OSCAR 2014: O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street)
Neste ano está difícil fazer previsões para os vencedores do Oscar®, o que é sempre uma coisa boa!
Lobo de Wall Street, O (The Wolf of Wall Street)
Eua, 13. Direção de Martin Scorsese. Com Leonardo DiCaprio, Jonah Hill, Matthew McConaughey, Kyle Chandler, Rob Reiner, Jon Favreau, Cristin Milioti
Está sendo recebido muito bem pelo público brasileiro este novo trabalho de Martin Scorsese, que tem um problema óbvio: três horas de duração. E todo mundo reclamou disso. Foi também a razão porque não deu para terminar a montagem a tempo (que foi feita às pressas e chegou até a ser adiado) e ainda hoje ela tem imperfeições. Também quando foi apresentada na Academia provocou reações violentas entre os mais velhos, que ficaram chocados com as cenas repetidas de nudez (e uma sequência gay por sinal muito falsa, posada, provocou cortes ou proibição no Oriente). Há certa razão ao reclamar porque acho que levado pelo entusiasmo do produtor Leonardo DiCaprio (hoje com a fama de sedutor de modelos) em vez de fazer uma fabula sobre a ascensão e queda dos corretores da Bolsa nos anos 80 mostrando o lado bom e mal, preferiram se fixar no que o americano chamado de “Debauchery” (que não é o nosso deboche, mas Devassidão, o comportamento Devasso, sem qualquer escrúpulos no uso de drogas e abuso do sexo).
O Lobo se tornou um êxito de bilheteria graças ao mercado exterior (custou 100 milhões de dólares e por lá não passou dos 105 milhões, acrescidos de 160 no exterior). Foi indicado para menos Oscars® do que se esperava: filme (DiCaprio é o principal produtor), direção, ator (Leo), roteiro e coadjuvante (Jonah Hill).
Se classificando como comédia, O Lobo é o filme mais atrevido sexualmente do diretor, em que ele se compraz com cenas de sexo e modera a violência habitual, já que não são bem gângsteres (não verdadeiramente ousadas, mas dentro da cartilha americana de não poder mostrar muita coisa, com gente posando- lembra os antigos tableaux vivants da revistas de teatro, onde para burlar a censura não deixavam ninguém se mover!). Em vez de humanizar os personagens faz com que todos eles e praticamente sem exceção sejam crianças-grandes totalmente irresponsáveis. No consumo desenfreado de drogas (o sexo vem em segundo lugar e como deixam claro muito mal realizado, sem prazer para os envolvidos).
É curioso como O Lobo como alias toda a maioria dos indicados do ano são baseados ou ao menos em inspirados em fatos reais. Não magnatas das finanças, como os que provocaram a atual recessão, mas exploradores de classe média, que roubaram e enganaram os mais ingênuos (e por isso minha relutância em ver uma celebração do vigarista, do corrupto, ate porque o castigo não vem a cavalo nem na medida certa).
DiCaprio esta enérgico e carismático no papel de Jordan Belfort, que escreveu o livro original e Terence Winter (criador da Família Soprano e Boardwalk Empire) que o roteirizou como uma grande farsa, um grande apronto. Por isso que me pareceu que Scorsese ficou fascinado pelo pecado (ele é católico ainda) e devassidão, sem que isso o impeça de ter momentos divertidos e criativos (como quando DiCaprio bate no seu carro com o filho a bordo) e mantenha sua habitual mão para escolher elenco. Minha favorita é a australiana Margot Robbie, que faz a mulher de DiCaprio e que eu tinha notado antes no recente Questão de Tempo (era de parar o trânsito, como se dizia, como a primeira namoradinha do herói). Esta loira esplêndida além de tudo é boa atriz e promete virar estrela. Mas não é só, quem aparece no começo do filme numa ponta marcante e que pode criar escola (com o bater no peito) é Matthew McConaughey, demonstrando que este é mesmo seu ano! Jonah Hill acabou se tornando um ator característico criador de tipos fortes, ainda que sem qualquer caráter, assim como vários diretores aparecem como atores (Jon Favreau, Rob Reiner), como o famigerado Jean Dujardin (como era esperado se repetindo).
Não posso negar, porém que o público em especial o masculino se diverte com o filme. Não acredito porém que a Academia embarque nesta.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de Éramos Seis de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionário de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.