A Obra Prima Que Destruiu uma Carreira e Faliu um Estdio
Mais um colaborador para o nosso time: Marcus Pacheco. Conhea a coluna Rebobinando Filmes
A Obras Primas do Cinema lança em outubro um dos filmes mais sonhados por colecionadores e curiosos do cinema: O Portal do Paraíso - versão integral. Nunca lançada no Brasil, nem mesmo em VHS, os pobres mortais como eu, ratos de locadoras, só puderam assistir, na época pré-downloads, a versão picotada de 2 horas. E este corte "matou o filme" literalmente. Ficou ruim, incompreensível, sem ritmo. Lembro bem de uma sequência de eventos que simplesmente não continua. E esta versão integral lançada agora é um primor. Há exemplos como Apocalipse Now, que há a versão normal e estendida, e ambas são compreensíveis. No caso do Portal do Paraíso foi diferente: cortaram o filme arbitrariamente. Resultado? Arrecadaram US$ 1 milhão nas bilheterias Para a realização do filme, gastaram cerca de US$ 40 milhões (no valor atual US$ 200 milhões), dando prejuízo de quase 98%, um dos piores resultados de bilheteria da história cinematográfica.
ARTISTAS UNIDOS
Mas não há como falar do filme sem mencionar a United Artists, criada pelo quarteto fantástico: Charlie Chaplin, Mary Pickford, Douglas Fairbanks e o diretor D.W. Griffith .
A Empresa foi a primeira a ser cuidada por artistas e não por profissionais do ramo de negócios. A principal meta dos sócios era controle total dos seus trabalhos, tendo assim liberdade artística para realizar o que quiserem. Por razões obvias, a UA conquistou rapidamente prestígio.
Samuel Goldwyn e Alexander Korda retiraram-se dela no começo dos anos 1940 (eles eram detentores de importantes fatias em ações da United Artists) quando a companhia começou a lutar para se manter financeiramente, principalmente por não possuir um estúdio próprio de filmagem. Contudo, a partir dos anos 1950 e 1960, rodar cenas externas aos sets de filmagem tornou-se comum, e não ter um estúdio de filmagens passou a ser uma vantagem cada vez maior. Nos anos 50, os sócios originais já tinham vendidos sua parte na empresa. No entanto ela continuou firme na produção com filmes de sucesso de crítica e público (a série de filmes 007 foi um exemplo).
Com o fracasso estrondoso de Portal do Paraíso (1980), a MGM adquiriu a companhia, fundindo-se a ela em 1983 para se tornar MGM/UA Entertainment. Mas foi em 1992 que houve a morte da marca, quando o banco francês Credit Lyonnais adquiriu a empresa cinematográfica e mudou seu nome de volta para Metro-Goldwyn-Mayer Inc.
Na foto vemos, da esquerda para a direita, D.W. Griffith, Mary Pickford, Charlie Chaplin e Douglas Fairbanks, e em segunda linha os advogados Albert Banzhaf e Dennis F. O’Brien, no momento da assinatura do contrato para a criação da United Artists.
CIMINO
Não há uma hora mais oportuna para revisitar a curta e marcante filmografia de Michael Cimino. O diretor faleceu aos 77 anos em 2 de julho deste ano. Sua partida repentina provocou uma onda de revisões aos seus filmes, principalmente a O Franco Atirador sua obra prima mais premiada.
O diretor teve uma ascensão rápida, começando por um filme com Clint Eastwood (O Último Golpe) e, logo a seguir, venceu o Oscar com O Franco Atirador (filme e diretor) sendo que o filme ganhou 5 no total. E no mesmo ano, venceu Globo de Ouro, Bafta e Directors Guild. Detalhe, ele poderia ter saído com 3 Oscars se vencesse o de roteiro. E era apenas seu segundo filme. Após o sucesso obtido com O Franco Atirador, Michael Cimino era visto como a nova sensação de Hollywood e a United Artists lhe deu completa liberdade artística para filmar um roteiro de sua autoria.
E foi ai que seu caminho se une com a United Artists em seu terceiro filme: Portal do Paraíso. Já com o status de "gênio", meteu os pés pelas mãos com o filme. Sua mania de perfeição levou a sua equipe a criar cenários gigantescos, além do fato de que ele demitia e contratava cenógrafos e atores (Willem Dafoe foi um deles, que aparece somente na versão integral), fatos que estouraram o orçamento e estenderam as filmagens em quase 12 meses. Algumas situações também contribuíram para denegrir a imagem do filme, como mortes de animais e limitado acesso de produtores e jornalistas ao que estava sendo realizado. Muitas das críticas que foram feitas ao filme se deram por conta da liberdade que ele toma em relação à verdadeira história em que ele se baseou.
