizado num filme poderia ser reaproveitado em outro, criando um acervo monumental).

Um estúdio tinha como contratados, toda uma equipe fundamental: maquiadores, cabeleireiros, roteiristas, diretores, cenógrafos, coreógrafos, músicos, compositores, cantores, bailarinos, etc. Todos ganhando semanalmente um salário (nos EUA é costume o pagamento ser semanal) que poderia ser aumentado anualmente ou a cada renovação. Mas, era um sistema complicado porque o estúdio tinha o direito de renovação. Ou seja, um contratado não podia pedir demissão ou aumento, o estúdio é quem decidia se queria ficar ou não com o empregado. E esse contrato nunca tinha menos de sete anos.

Com o tempo, começou a ser contestado nos tribunais a legalidade deste tipo de contrato, que mais parecia uma prisão. Ainda mais porque quando alguém recusava um trabalho (um roteiro que certamente seria fracasso), era suspenso, não recebia pagamentos e o tempo que ficasse parado seria acrescentado ao contrato, ampliando-o. Estrelas, como Bette Davis e Olivia de Havilland, brigaram contra este tipo de tratamento e acabaram ganhando, depois de muita luta. Esse contrato de sete anos era para todos, mas principalmente para os atores, que muitas vezes eram descobertos no palco, ou mesmo através de fotografias, submetidos a testes e só eram contratados se aceitassem esse tipo de semipressão. O estúdio poderia obrigá-los a fazer o filme que desejasse (os rebeldes podiam ser castigados com fitas inferiores que diminuiriam o seu prestígio). Em troca, o estúdio cuidava de tudo: treinava o ator, dando-lhe aulas de equitação, esgrima, dança, canto, voz e arte dramática. Mandava fotografias dele à imprensa (de graça), que as publicava regularmente. Emprestava roupas, arrumava encontros publicitários, transformava um desconhecido em um grande nome internacional. E, ainda por cima, abafava algum escândalo que ele tivesse cometido.

Este sistema de estúdios vigorou de meados dos anos vinte até o começo da década de sessenta, justamente a chamada "Idade de Ouro" de Hollywood.

 

 

Os Estúdios

Em 1917, a produtora Famous Players se uniu com a Paramount, nascendo a primeira "Major" - o primeiro grande estúdio que levou o nome de Paramount e tinha como chefe Adolf Zukor (1873-1976). A segunda, seria a Metro Goldwyn Mayer, formada a partir da Metro Pictures (do exíbidor Marcus Loew), que se fundiu com a Goldwyn Pictures (de Samuel Goldwyn que, logo depois, saiu da sociedade e acabou se tornando um dos principais produtores independentes de Hollywood), chamando para dirigir o novo estúdio Louis B. Mayer (1885-1957), que seria o chefe de produção e responsável pelo estúdio, até começo dos anos cinquenta. Nasciam assim, os dois primeiros grandes estúdios, cada um deles com características diferentes.

Metro Goldwyn Mayer

Já falamos de sua origem. Sob a direção de Louis B. Mayer, a Metro era a Globo de seu tempo. Tinha as estrelas mais famosas, as instalações mais luxuosas (hoje em dia, seus estúdios são ocupados pela Sony Columbia, em Culver City), fazia os filmes de maior prestígio e empenho. Mayer gostava de filmes para a família e que defendessem os bons valores e senso comum (como as fitas da família de Andy Hardy-Mickey Rooney - extraordinariamente populares nos anos quarenta). Ele gostava de aventura ingênua (era o estúdio do Tarzan, feito por Johnny Weissmuller, e da Jane, de Maureen O'Sullivan, sem esquecer da chimpanzé, Chita), era anglófilo (gostava de tudo que era inglês, para isso contratava estrelas inglesas, como Greer Garson e Deborah Kerr), adorava musicais (e a Metro fazia os melhores de sua época: alguns operísticos, sob o controle de Joe Pasternak, que lançou Jane Powell e Kathryn Grayson; outros, pura opereta, com a popularíssima dupla Jeanette MacOonald e Nelson Eddy; outros, para jovens, com Rooney e Judy Garland; e até os de balé aquático com Esther Williams). Mas, o melhor produtor de musicais era Arthur Freed (1894-1973), que reuniu em torno de si os maiores diretores, como Vincente Minnelli, Stanley Donen e Charles Walters; compositores, como Cole Porter e o próprio Fred, que é o autor da trilha de Cantando na Chuva; e, principalmente, atores-dançarinos-cantores, como os geniais Fred Astaire e Gene Kelly, além de Judy Garland, Cyd Charisse, Debbie Reynolds, Howard Keel etc.

