Navegando na Netflix: What Happened Miss Simone?

Gente que gosta verdadeiramente de cinema não tem essas bobagens de escolher gênero. Procurem ver o documentário que vale a pena!

14/10/2015 13:00 Por Rubens Ewald Filho
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Navegando na Netflix: What Happened Miss Simone?

Outro dia um sujeito me perguntou, você gosta de Documentário? Quase dei nele. Gente que gosta verdadeiramente de cinema não tem essas bobagens de escolher gênero ou frescuras em desprezar qualquer filme que seja. De preferência que seja interessante, que conte uma boa história e se possível surpreenda. E algumas das melhores histórias, com conteúdo e proposta, são dos filmes documentários, que vivo procurando na Internet. Agora tive o prazer de descobrir este recente e muito elogiado What Happened Miss Simone?, que é um raríssimo inside story da vida e carreira de uma das mais singulares cantoras negras de todos os tempos, Nina Simone (chamada de High Priestess of the Soul). O filme foi feito por uma mulher, Liz Garbus, e é agora de 2015. Nina faleceu em 2003, vitima de câncer no seio, aos 70 anos, onde vivia em Carry Le Rouet, em Bouches do Rhone, exilada na França.

Espero que você se lembre de sua voz encorpada, diferente, e de sua maneira muito peculiar de interpretar uma canção. Negra, ela nasceu em Tryon, Carolina do Norte, como Eunice Kahtleen Waymon, a sexta de sete filhos, de uma família pobre. Mas teve a sorte de frequentar uma Igreja e foi lá que começou desde os quatro anos seu grande sonho o de se tornar a primeira grande pianista negra clássica da America. Chegou mesmo com muita dificuldade a estudar na célebre Juillard School de Nova York, mas seu caminho era outro. Se tornou cantora meio por acaso adotando o nome de Nina (do espanhol) e Simone em homenagem a estrela francesa Simone Signoret.

Mas sua vida, como aliás de quase todas as cantoras de sua geração, foi difícil e quase sempre trágica. Para ela foi um golpe muito forte a morte de 4 meninas em 63 com a explosão de uma bomba numa Igreja do Alabama. Casou-se com Andrew Stroud que servia de seu empresário, mas com um preço muito alto, já que a espancava regularmente. Envolvida na onda de protestos pela igualdade racial nos anos 60, teve seu primeiro sucesso com I Love You Porgy de Porgy and Bess. Mas as pressões foram deixando-a instável e afetaram seu trabalho e mente. Teve uma filha atriz Lisa Simonne Kelly (que fez Aida na Broadway e aparece no filme confessando que nunca conseguiu se dar bem com a mãe e por vezes pensou no suicídio ). Na verdade,ela foi se tornando cada vez mais intratável, perdendo contratos e se fixando na Europa onde sentia que era mais respeitada.

O filme retrata tudo isso com simplicidade sem exagerar no lado triste, mostrando trechos de seus diários e sem esconder que havia se tornado maníaca depressiva (e muitas vezes, como na cena inicial, basta mostrar ela entrando no palco em Montreux na Suiça, que já se percebe seu estado mental). Talvez eu cobrasse um pouco mais de música, de performances, mas nunca se sabe, as vezes as fontes cobram tão algo por direitos autorais de canções, que vai ver não teve orçamento para mais. Não duvido que em breve venha a se tornar um filme biográfico (como o recente Bessie, sobre Bessie Smith). De qualquer forma usaram trechos da autobiografia de Nina, chamada como um de seus sucessos, I Put the Spell on You. Engraçado como disse um fã, a voz de Nina não se presta a um casual (ou easy) listening. É forte, poderosa, pode mesmo incomodar. Mas sempre revelando a dor na alma de um ser humano amargurado. Procurem ver o documentário que vale a pena!

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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