Vingadores A Era de Ultron e o Fim da Fase 2 da Marvel no Cinema
Filme provoca o delírio dos leitores que verão um conflito em dimensão de videogame, que tem a função de encerrar a fase 2 da Marvel
Um dos filmes mais aguardados desse ano é a chegada de “Vingadores: A Era de Ultron”, marcando a volta triunfante de Joss Whedon depois do mega-sucesso do filme de 2012. Além dos integrantes conhecidos, os leitores de Hqs aguardam ansiosamente para conferir os novos personagens: Visão (Paul Bettany), Mercúrio (Aaron Taylor Johnson) e Feitiçeira Escarlate (Elizabeth Olsen). Um dos atrativos das adaptações de Hqs para o cinema é a escalação dos personagens a serem retratados, cada um carregando uma legião de leitores que os vem acompanhando. No caso dos irmãos Pietro/Mercúrio e Wanda / Feitiçeira, eles entraram para a equipe nos quadrinhos em uma das primeiras mudanças feitas na formação da equipe (Avengers #16 de maio de 1965) quando os membros fundadores da equipe debandaram para cuidar de assuntos pessoais, ficando o Capitão América com a missão de recrutar novos membros, o que além de Pietro e Wanda incluía o Gavião Arqueiro.
Já o androide Visão fez sua primeira aparição em Avengers #57 (outubro de 1968) e sua origem foi inicialmente um mistério até ser revelado que este foi criado pelo robô Ultron para se infiltrar na equipe e matá-los, diferente do filme que mostra o Visão como uma criação de Tony Stark utilizando o programa de inteligência artificial jarvis (que no original das HQs é um mordomo humano) com forma corpórea. Essa é uma entre outras diferenças entre filme e HQ: O vilão que se torna o catalisador de toda a ação do filme originalmente foi criação do cientista Dr.Henry Pym, identidade secreta do Homem Formiga (herói que ganha em breve filme solo, mas não participa da formação dos vingadores no filme), que criou uma inteligência artificial tão perfeita que acredita que só haverá ordem no mundo se exterminar as formas de vida baseadas em carbono, ou seja, os humanos. Roy Thomas e John Buscema, escritor e desenhista do título na época, buscou inspiração no mito Frankensteniano, mas subvertendo as leis da robótica escritas por Issac Azimov, e que já geraram incontáveis histórias na literatura e no cinema. Em “Avengers #54” (Julho de 1968)o robô Ultron só mostra sua cara no final da história depois de manipular outros vilões a atacar os vingadores, voltando na edição seguinte ainda sem que sua origem seja explicada, o que ocorreria mais tarde. Roy Thomas acrescentou então um ingrediente novo ao vilão: um incontrolável desejo de matar seu criador deixando a mostra um indisfarçável complexo de Édipo que o levou, inclusive a sequestrar Janet, a esposa de Henry Pym, logo sua “mãe” e usar seus padrões mentais para criar uma companheira, a robô Jocasta (Avengers # 170 de abril de 1978) já com os roteiros de Jim Shooter e os desenhos de George Perez no título dos heróis. No filme Ultron tem origem diferente, mas a mesma diretriz destrutiva capaz de ameaçar a presença humana no planeta e ganha a voz poderosa de James Spader. Sua fala, divulgada no trailler, “There are no strings on me” (Não há cordas em mim) faz citação ao clássico “Pinóquio” e provoca o delírio dos leitores que verão no filme um conflito em dimensão de videogame, que tem a função de encerrar a fase 2 da Marvel e plantar as sementes que conduzirão a “Capitão America 3 – Guerra Civil” ano que vem.
Mesmo a Viúva Negra (Scarlett Johanson) só se juntou à equipe em “Avengers #111 (maio de 1973) quando a equipe criativa dos heróis era composta pelo autor Steve Englehart e o desenhista Don Heck. Uma dúvida recorrente entre os fãs é onde o Homem Aranha se encaixa na equipe, mas o adorado escalador de paredes só foi efetivado como componente dos vingadores em tempos mais recentes, especificamente no título “New Avengers #1” (janeiro de 2005) por Brian Michael Bendis e David Finch. Até então o Homem Aranha era um participante esporádico ou um membro reserva auxiliando e sendo auxiliado pela equipe em diversas missões.
A equipe dos Vingadores sempre foi marcada pela constante mudança de personagens contabilizando mais de 90 integrantes depois de 50 anos de publicação. Apesar dos heróis Marvel terem sido trazidos ao Brasil pela editora Ebal, o primeiro título brasileiro mensal dos heróis foi pela Editora Bloch entre novembro de 1975 e agosto de 1976. Muitos anos depois a editora Abril recomeçou a publicação das histórias do grupo, mas pulando, editando e selecionando as histórias nas revistas “Heróis da TV”, “Capitão América” e “Grandes Heróis Marvel”. Os Vingadores só voltaram a ter título próprio no país quando passaram a ser publicados pela Panini Comics, que inicialmente os publicou em outros títulos mix até fevereiro de 2004.
Ao longo do filme, personagens tem suas naturezas postas a prova emulando o clima dos quadrinhos Marvel, idealizados por Stan Lee em conjunto com excelentes desenhista como Jack Kirby, Don Heck, John Buscema e outros. Mesmo a Feitiçeira Escarlate, Mercurio e Gavião Arqueiro tinham, nas histórias originais de Lee, se tornados Vingadores para se redimirem de crimes passados. Curioso é o fato que Pietro & Wanda são na verdade mutantes, palavra esta que o Marvel Studios não pode usar no filme já que a Fox possui os direitos sobre os X Men e demais personagens mutantes.
Romance entre Bruce Banner e a Viúva Negra, briga entre os integrantes da equipe, questionamento sobre os limites da máquina e do homem são elementos adicionais que o público terá contato, mas que não são 100% fundamentados nas Hqs, como ocorre em qualquer processo de adaptação. Claro que por se tratar de uma adaptação de personagens das HQs, um bom filme do gênero precisa equilibrar o público nerd leitor com o público em geral que nunca leu, mas que quer curtir um bom filme de ação, no caso o mais longo da Marvel e com maior número de efeitos especiais. Todos, de qualquer forma, se juntam para gritar em uníssono “Avante Vingadores!”. O grito de guerra e de desafio para que a Warner/DC a supere com o anunciado “Superman & Batman: Dawn of Justice”. O futuro é que dirá.
(Texto de Adilson de Carvalho Santos)
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de Éramos Seis de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionário de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.