Também na Metro se fazia comédia anárquica (Irmãos Marx, depois Red Skelton, O Gordo e o Magro/Stan Laurel e Oliver Hardy), filmes românticos (Greta Garbo, a Divina, era exclusiva do estúdio), dramas femininos (Joan Crawford, Norma Shearer), comédias sofisticadas (como as da série Thin Man - no Brasil, Os Acusados - com William Powell e Myrna Loy). Era o estúdio do chamado Rei de Hollywood (Clark Gable, que adquiriu o título numa votação pública e o título pegou), da cachorra Lassie, de Elizabeth Taylor, Wallace Beery, da dupla Spencer Tracy e Katharine Hepburn, do astro do cinema mudo Lon Chaney. Curiosamente, não produziu E o Vento Levou, apenas o distribuiu, por causa da presença de Gable. O responsável pelo filme foi Oavid O. Selznick. Seu símbolo célebre é o leão rosnando com o emblema Arts Gratia Artis (A Arte pela Arte).

A partir de 50, caiu Mayer e entrou Moss Hart, mais intelectualizado, procurou temas mais difíceis. A concorrência com a televisão ficou forte demais em meados da década, e a Metro foi forçada a dispensar o seu elenco. Sobreviveu até o começo dos anos 70, quando foi comprada por Kirk Kerkorian, que teve a infeliz ideia de investir em hotéis em Las Vegas e liquidou seu acervo, vendendo em leilão o passado ilustre. Os filmes da Metro foram vendidos para Ted Turner, que os relançou em vídeo e em seus canais a cabo (nos anos noventa, eles passaram para a Warner como parte da fusão da Turner com a Warner). A Metro se fundiu com a falida United Artists e continuou a produzir, ainda que com menos regularidade, frequência e sucesso. A Metro de hoje nada tem a ver com o seu passado. Embora sua marca seja muito forte, a ponto da Disney tê-la comprado como franchising, quando abriu um estúdio para turistas na Flórida, nos anos 80. A Metro teve ainda a participação do produtor Irving S. Thalberg (1899-1936) que, apesar da vida breve, criou um padrão de excelência na produção, de tal forma que o prêmio para produtores na Academia de Artes e Ciência de Hollywood, hoje, leva o seu nome. Casado com a estrela Norma Shearer, Irving supervisionava os filmes mais ambiciosos do estúdio até sua morte.

 

 

 

 

A Paramount (Pictures Corporation)

O estúdio tem como símbolo a montanha gelada e, hoje, pertence ao conglomerado Viacom (do qual fazem parte também a MTV e as locadoras Biockbuster). Foi basicamente uma criação de Adolph Zukor, que começou com cinema de feira (nos chamados Nickelodeon, onde você via filmes por um nickel, dez centavos) e fotografando peças teatrais (inclusive, com Sarah Bernhardt, a mais famosa das estrelas do palco). A Paramount sempre teve um ar europeu sofisticado, servindo de lar para imigrantes da Áustria e Alemanha, muitos deles judeus.

Produzia entretenimento sofisticado, com ênfase em estrelas como Marlene Dietrich (que veio da Alemanha junto com o seu mentor, o diretor Josef Von Stemberg; era para ser rival de Garbo, mas virou um mito próprio, numa série de fitas de grande beleza, a partir de O Anjo Azul); Rodolfo Valentino (italiano de nascimento, foi o primeiro grande ídolo romântico - o latin lover, amante latino - que morreu prematuramente em 1926, aos 31 anos); a dupla Bob Hope (comediante) e Bing Crosby (cantor ou crooner, altamente popular) que fez uma série de comédias, chamada “Road To” (Estrada para ... ); trazendo sempre Dorothy Lamour (famosa por seu tipo exótico e seus sarongs); Alan Ladd (louro, baixinho e que fazia tipo durão em fitas policiais, geralmente, em dupla com Veronica lake, que ficou famosa pelo cabelo louro caído na testa de um só lado, que foi super popular nos anos 40); musicais, com Maurice Chevalier e outras fitas sofisticadas, dirigidas pelo mestre do gênero Ernest Lubitsch e, depois, por seu sucessor e aprendiz, Billy Wilder (na Pararnount, foi roteirista e também fez clássicos, como Crepúsculo dos Deuses/ Sunset Boulevard).

