A Escrita Vagabunda de Paulo Scott

Paulo Scott é um dos nomes bem vistos da atual literatura feita por gente do sul

21/08/2016 22:53 Por Eron Duarte Fagundes
A Escrita Vagabunda de Paulo Scott

tamanho da fonte | Diminuir Aumentar

 

Paulo Scott é um dos nomes bem vistos da atual literatura feita por gente do sul. Nascido em Porto Alegre, ele reside há oito anos no Rio. Não sei se morar no centro do país ajuda nesta visibilidade literária. Mas o fato é que Paulo é bafejado por lá.

Ele faz uma literatura relativamente tranquila de consumir, mesmo que sua linguagem de ecos sulinos tenha de chegar aos ouvidos cariocas ou paulistas. O ano em que vivi de literatura (2015) é seu segundo romance, depois de Habitante irreal (2012); antes ele fizera o livro de contos Ainda orangotangos (2003), levado ao cinema pelo gaúcho Gustavo Spolidoro em 2007. Nada de novo na ficção de Paulo: ele persegue a oralidade duma linguagem à gaúcha, o uso do pronome “tu” sobrepõe-se ao “você” e a conjugação é a nossa, a língua falada de sempre, “tu disse, tu fala”, usamos o “tu” e utilizamos o verbo na terceira pessoa, como se tivéssemos usado o “você” nacional. Paulo exacerba na sintaxe da fala: a constância disto lhe dá espontaneidade, mas também muito desleixo, disformidades.

Sem embargo de tratar duma personagem que é um escritor, às voltas com seus escritos e também com um rosário de mulheres, mais ou menos como os americanos Henry Miller e Charles Bukowski, Scott fez questão de declarar em entrevistas que seu protagonista, Graciliano, não é ele, o próprio autor, os episódios de sua vida não são os que estão no livro. Há coincidências, claro: ambos são de Porto Alegre e habitam o Rio, circulam entre os dois cenários, escrevem, fazem sucesso, são incompreendidos, não estão aparentemente nem aí para as discussões estabelecidas por sua literatura. Não é, todavia, uma ficção de si mesmo, diz Paulo. A primeira pessoa é ocasional. E seria ocasional o nome de Graciliano para a personagem do escritor? Inevitavelmente o leitor brasileiro vai lembrar um de nossos maiores escritores: o alagoano Graciliano Ramos. Estaria Paulo tentando trilhar o caminho despojado de Graciliano, seu verbo direto e seco? Falta o rigor, é claro; espontaneidade com rigor está em Graciliano. Paulo faz a pose do escriba do século XXI: o vale-tudo da linguagem. No final do capítulo que se chama “Literatura”, que se dedica a descrever um curso de roteiro de que a personagem participa, Graciliano, instado por alguém na conferência ou aula, diz o que acrescentou: “gostava de estudar modos diferentes de linguagem.” O ano em que vivi de literatura trata um pouco disto: os modos da linguagem. À sua maneira: precária e tateante. Mas que pode ser um ponto de partida para uma escrita vagabunda, isto é, aquela que perambula pelas ruas e pode, em algum momento, achar —nestas ruas— alguma coisa que valha a pena.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

Linha
tamanho da fonte | Diminuir Aumentar
Linha

Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

Linha
Todas as máterias

Efetue seu login

O DVDMagazine mantém você conectado aos seus amigos e atualizado sobre tudo o que acontece com eles. Compartilhe, comente e convide seus amigos!

E-mail
Senha
Esqueceu sua senha?

Não é cadastrado?

Bem vindo ao DVDMagazine. Ao se cadastrar você pode compartilhar suas preferências, comentar ou convidar seus amigos para te "assistir". Cadastre-se já!

Nome Completo
Sexo
Data de Nascimento
E-mail
Senha
Confirme sua Senha
Aceito os Termos de Cadastro