Dr. Estranho - O Heroi Feitieiro da Marvel
Conhea a histria deste personagem da Marvel que tem seu filme lanado neste ms
Com o sucesso mundial de Harry Potter na literatura e no cinema, nada mais relevante que haja um super- herói com poderes de um bruxo. Não foi, no entanto, Stan Lee quem criou o primeiro herói místico das HQs, mas sem dúvida seu toque de Midas se fez sentir em Junho de 1963, quando foi publicado o título “Strange Tales #110”. A estreia do mago supremo do universo Marvel não teve alarde, dividindo as páginas da revista com o já popular Tocha Humana. A história de 8 páginas, contudo, não mostrava sua origem. Esta só foi publicada 4 meses depois: Stephen Vincent Strange era um conceituado e arrogante neurocirurgião que sofre um terrível acidente que incapacita o movimento de suas mãos. Inconformado com a situação e relutante em se tornar um mero clínico, Strange busca um tratamento alternativo para reverter sua condição, quando descobre no Tibet a figura do Ancião, um homem sábio com poderes sobrenaturais. A visita abala a visão de mundo de Strange, que descobre que o Barão Mordo, discípulo do Ancião, planeja matá-lo depois de ter sido seduzido pelo poder maligno de Dormammu, senhor absoluto de uma dimensão do mal. Strange é enfeitiçado para não poder revelar o que descobriu, e por gratidão ao Ancião, pede que este o treine. Assim começa o caminho de Strange pelas artes místicas, tudo maravilhosamente diagramado pela arte de Steve Dikto.
As Influências
Segundo o próprio Lee, foi de Dikto (co-criador do Homem Aranha) a ideia para criação do personagem místico, um herói não saído da pseudociência de Lee, mas da magia. Antes do bom doutor, no entanto, outros heróis já demonstravam habilidades sobrenaturais como o “Dr.Oculto” (Doctor Ocult), criado em 1935 por Jerry Siegel e Joe Shuster (os criadores do Superman) ou o mágico “Mandrake” de Lee Falk de 1934. Estes, no entanto, agiam em suas histórias como um detetive com habilidades mágicas. Ainda houve em 1940 o “Senhor Destino” (Dr. Fate), criado pela dupla Gardner Fox e Howard Sherman, um feiticeiro super poderoso que se aliou a outros herois para combater as forças do mal. Contudo, ao lapidar a ideia de Dikto, Stan Lee buscou inspiração mesmo em “Chandu – o Mágico”, programa de rádio que, por volta de 1932, seria transformado em seriado interpretado pelo hoje desconhecido Edmund Lowe, e depois, por Bela Lugosi. Chandu era um ilusionista que age em segredo como espião fazendo uso de suas habilidades.
O Processo Criativo
Lee adicionou frases de efeito para dramatizar os encantamentos do mago que, em suas histórias, frequentemente invocava as faixas escarlates de Cyttorak, os sete anéis de Raggadorr ou o olho de Agamotto, um poderoso amuleto que amplia os poderes do mago. O herói também usa o livro de Vishanti que contem vários feitiços que o Dr.Estranho conjura e o manto da levitação que lhe permite voar. A principio as histórias de Estranho eram secundárias, contadas em breves páginas, já que o Tocha Humana era a estrela de “Strange Tales”. O personagem ainda nem mesmo usava seu manto de levitação.
Lee e Ditko ficaram juntos por três anos explorando roteiros dramáticos, diálogos bem conduzidos em cenários e cores psicodélicas para retratar limbos, universos paralelos e até o próprio inferno. A arte de Dikto explorava tons surrealistas que, de acordo com o historiador Bradford Wright, lembra as pinturas de Salvador Dali. Com a saída de Dikto, e posteriormente do próprio Stan Lee, substituído por Roy Thomas, o personagem foi desenhado por Bill Everett (criador de Namor), Marie Severin e Gene Colan que assume o título solo do herói (renomeando a antiga “Strange Tales” a partir de Fevereiro de 1969), que dura apenas 15 edições. As histórias do período refletem todo um interesse por misticismo que se seguiu ao final dos anos 60, e as aventuras de Strange envolvendo divindades egípicias ou sumérias ecoavam o interesse do ocidente pelas religiões orientais. Na edição “Doctor Strange #177” Thomas & Colan, em uma tentativa de estimular as vendas do título colocam uma máscara no herói feiticeiro fazendo sutis modificações em seu uniforme, que perdurariam por sete edições.
As Aventuras
Na década de 70, o personagem perdeu seu primeiro título solo passando a ser publicado em dois títulos: “Marvel Premiere” (entre 1972 e 1974) e na “Marvel Feature” onde o herói se juntou ao Hulk e Namor e formaram a equipe dos Defensores, criado por Roy Thomas. Mas, diferente dos populares Vingadores, os Defensores pareciam se hostilizar e sua união só se justificava pela conveniência de uma ameaça em comum, sem o espírito de camaradagem da equipe do Capitão América. Mais tarde, o roteirista Steve Englehart assumia o título da equipe e escreveria um confronto clássico “Vingadores X Defensores”.
A década de 70 ainda teria o segundo título solo do heroi “Dr.Strange: Master of the Mystical Arts”, que duraria 81 edições. Nessa fase, o mago enfrentaria Drácula, se apaixonaria pela discípula Clea e viajaria pelo tempo em mais de uma ocasião. As artes de Frank Brunner e Gene Colan se destacaram pela inventividade. O primeiro, junto com Steve Englehart, causaria um embaraço à Marvel quando em um arco de histórias entitulado “Sise-Neg” (Genesis escrito ao contrário) Strange, depois da morte do ancião, assume o manto de mago supremo, viaja ao início do universo e encontra Deus. Os editores da Marvel pediram que os autores se desculpassem em carta e alegassem que não Deus. Englehart e Brunner escreveram uma carta falsa à editora enviada do Texas de um pastor fictício elogiando a história, levando os editores a desistir da ideia.