Também era a casa de Cecil B. De Mille, o mais eficiente realizador de super espetáculos, em geral, bíblicos, de Claudette Colbert, Fred MacMurray, do começo dos Irmãos Marx etc. Comprada nos anos 60, pelo conglomerado GulflWestern, conseguiu manter uma dose de filmes famosos (Os Chefões, Love Story, Indiana Jones, Grease e Top Gun), se firmando como um dos estúdios mais estáveis de Hollywood.

 

 

 

 

United Artísts (Corporatíon)

Formada em 1919, pela união de um diretor (Griífith), um comediante (Chaplin) e dois astros (Pickford e Fairbanks) como Artistas Unidos, com a intenção de distribuir seus próprios filmes e de outros independentes, como Sarnuel Goldwyn e David Selznick. Em meados dos anos vinte, Joe Schenck foi trazido para dirigir a companhia e, com ele, vieram outros atores (Valentino, o comediante Buster Keaton, Gloria Swanson) e produtores (como Howard Hughes, que fez Scarface, Anjos do Inferno). Teve problemas de produção nos anos trinta e quarenta, mas se recuperou com o cinema independente dos anos cinquenta, com a ajuda dos Irmãos Marx, abrigando cineastas e atores que desejavam maior liberdade, distribuindo filmes como As Aventuras de Tom Jones, Sete Homens e um Destino, Um Estranho no Ninho, Rocky, as fitas de James Bond etc. O estúdio literalmente faliu e foi forçado a se unir a Metro, depois do fracasso de O Portal do Paraíso (Heaven's Gate, 80), um faroeste massacrado pela crítica. Era o único estúdio que não tinha uma linha ou característica própria, nem mesmo uma marca ou um logotipo notável. Apenas abrigava produtores independentes, em busca de liberdade, mais ou menos como acontece hoje em dia em quase todos os estúdios.

 

 

Universal Pictures

Fundado em 1912 por Carl Laemmie, um exibidor que virou produtor, teve prestígio como Universal City, abrigando filmes famosos de Eric Von Stroheim, Valentino e Lon Chaney. Em 1920, produziu o vencedor do Oscar Sem Novidade no Front, depois ficou famosa como a "casa dos monstros", por ter feito os marcantes filmes de Drácula (com Bela Lugosi) e Frankenstein (com Boris Karloff), ambos no começo dos anos trinta (o estúdio registrou a maquiagem dos personagens e hoje ninguém pode usa-Ia sem pagar à Universal). Mas, Laemmie perdeu o poder e o estúdio empobreceu, fazendo fitas de baixo custo e estando sempre à beira da ruína. Foi salvo várias vezes pelos musicais operísticos da jovem Deanna Durbin; pelas comédias dos popularíssimos humoristas vindos do rádio, a dupla Budd Abbott e Lou Costello; pelas comédias de Francis, o Mulo Falante com Donald O'Connor.

No começo dos anos 50, a Universal Pictures foi a primeira a fazer acordos com astros, dando-lhes participação na bilheteria e liberdade criativa, principalmente para James Stewart (junto com o diretor Anthony Mann). Ao mesmo tempo, foi o primeiro a explorar o filão dos turistas, abrindo seus sets para a visitação. O negócio cresceu tanto que acabou abrindo uma filial na Flórida (o estúdio funciona normalmente em Los Angeles e os turistas passeiam pelos sets antigos). Enquanto os outros estúdios venderam seus backlots, ou seja, o terreno que eles tinham nos fundos, onde filmavam as cenas externas ou de ação, a Universal transformou o lugar em parque de diversões com grande sucesso. Foi também o último dos estúdios a largar o Sistema de Estrelas, mantendo sob contrato, jovens que treinava (de onde saíram Harrison Ford e Chnt Eastwood), muitos deles tornaram-se astros, como Tony Curtis e Rock Hudson, O produtor Ross Hunter atraiu estrelas, como Lana Turner e Doris Day, numa série de fitas para o público feminino nos anos cinquenta, e fez fitas para jovens, com a ídolo Sandra Dee.

