Mostra Marlene Dietrich em So Paulo

A mostra Marlene Dietrich acontece nos Centro Cultural Banco do Brasil de So Paulo (de 17 de setembro e 20 de outubro). O evento exibe 25 filmes e 2 documentrios com a atriz alem

05/09/2014 11:37 Por Rubens Ewald Filho
Mostra Marlene Dietrich em S達o Paulo

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Quando se trata de nome de estrelas do cinema clássico, sempre prefiro abrasileirar o nome, como se fala tradicionalmente, ou seja, Marlene Dietrich. Mas nos Estados Unidos o nome dela é falado de outra forma, “Marlena Dietrik”), mas não há menor duvida que é graças a ela, que o nome Marlene se tornou popular, na verdade uma contração de Maria Madaglene. O que não há dúvida que Marlene ou Marlena foi uma das maiores lendas do século vinte, famosa primeiro como O Anjo Azul, a grande rival de Greta Garbo, depois como uma das mulheres mais glamurosas do mundo, dono de uma das pernas mais perfeitas do cinema até finalmente ser promovida como a avó mais charmosa. Foi uma longa carreira, cheia de mistérios e romances, ao menos 35 anos de estrelato absoluto. Até porque Marlene sempre contribuiu para o mito, inventando histórias e mascarando a verdade. Hoje já se sabe da data real de seu nascimento, foi realmente em Berlim em 1901, isso quer dizer que quando foi para os Estados Unidos, já estava com vinte e nove anos, bastante tarde para iniciar uma nova carreira. E não era novata como afirmava, nem quando foi descoberta por Josef von Sternberg, ao contrário era veterana de uma longa carreira no teatro e até mesmo no cinema onde participou de ao menos 12 filmes antes de virar estrela internacional.

O Festival no Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo, infelizmente está longe de ser completo. Apresenta apenas um dos seus filmes alemães originais e nem é dos mais famosos (Flor de Paixão / Die Frau nach der man sich sehnt, de Kurt Bernhardt, 29). Depois pelo menos tem todos os filmes que fez com seu mentor e mestre Josef Von Sternberg, que são bem raros aqui e a parte mais importante da Mostra. Depois sem cerimônia pula a parte britânica de sua carreira, comédias que ela fez para a Columbia ou na Europa. Ao menos tem o filme ao lado do seu grande amor Jean Gabin, e vai se encerrar com Julgamento em Nuremberg, deixando de lado seu último filme de ficção, o curioso Apenas um Gigolô. Os dois documentários são ao menos curiosos porque em Marlene, feito por Maximilian Schell, 84, não se vê seu rosto, ouve-se apenas a voz. E no seguinte, feito pelo neto, 04, Sua Própria Voz, já póstumo, era por sinal bastante bonito se considerando como deve ser difícil ter convivido com uma mulher dessas. Enfim, como retrospectiva fica devendo e teria sido melhor ter encontrado um nome mais poético que desse menos a impressão de que é obra completa.

Vale lembrar aqui alguns mais óbvios. O Anjo Azul, de 1930, o filme que criou a lenda. Na verdade, foi feita como veículo para o ator alemão Emil Jannings, que já havia ganhado um Oscar®. É a história de um austero professor que tem sua vida arruinada quando se apaixona por uma cantora de cabaré chamada Lola. Quem dirigiu foi o mentor de Marlene, o austríaco Josef Von Sternberg, que a descobriu numa peça teatral e a lançou no cinema. Era o princípio do cinema falado e o filme foi rodado em duas versões, em inglês e em alemão (não sei qual das duas a gente passa). E com várias inovações técnicas que liberavam a câmera da ditadura do microfone. A Marlene do filme é um pouco mais gordinha do que nos filmes posteriores. Afinal foi aqui que ela começou a desenvolver seu estilo muito pessoal. Ela sempre admitiu que Sternberg foi seu grande mentor e professor. Talvez também amante, já que Marlene era uma mulher muito liberal, ficou a vida inteira casada com o primeiro marido, mas isso não a impediu de ter relações apaixonadas com homens e mulheres. O fato é que Marlene ficou dali em diante marcada como O Anjo Azul, apesar desse ser o nome da boate não do personagem de mulher fatal que arruína os homens e cantando com uma voz muito pequena e pessoal, num jeitão que era típico do cabaré alemão da época.