Seu perfeccionismo Kubrickiano causou estragos. Tom Cruise repetiu 80 vezes uma cena até que ficasse da forma que Stanley Kubrick queria em De Olhos Bem Fechados (1999). Kris Kristofferson acordando de uma bebedeira repetiu 52 vezes (detalhe: na tela dura 5 segundos).
Estes fatos aliados ao retumbante fracasso do filme, levaram ao fim de sua carreira (fez apenas mais 4 filmes) e o fim da já citada acima United Artists.
Morreu uma carreira, um estúdio, mas nasceu uma lenda: Heaven's Gate.
O PORTAL DO PARAÍSO
Que estrago. Mas valeu a pena. A versão integral, sem dúvidas é um dos maiores filmes já feitos. Ele conta com atores como Mickey Rourke, Jeff Bridges, John Hurt, Isabelle Huppert, Sam Waterston, Geoffrey Lewis, Brad Dourif, Joseph Cotten, Christopher Walken, Terry O'Quinn, Willem Dafoe).
Uma das grandes sacadas do filme é ele ser um produto reflexivo, ainda que a ação apareça aqui e ali em sua longa duração. A sensacional fotografia fica a cargo de Vilmos Zsigmond, que também faleceu em 2016, em janeiro. Vilmos trabalhou em filmes como Onde os Homens São Homens (1971), Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), O Franco Atirador (1978), Dália Negra (2006), entre muitos outros, sendo que concorreu a 4 Oscars, vencendo um por Contatos Imediatos.
O Festival de Cannes o saudou, apesar de ter dado o prêmio para Homem de Ferro, do polonês Andrzej Wajda. A crítica americana massacrou, colocando o filme para concorrer o Framboesa de Ouro, "vencendo" justamente o Pior Diretor. É o céu e inferno de Cimino.
A história escrita por Michael Cimino retrata o incidente ocorrido no Wyoming em abril de 1892 e que ficou conhecido como “The Johnson County War”. A produção faz uma referência ao massacre de My Lai ocorrido em 1968 no Vietnã, estendendo assim a ferida retratada em O Franco Atirador.
A ação se passa durante três dias com a chegada do delegado federal James Averill (Kris Kristofferson) ao condado de Johnson. Lá a associação dos pecuaristas planeja se defender contra imigrantes que estariam roubando cabeças de gado de seus rebanhos com a autorização do governo federal. Averill se posiciona contra a associação dos criadores que então contrata 50 mercenários para assassinar 125 imigrantes cujos nomes fazem parte de uma lista que chega às mãos de Averill. O líder dos grandes proprietários de terra é Frank Canton (Sam Waterston) que tem ajuda do seu matador, Nathan D. Champion (Christopher Walken).
Um triângulo amoroso se forma com Averill e Champion gostando da mesma mulher, Ella (Isabelle Huppert) a dona do prostíbulo local. Ella aceita dinheiro ou gado roubado como forma de pagamento e por isso é incluída na lista entre os 125 nomes marcados para morrer. Os imigrantes se unem e se armam e para enfrentar os homens de Canton numa batalha violenta da qual Averill também participa ao lado dos perseguidos imigrantes.
O filme foi recentemente aclamado como Obra Prima recentemente por grandes críticos e diretores, inclusive Cimino foi reconhecido com autor máximo desta grande obra.
Imperdível, Obrigatório, Obra Prima do Cinema.
Sobre o Colunista:
Marcus Pacheco
Marcus V. Pacheco jornalista, formado na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Cinfilo, Editor de site, Colecionador e Escritor. Marcus j realizou vrios curtas metragens e um longa chamado "O ltimo homem da terra (2001)", baseado no conto de Richard Matheson. Escreveu tambm 30 e-books sendo 29 sobre cinema e um de fico que est em fase inicial para publicao. Criador e editor do site "Tudo sobre seu filme (http://www.tudosobreseufilme.com.br/)" onde publica crticas, listas, aulas de cinema e curiosidades do mundo da 7 arte h 4 anos, alm de realizar entrevistas com atores, diretores, crticos e colecionadores do mundo todo.