Na década de 80, o roteirista Roger Stern ficou à frente do título do herói com vários desenhistas se revezando como Paul Smith, Marshall Rogers, Bret Blevings, Kerry Gammill, Michael Golden, Sal Buscema, Gene Colan entre outros. Stern soube equilibrar a vida pessoal de Stephen Strange com aventuras cósmicas. O autor conseguiu explorar bem o elenco coadjuvante das histórias como o assistente Wong, a namorada Clea e introduziu uma nova personagem, Morgana Blessing, que vem a se tornar discípula de Strange. Na edição #53 de “Doctor Strange”, publicado em “Heróis da TV #91”, o Dr.Estranho viaja ao passado e revisita o primeiro encontro do Quarteto Fantástico com o Faraó Rama Tut, reproduzindo a história originalmente publicada em “Fantastic Four #19” de outubro de 1963, colocando o mago na posição de um observador do futuro. Coube a Stern também uma das melhores histórias do herói, desenhada por Mike Mignola (o criador de Hellboy). Na graphic novel “Triunfo & Tormento” Estranho se alia ao Doutor Destino (inimigo mortal do quarteto fantástico) em uma jornada ao inferno para resgatar a alma da mãe do vilão.
Mais recentemente, Strange juntou-se aos Novos Vingadores, esteve envolvido com os Ilumminati (grupo secreto de heróis) e perdeu o título de mago supremo da terra para o Irmão Vudu. Após os eventos Guerra Civil e Invasão Secreta, muita coisa mudou no status quo dos personagens Marvel e com o Dr.Estranho não foi diferente. O roteirista Jason Aaron mudou o visual do mago colocando um machado em sua mão.
O Heroi no Brasil
No Brasil, o herói foi rebatizado de “Dr.Mistério” quando publicado pela Editora M&C, mas a revista só durou duas edições. Quando ressurgiu pela primeira vez com seu nome corrigido foi no título “Os Defensores” (The Defenders) #1 da Editora Bloch. Em Abril de 1979, a RGE trouxe o personagem ao Brasil em aventuras solo, primeiro no título “Almanaque Marvel #1”, da Editora RGE, em uma aventura conjunta com o Homem-Aranha extraído de “Marvel Team Up #21” originalmente publicada em 1974. O curioso dessa história é que os dois heróis encontram ... Xandu, o mágico. No mês seguinte a RGE publicou a clássica “Dr.Strange #169” em “Almanaque Marvel #2”. O material da “Marvel Premiere” veio a ser publicado pela Editora Abril em 1982 no título “Superaventuras Marvel” a partir da segunda edição desta. A origem do herói, no entanto, apareceu nas páginas da edição comemorativa “Herois da TV #100”(segunda série), da Editora Abril. O mesmo título publicou na década de 80 as elogiosas histórias escritas por Roger Stern.
A Primeira Adaptação
A década de 70 ainda teve a primeira tentativa de adaptar o personagem para um filme live-action. Em 1978, a MCATV, divisão televisa dos estúdios Universal vinha tendo muito sucesso com a série do “Incrível Hulk” estrelada por Bill Bixby e Lou Ferrigno. Com intenção de realizar um série do Doutor Estranho, a MCA encomendou um piloto dirigido por Philip Deguerre com consulta do próprio Stan Lee. O ator Peter Hooten fez o papel principal com várias mudanças em relação à HQ: No filme, Stephen Strange é psiquiatra e não neurocirurgião, não há a figura do Ancião, o uniforme do herói ostenta uma estrela no peito, desenvolvido pelo próprio Frank Brunner, um dos melhores artistas a trabalhar com o personagem. Seu antagonista é a mitológica bruxa Morgana (Jessica Walters), das lendas Arturianas. Dos coadjuvantes das HQs estão apenas o assistente Wong (Clyde Kusatsu) e a discípula e namorada Clea (Anne Marrie Martin). Na história do filme, Morgana possui o corpo de Clea em uma tentativa de matar o mago supremo e tomar seus poderes no processo. A fraqueza de Morgana é se apaixonar por Strange. Na época, Stan Lee estava bastante entusiasmado com o filme, sendo que o resultado foi muito abaixo do esperado, principalmente levando em conta que o filme foi exibido no mesmo dia e horário que a premiada mini-série “Raízes” (Roots). No Brasil, o filme chegou a ser exibido pela Rede Globo.
A chegada do novo filme estrelado por Benedict Cumberbatch certamente popularizará o personagem diante de uma nova geração, mas que ninguém duvide que o verdadeiro mago supremo da terra sempre foi Stan Lee.
(Por Adilson de Carvalho Santos)
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho jornalista formado pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos), alm de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados crticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veculos comunicao do pas, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de So Paulo, alm de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a dcada de 1980). Seus guias impressos anuais so tidos como a melhor referncia em lngua portuguesa sobre a stima arte. Rubens j assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e sempre requisitado para falar dos indicados na poca da premiao do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleo particular dos filmes em que ela participou. Fez participaes em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minissries, incluindo as duas adaptaes de ramos Seis de Maria Jos Dupr. Ainda criana, comeou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, alm do ttulo, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informaes. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionrio de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o nico de seu gnero no Brasil.