Foi na Universal, que Spielberg aprendeu sua profissão, estreando na direção aos 21 anos e onde instalou sua produtora Amblin. Em 62, o estúdio fundiu-se com a agência MCA Music Corporation of América, sendo depois vendida para os japoneses e hoje está nas mãos da Seagram's. Foi também o primeiro dos estúdios a produzir séries e telefilmes para a TV, com enorme êxito.

 

 

20th Century Fox

Até a chegada da Dreamworks, era o mais novo dos estúdios e o único a ter como sua marca uma famosa e eficiente fanfarra, ainda que seu nome fique marcado (seria a Fox do século Vinte e com a virada do milênio não pensou em mudar). Foi formada em 1935, pela união da Twentieth Century Pictures, de Joseph Schenck, e a Fox, de William Fox. Ambos de longa carreira na exibição e produção, a nova companhia tinha como diretor geral Darryl F. Zanuck, que vinha da Warner e que se manteve no cargo de 35 a 52, deixando depois em seu lugar, o filho Richard Zanuck (que fez Tubarão, mas na Universal). Retomou ainda em 62, quando o estúdio entrou em crise com Cleópatra, salvando-o da bancarrota, com a fita O Mais Longo dos Dias, que produziu pessoalmente. Foi Zanuck quem impôs o estilo ao estúdio, ele gostava de louras (Alice Faye, Betty Grable - a mais popular garota para os pracinhas, durante a Segunda Guerra -, Marilyn Monroe); de filmes em Tecnicolor (o colorido do estúdio era considerado o melhor); de aventuras com Tyrone Power e Don Ameche. Havia também a atriz infantil mais popular de todos os tempos, Shirley Temple, que fez todos os grandes filmes de seu apogeu para o estúdio (embora Zanuck nunca tenha gostado dela).

Depois da Segunda Guerra, o estúdio foi o primeiro a fazer os chamados filmes com problemas (Problem Pictures), abordando temas então proibidos como a loucura mental (Na Cova das Serpentes/The Snake Pit), linchamento (Consciências Mortas/The Ox Bow lncident), racismo (O Que a Carne Herda/Pinky, A Luz é para Todos/Gentlemen's Agreement), embora já tivesse ousado abordar a pobreza em Vinhas da Ira (Grapes of Wrath, 40), de John Ford. Diante da concorrência com a televisão, foi o primeiro estúdio a recorrer da tela grande, produzindo todos seus filmes pelo sistema de Widescreen, chamado Cinemascope (desde "O Manto Sagrado"/"The Robe", 53). Pertence hoje ao milionário australiano Rupert Murdoch, que tem investido em canais de TV, mantendo boas ligações com George Lucas, distribuindo a série "Guerra nas Estrelas".

 

 

Warner Brothers Pictures lnc.

Depois da Metro, era o maior dos estúdios. Só que se a Metro fazia filmes para a família, a Warner se endereçava para a classe trabalhadora, com fitas falando sobre as manchetes do dia-a-dia (gangsters, FBI e emancipação feminina), realizadas com muito claro/escuro, narrativa rápida e direta (e, por isso, que resistiram tão bem ao tempo). Era uma firma de família, fundada em 1923, pelos quatro irmãos Warner, que estavam no negócio de exibição. Não tinham grande importância até que resolveram arriscar, numa novidade chamada cinema sonoro (com Don Juan, em 1926), e depois com o primeiro filme falado, o ruim mas inovador O Cantor de Jazz (The Jazz Singer, 27) em que AI Jolson, não apenas cantava, mas também dizia algumas palavras improvisadas. O sucesso foi tão espetacular que revolucionou toda a indústria, que foi obrigada a adaptar às salas e aos sets de filmagens (precisaram ser blindados contra os ruídos).