Quando Sternberg retornou para os Estados Unidos levou Marlene junto impondo-a perante a Paramount. Ela foi contratada inicialmente para apenas um único filme, Marrocos, onde compartilhava o estrelato com o ainda novato Gary Cooper. Obrigada a emagrecer, sob a orientação de Sternberg, ela foi se sofisticando cada vez mais, fugindo das comparações com Garbo e criando um estilo ainda mais refinado. Não de mulher sofredora, mas de femme fatale. Em Marrocos também de 1930 ela era novamente uma atriz de cabaré que tem um romance com um homem mais velho, Adolphe Menjou, mas se apaixona por um legionário francês Cooper. Todo rodado em estúdio, com nada a ver com o verdadeiro Marrocos, o filme trazia a ousadia de mostrar Marlene beijando uma mulher na boca, coisa possível nesta época anterior à censura. O fato é que a fita causou sensação ao estrear simultaneamente nos Estados Unidos com Anjo Azul e a Paramount renovou seu contrato, dando-lhe aprovação da publicidade.

O problema foi que depois de outros três filmes com Sternberg, o resultado começou a cansar nas bilheterias e a Paramount quis usar outro diretor. Foi assim que nasceu Cântico dos Cânticos, de 33, dirigido por Rouben Mamoulian, uma fita ainda mais estilizada e diferente, onde ela faz uma jovem camponesa francesa que se envolve com um escultor Brian Aherne, para quem ela pousa nua. Apesar das reclamações de Marlene, que preferia o velho diretor, ela está num de seus momentos de maior requinte. Apesar disso, no fim dos anos 30, a fórmula foi por demais repetida e Marlene foi considerada veneno de bilheteria. Era preciso se reinventar e foi isso que ela fez aceitando participar de Atire a Primeira Pedra/ Destry Rides Again, em 39, onde revelou um inesperado senso de humor como a garota de salloon que se envolve com o xerife tímido e desajeitado feito por James Stewart. É neste filme que ela canta seu sucesso “See what the boys in the back room will have”... e tem também uma famosa briga com Una Merkel... Foi o começo de uma nova fase que prosseguiu com A Pecadora, Seven Sinners de 40, onde ela trabalha ao lado de John Wayne, que também foi seu namorado. O titulo original novamente se refere a um bar chamado Sete Pecadores que é o ponto de encontro de marinheiros onde Marlene canta. Atire a Primeira Pedra era uma sátira dos faroestes, aqui a brincadeira era com os filmes dos mares do sul. 

Mais sutil foi Paixão Fatal/ Flame of New Orleans, de 41, em que o diretor francês René Clair tentou misturar os dois mitos, a velha e a nova Marlene numa história de uma aventureira que chega a New Orleans em 1840. Novamente é a delicada e cuidadosa direção e cenografia que chamam a atenção. O Festival traz mais outro sucesso de Marlene, Cigana Feiticeira/ Golden Earrings, de 47, fazendo o papel de uma cigana durante a guerra na Europa ajudando o fugitivo Ray Milland. Nessa época ela já tinha se afastado do cinema para ajudar no esforço de guerra e tinha mesmo rechaçado um convite de Hitler para ser a estrela absoluta do Terceiro Reich. Os alemães  na verdade nunca a perdoaram inteiramente. Marlene passaria o resto de sua vida neste apartamento em Paris sem receber visitas. Nos últimos anos, presa a um leito nunca mais apareceu ou deu entrevistas. Preferia manter o mito. Que ao menos esta preservado nestes filmes do Festival.

 

Serviço

Mostra Marlene Dietrich
Locais: Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo (Rua Álvares Penteado, 112 – Centro)
Datas: De 17 de setembro a 20 de outubro (São Paulo) Site: http://culturabancodobrasil.com.br/portal/marlene

Ingressos: São Paulo: R$ 4 (inteira) e R$ 2 (meia)

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunica艫o do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premia艫o do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma cole艫o particular dos filmes em que ela participou. Fez participa苺es em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adapta苺es de “ramos Seis” de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informa苺es. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionrio de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.

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