Um Melodrama Para Dois Grandes Atores
Em Kramer versus Kramer temos o homem descasado: sem a retaguarda da mulher
Em seu tempo, Kramer versus Kramer (Kramer versus Kramer; 1979), produção norte-americana dirigida por Robert Benton, fez a cabeça do espectador educado pelo melodrama feito em Hollywood: bons atores, trama simplória, simplificações das emoções, soluções dramáticas e psicológicas demasiado fáceis. Tantos anos depois, creio que o quadro de plateia não se alterará: seu lado novelesco travestido duma situação social própria de uma época dirá algo fácil ao mesmo tipo de púbico. Sem grandes inquietações.
Benton fez seu roteiro a partir dum livro de Avery Corman. Dustin Hoffman, num desempenho extraordinário, interpreta um executivo obcecado por sua carreira e que um belo dia, ao chegar em casa, ainda azafamado com suas tarefas, é surpreendido pela frase-soco de sua esposa: ela iria abandonar a família; com as malas prontas, ela o deixa, e ao filho pequeno. Meryl Streep vive a mulher que está insatisfeita com sua vida doméstica e decide buscar sua personalidade em novos rumos; Meryl tem expressões melosas demais, talvez requeridas pelo melodrama tal como o conceberam, mas, ainda assim, em suas aparições menos constantes que as de Dustin, exibe seu talento incipiente, a natureza cênica de sua arte. Os atores, pois, carregam a banalidade da narrativa.
Os descasamentos estavam então em moda no cinema americano. Pouco antes outro diretor americano, Paul Mazursky, fez Uma mulher descasada (1978). Em Kramer versus Kramer temos o homem descasado: sem a retaguarda da mulher, ele terá de conciliar uma tarefa para a qual o patriarcado não preparou os homens, a doméstica, os filhos em seu cotidiano, com sua grande tarefa, a ascensão profissional. No primeiro momento fracassa, pois perde o emprego. E nesta confluência tem de enfrentar a batalha judicial armada por sua ex-mulher pela guarda do filho. É nestas sequências de tribunal que Benton exercita os golpes baixos mais ferozes contra a emoção do observador; e para isto, é claro, e ainda e sempre, conta com intérpretes tão bons quanto Dustin Hoffman e Meryl Streep.
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro Uma vida nos cinemas, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br