A Wamer fazia ainda musicais com Jolson, e depois com o fantástico criador de coreografias, Busby Berkeley. Para falar os diálogos, precisaram contratar os atores da Broadway, conseguindo um elenco que foi explorado ao máximo (o estúdio era o menos glamurizado, todos trabalhavam duro, como numa fábrica, chegando a fazer sete filmes por ano). Produziam filmes de gângsters com James Cagney, Humphrey Bogart, Edward G. Robinson, George Raft, John Garfield (o governo reclamou da ênfase que davam ao crime, então, atores passaram a fazer homens do governo, os chamados G. Men), dramas que mostravam a ascensão das mulheres no mercado de trabalho (com Ann Sheridan, apelidada a Oomph Girl; Bette Davis, a maior estrela do estúdio; sua rival, Joan Crawford, vinda da Metro; Barbara Stanwyck, que era mais free lancer). O estúdio era variado, tinha o cachorro Rin Tin Tin, os capa espadas e aventuras de Errol Flynn (geralmente, em parceria com Olivia de Havilland) e dramas biográficos. Foi o primeiro estúdio a ter coragem de denunciar o nazismo, numa época em que os americanos preferiam ficar neutros.

Foi na Warner onde realizaram o seu filme símbolo: Casablanca - típico produto da Hollywood da época. Dirigido pessoalmente por Jack Warner (que ficou no estúdio até meados dos anos 60, tendo feito musicais como My Fair Lady e Camelot, no fim de carreira). Vendido depois para Seven Arts, em 89 foi absorvido pela Time (que virou Time Warner), que manteve desde então uma administração estável e bem sucedida. Seu símbolo sempre foi um escudo com as letras WB, mas sofreu diversas modificações para retomar as origens a tempo da festa dos 75 anos, em 98.

 

 

Columbia Pictures

Junto com a Universal, era considerado o mais pobre e menos importante dos grandes estúdios. Fundado em 1914 por Harry Cohn, que o dirigiu até sua morte, era um estúdio de praticamente um único diretor (Frank Capra, que fez todos os seus melhores filmes para o estúdio, até os anos quarenta) e uma única grande estrela (Rita Hayworth, a Deusa, e depois sua sucessora Kim Novak).

Chamado de Poverty Row pelos inimigos, o estúdio abrigava Os Três Patetas, as produções independentes de Stanley Kramer, as comédias para Judy Holliday. Não tinha um estilo, mas de vez em quando ganhava Oscars (A Um Passo da Eternidade) até com os filmes de David Lean (Lawrence da Arábia e A Ponte do Rio Kwai). Através da produtora Screen Gems, foi um dos primeiras a produzir para a TV, principalmente séries (inclusive, no Brasil foi pioneiro em dublar filmes). Em 1990, a Columbia Pictures foi comprada pela firma japonesa Sony, que pagou 3.4 bilhões pela companhia.

Seu símbolo e logotipo sempre foi a tradicional mulher segurando a tocha. Tem um estúdio irmão dos mesmos donos, a Tri-Star (com o cavalo alado correndo como logotipo), que acabou tendo sua direção unificada nos anos noventa.

 

R.K.O. Pictures

Foi o primeiro dos grandes estúdios a fechar. Começou em 1921, com a união das empresas Radio Corporation of America, com o circuito de exibição chamado Keith Orpheum. Seu símbolo era uma grande antena de rádio soltando sinais. Foi o mais liberal dos estúdios ao dar liberdade de criação para os diretores, de tal forma, que foi onde Orson Welles produziu aquele que é considerado o melhor filme de todos os tempos (Cidadão Kane, 41).

Famoso também por melodramas românticos, com Irene Dunne, os nove musicais que Ginger Rogers e Fred Astaire co-estrelaram no estúdio (em geral, com cenários brancos e canções compostas por Porter, Gerswhin e Berlin), os filmes de terror estilizado do produtor Vai Lewton. Katharine Hepburn foi sua maior estrela no começo dos anos trinta, mas também teve King Kong, filmes de John Ford (Fort Apache), Hítchcock (Suspeita) e Cary Grant. Distribuía nos EUA os filmes da Disney, Selzníck e Goldwyn. Em 1948, foi comprado pelo milionário Howard Hughes que o destruiu aos poucos (mas, ainda fazia filmes para seus favoritos, como Robert Michum, Jane Russell e Faíth Domergue). Em 53, foi vendido para a Desilu, a firma de Desi Arnaz e Lucille Ball (que faziam na TV o seriado l Love Lucy). O irônico é que Lucille foi contratada do estúdio e despedida por eles, dando a volta por cima. Seu acervo pertence a Ted Turner, ou seja, Warner.

