Perdidos Pelo Planeta Vermelho

O interesse por Marte nas artes é antigo, veja alguns exemplos

30/09/2015 09:58 Por Adilson de Carvalho Santos
Perdidos Pelo Planeta Vermelho

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Curiosa coincidência que a NASA tenha anunciado nesta segunda feira passada a comprovação de que há água em Marte, pouco antes da estreia do novo filme de Ridley Scott que nos levará ao quarto planeta da via Láctea. Antes que a ciência real o fizesse, a literatura e o cinema já haviam nos levado ao planeta que foi batizado com o nome do Deus Romano da guerra devido a sua coloração avermelhada feito sangue, resultado da predominância do óxido de ferro em sua superfície árida. Apesar de ser o segundo menor planeta do sistema solar, sua aproximação maior da Terra sempre atraiu a atenção de observadores e escritores cuja fértil imaginação o elegeram vilão de diversas histórias de ficção científica.

Edgar Rice Burroughs, o criador de Tarzan, fez da superfície marciana um tipo diferente de selva para o herói John Carter em uma série de contos pulps a partir de 1912, milênios depois de egípcios e babilônios o observarem, e levando à publicação em 1917 de “A Princesa de Marte” (A Princess of Mars), primeiro de uma série. Foi o astrônomo grego Hiparco (190 a.c – 120 a.c) que fez observações mais racionais sobre o que chamou de errante, desprovido da religiosidade dos antigos. O planeta ainda despertaria uma vertente filosófica como o autor norte-americano Ray Bradbury (1920 – 2012) que publicou em 1950 o clássico “Crônicas Marcianas” (Martian Chronicles), uma coletânea de contos sobre a colonização de Marte que, na década anterior, já havia ganhado espaço em revistas de ficção científica. Quando Ray Bradbury os reuniu, conseguiu entrelaçar as histórias de formar a criar uma narrativa maior, concisa e de respeitável credibilidade, levando-se em conta que Bradbury o escreveu mais de dez anos antes que as primeiras sondas fossem enviadas â Marte. A primeira fotografia do planeta só ocorreu em 1965 quando os Americanos foram bem sucedidos ao enviar a Mariner 4. Aos poucos a ciência conseguia desmistificar vários ditos sobre nosso planeta vizinho, inclusive a existência de canais percebida por observações rudimentares feitas ainda no século XIX pelo italiano Giovanni Schiaparelli, e perpetuado pelo norte-americano Percival Lowell que buscou indícios de vida no planeta. Até mesmo o brilhante inventor russo Nikolas Tesla, em 1902, acreditava ter interceptado sinais de rádio que supostamente viriam de Marte para... os Estados Unidos.

Se na vida real, o que se sabia de fato engatinhava lentamente, na mentalidade comum a ideia de marcianos visitando a Terra crescia em tons paranoicos acentuados pela transmissão radiofônica de H.G.Wells que adaptou o livro “A Guerra dos Mundos” (The War of The Worlds) durante o Halloween de 1938. O cinema absorveu a paranoia através de incontáveis filmes B como “Invasores de Marte” (Invaders From Mars) de 1953 e “O Dia Que Marte Invadiu a Terra” (The Day Mars Invaded Earth) de 1963. Todos procuravam nos homenzinhos verdes um reflexo dos preconceitos Macartistas que se espalharam na America durante o período da guerra fria. Na literatura, contudo, as mentes dos autores buscavam mais do que simplesmente retratar visões maniqueístas e se aprofundaram em parábolas mais elaboradas da natureza humana como “Uma Sombra Passou Por Aqui” (The Illustrated Man) também de Ray Bradbury, “As Cavernas de Marte” The Caves of Mars) de Isaac Azimov que usou o pseudônimo de Paul French ou “ As Areias de Marte” (The Sands of Mars) de Arthur C. Clarke, todos publicados em 1951. O cinema absorveu o primeiro e o adaptou em 1969 com Rod Steiger e Claire Bloom.

Muito antes do filme estrelado por Matt Damon, Adam West (o Batman da TV) já viveu um náufrago espacial em “Robinson Crusoé em Marte” (Robinson Crusoe on Mars) de 1964, dirigido por Byron Haskin que teria ganhado uma sequência se tivesse sido bem sucedido na bilheteria. A essa altura , a cultura pop já havia abraçado nossos vizinhos e lhes conferido o título de malvados favoritos da ficção científica. Os desenhos da Warner criaram a figura de Marvin Martian, um baixinho conquistador em trajes romanos que co-estrelava desenhos ao lado do coelho Pernalonga e do Patolino. A TV buscou na peça de teatro “Visit to a Small Planet”, do dramaturgo e jornalista Gore Vidal para inspiração filmado antes com Jerry Lewis, como Rabo de Foguete, 60 e criou-se a sitcom “Meu Marciano Favorito” (My Favorite Martian) de 1965, com Ray Walston vivendo um visitante de Marte que se faz passar pelo tio de um repórter vivido por Bill Bixby. Em 1998, a Disney preparou uma refilmagem com Christopher Lloyd e Jeff Daniels.

 De tempos em tempos, os olhos se voltam para os mistérios de Marte como a face esculpida em solo marciano inicialmente descoberta pela sonda Viking em 1976 que ganhou as manchetes dos jornais e estimulou ainda mais as discussões de vida no planeta. Em 2000, dois filmes retomaram o interesse dos estúdios pelo nosso vizinho em “Missão Marte” (Mission to Mars) de Brian de Palma, para a Disney, estrelado por Tim Robbins, Gary Sinise e Don Cheadle e “Planeta Vermelho” (Red Planet) de Anthony Hoffman para a Warner, estrelado por Val Kilmer e Carrie Ann Moss. Até mesmo Tim Burton brincou com o assunto na parodia de 1996 “Marte Ataca” com Jack Nicholson e Michael J. Fox baseado em uma série de figurinhas de ação. Ainda mais recentemente tivemos a adaptação de John Carter pelos estúdios Disney, um fracasso de bilheteria. Com Matt Damon nos levando a revisitar o planeta vermelho, voltamos a nos questionar se de fato existe vida inteligente em Marte, ou se é apenas a nossa vã filosofia procurando no firmamento algo acima de nossa existência vazia, mas que em nossa imaginação vai muito além do que nossos olhos conseguem enxergar.

(Por Adilson de Carvalho Santos)

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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