Navegando no Netflix: Sinatra - All or Nothing at All

Documentário sobre Sinatra não foi feito para desfazer mitos ou confirmar histórias, vale a pena descobri-lo

19/10/2015 09:24 Por Rubens Ewald Filho
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Navegando no Netflix: Sinatra - All or Nothing at All

Minissérie de 240 minutos (em duas partes). EUA, 15. Direção de Alex Gibney. Produção de Frank Marshall.

Indicada ao Emmy de melhor documentário, esta minissérie esta disponível no Netflix e o maior problema é conseguir o tempo de assisti-la por inteiro. O produtor mais conhecido é Frank Marshall, amigo de Spielberg e marido de Kathleen Kennedy (que é a herdeira de George Lucas e responsável pelo renascimento dos Star Wars). O diretor Gibney, também co-produtor esta fazendo documentário sobre Janis Joplin e assinou outros sobre Steve Jobs (The Man in the Machine), Going Clear (sobre a Cientologia), Em Queda Livre (sobre Sky Diving), A Mentira Armstrong (sobre o ciclista) e outros.

A maior novidade é evitar talking heads, ou seja, pessoas dando entrevistas para a câmera (a não ser do próprio Sinatra relembrando sua vida). Usam apenas o áudio desses depoimentos e em certos casos, tomando a liberdade de colocar voz alheia, por exemplo, Gina Gershon, passando por Ava Gardner. A solução foi conseguir muitas cenas de filmes, até os menos conhecidos dele em começo de carreira, e usar como fio condutor o show que ele fez para se despedir da carreira. Justamente a primeira música que canta é a que da título a este documentário e que teria sido também seu primeiro grande êxito. Mas na segunda parte, os filmes se tornam mais raros e menos aproveitados. Ou mal explicados, por exemplo a ligação de Sinatra com Sob o Domínio do Mal, que seria tristemente premonitório. Seu comportamento de ter sido amigo de John Kennedy, depois rejeitado pela família, resultou numa mágoa que o fez apoiar mais tarde Richard Nixon. O que deve ter sido o momento mais triste e errado de sua vida.

O fã não deve reclamar porque tem muita canção de Sinatra, depoimentos de gente como Gene Kelly (louvando Sinatra por ter aprendido a dançar para Marujos do Amor) e principalmente de toda a família em particular da primeira esposa Nancy Sinatra (mostram com detalhes o caso do sequestro do filho Frank Jr). Mostra-se também o romance que ele teve com Lauren Bacall que ficou viúva de seu grande amigo Bogart e como a descartou quando iriam se casar, só porque achou que ela tinha passado a notícia para a Imprensa (o que era mentira). E também não escondem a cicatriz que ficou para sempre na sua face e pescoço esquerdos (em compensação, não menciona a calvície e as perucas).

Mas o mais estranho é que se exclui a participação da última esposa, Barbara, que a própria família considera uma cavadora de ouro, uma vigarista que passou a mandar no velho e foi quem o obrigou a continuar cantando, mesmo com a voz prejudicada. Acontece que ela só teria direito na herança do que Sinatra gravasse ou ganhasse em shows só depois do casamento e nada antes, que era da família. Como ela ainda está viva tiveram com certeza medo de processos e não tocaram no assunto. Mas também senti falta de outras informações, por exemplo há indícios que a gritaria e histeria das fãs que o tornaram famoso em começo de carreira teria sido organizado por um agente, ou seja, foi um truque publicitário que depois ganhou corpo e se tornou lenda. Também em relação a Ava Gardner, mencionam sua beleza e bom caráter, mas não falam no que houve de mais interessante, ela e Frank na verdade nunca se afastaram, continuando a se falar (e ele a ajudava quando em crise). Ou seja, se amaram para sempre, até a morte de Ava em 1990.

Por outro lado, acentuam seu lado antirracista e a ajuda que deu a Sammy Davis e que também ajudou a mudar as imagens dos italianos na América, até então mal vistos. Por outro lado, houve as brigas constantes com a imprensa que ele nunca soube conquistar. Continuam a negar a versão mostrada em O Poderoso Chefão de que foi a Máfia que lhe conseguiu o papel em A Um Passo da Eternidade que lhe daria o Oscar e seria sua redenção (embora neguem, fontes recentes continuam a confirmar a lealdade de Sinatra aos amigos mafiosos). Embora tenha gostado da série só agora que estou vendo que ela esconde muita coisa (por exemplo, sua mãe parteira e ligada a políticos ainda que admitam que ela fizesse abortos!). Marilyn Monroe aparece rapidamente em fotos mas ninguém comenta que ela era caso permanente de Sinatra. E Mia Farrow também não toca no assunto de que Sinatra é o pai de seu filho hoje adulto que todo mundo pensava fosse de Woody Allen...

Enfim, o programa não foi feito para desfazer mitos ou confirmar histórias. A intenção parece ser não deixar que a memória de Sinatra morra e que seus discos continuem a vender e a família a lucrar. Por isso, há muitos trechos dele interpretando ainda com sua voz em forma, quase todos os clássicos. E realmente nesse caso, não há o que discutir. Sinatra era um grande cantor, talvez mesmo o melhor do século passado. Como pessoa, escorregou ao final confirmando que não é nada fácil ser um mito a vida inteira. Apesar dos pesares, acho que vale a pena descobrir o documentário.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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