 

 

Outros Estúdios

 

Disney

Nunca foi considerado um estúdio por se dedicar exclusivamente à produção de desenhos animados, que eram raros e ocasionais. No começo dos anos cinquenta, começou a produzir filmes com atores e programas para a televisão. Tinha uma distribuidora própria, chamada Buena Vista, mas só após a morte de Walt Disney, em 66 (ele tinha se dedicado mais à criação de parques, como a Dlsneylandia e a Disneyworld), que se diversificaram, criando outras marcas subsidiárias, a Touchstone (para filmes mais adultos), a Hollywood e comprando a distribuidora e produtora independente Miramax. Hoje é uma das mais bem sucedidas produtoras de Hollywood, enquanto continua a produzir desenhos, até alcançar a meta de lançar um novo por ano.

 

Samuel Goldwyn (1882-1974)

Famoso produtor independente que começou em 1910 e sempre fez questão de manter sua liberdade, trabalhando com projetos especiais para seus atores, contratados com exclusividade: Gary Cooper, Miriam Hopkins, David Niven, Merle Oberon, Danny Kaye, Virginia Mayo, Teresa Wright, Farley Granger e Ann Sten (que tentou transformar em estrela, em vão). Também contratou, exclusivamente, o diretor William Wyler, que fez seus filmes mais famosos, como Os Melhores Anos de Nossas Vidas, O Morro dos Ventos Uivantes e Pérfida (The Uttle Foxes). Famoso por suas frases e sofismas, faleceu em 74, depois de se dedicar, no fim da carreira, à produção de musicais ("Porgy e Bess" e "Guys and Dolls"). O filho Jr. também se tornou produtor.

 

David O Selznlek (1902-65)

Responsável por E o Vento Levou, também famoso por descobrir e manter em contrato, emprestando para os estúdios e assim fazendo dinheiro, sua mulher Jennifer Jones (a quem roubou do marido Robert Walker), Louis Jourdan, Alida Valli, o diretor Alfred Hitchcock, Joan Fontaine e Gregory Peck. Trabalhou para a RKO de 31 a 33, depois para a Metro, fundando sua firma em 36, onde fez fitas clássicas como Rebecca a Mulher Inesquecível e Quando Fala o Coração, ambas de Hitchcock. Além de muitas para a mulher Jenniífer (O Retrato de Jennie) e o clássico O Terceiro Homem.

 

Dreamworks

Desde a criação da Fox ninguém mais tentava abrir um novo estúdio em Hollywood. Produtoras independentes tentaram produzir regularmente (como a Orion, Cinergi etc.), mas sempre falharam. Mas em 1994, Steven Spielberg, certamente o cineasta mais bem sucedido de todos os tempos, anunciou a criação de um estúdio, inclusive com instalações próprias (ainda que não no velho sistema de contratos). Ele se associou ao milionário David Geffen (que fez fortuna com música e antes produziu cinema para a Warner) e a Jeffrey Katzenberg (que era chefe de produção na Disney), capitalizando o estúdio em 4,5 bilhões de dólares.

Usando como logotipo o menino pescando e a meia lua, o novo estúdio começou mal com O Pacificador (The Peacemaker, 97), de Mimi Leder, e a co-produção com a Paramount, Impacto Profundo (Deep lmpact), da mesma diretora. Até Spielberg errou com Amistad (Idem, 97), que segundo eles, foi o único a perder dinheiro realmente. Em 98 o estúdio começou a acertar com uma série de TV, Spin City, com Michael J. Fax, o sucesso do desenho animado Formiguinhaz (Antz) e de O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan), de Spielberg. Lançou em 98 um novo desenho (O Príncipe do Egito). Seus filmes são distribuídos internacionalmente pela UIP (consórcio da Paramount, Universal e MGM UA).

 

(Texto publicado originalmente em 1998)

 

A HISTÓRIA DO CINEMA - PARTE 1

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de “ramos Seis” de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionrio de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.

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