MEMORIA REF: Minha Vida Como Criador de Vampiros

Rubens lembra como foi fazer uma novela com vampiros e seus bastidores

15/06/2020 14:16 Por Rubens Ewald Filho
MEMORIA REF: Minha Vida Como Criador de Vampiros

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Pouca gente sabe que eu fui autor da ultima telenovela da Rede Tupi e que essa foi uma história de vampiros, vagamente inspirada no livro de Bram Stoker e que se chamou “Drácula, uma Historia de Amor”. Como se vê, essa moda de vampiros que vivemos no momento, já é coisa velha. Na verdade, a idéia do projeto era de Walter Avancini, que naquele momento começava como diretor artístico da Emissora. O Álvaro de Moya que era muito amigo dele e meu, foi quem me recomendou para fazer a novela, graças ao meu conhecimento do assunto (basicamente por causa do cinema). Eu vinha de fazer “Gina” na Globo (onde continuei como crítico de cinema, então curiosamente fazia novela numa rede e crítica noutra, o que naqueles tempos ainda era possível, já que eram funções diferentes e ambas como freela, não empregado).

Gostei da idéia e não tive problemas com o pacote que me ofereciam, Rubens de Falco deveria ser o Drácula romântico (influenciado sem dúvida pelo sucesso na Broadway de uma remontagem da peça inspirada em Stoker com o ator Frank Langella, que depois faria também no cinema uma versão mal sucedida). A sacada era fazer um Drácula romântico, ou seja, um vampiro sensual (ou seja, nada de novo na face da terra com Crepúsculo!), irresistível para as mulheres (fazendo obviamente a relação entre contato sexual e contato de vampiro chupando sangue do pescoço). Também estava o casal (até hoje, mas então era recente) Bruna Lombardi e Carlos Alberto Ricelli (que era meu amigo, tínhamos Silvio de Abreu e eu, lançado ele como astro noutra novela, Éramos Seis).

Com Rubens de Vampiro, eu tinha que fazer uma história a sério, se me dessem Ney Latorraca teria feito uma comédia. Rubens (já falecido) era um bom sujeito, muito reservado, muito preocupado com sua imagem. Usava uma boa peruca e só no fim da vida teve a coragem de tirá-la. Era um cavalheiro e acho que ainda injustiçado como ator. Já não era rapazinho, mas convencia plenamente como sedutor. O problema é que o vampiro é um falso bom papel, porque vejam os filmes de Christopher Lee, ele chega, chupa o pescoço, dá uma voltinha e some. Ele não tem cotidiano, não acorda, toma café, conversa com as pessoas. E isso é fundamental numa novela. É apenas atormentado por paixões e o drama de ser imortal (o que deve ser terrível, as pessoas que ama morrem e ele continua). Embora as coisas girem em torno dele, é preciso ter em torno de si um universo rico (e por isso inventei toda uma cidadezinha, com padre, ricos e pobres) e um ajudante corcunda Igor (emprestado de outros contos de terror) que foi muito bem vivido por Emilio de Biasi, que as pessoas lembram mais como diretor. Mas a partir daqui ele fez ótima carreira na Globo.

Como Avancini tinha definido que a novela deveria ir no horário das sete, o jeito foi inventar um garoto para as crianças se identificarem e também um cachorro policial alemão, que seria um aliado de Drácula (o menino era Matheus Carrieri, que outro dia disse para ele, era meu ator infantil preferido). Mas como nada é perfeito, os cinco capítulos iniciais da novela foram ao ar e a Tupi faliu. Ficamos todos desempregados e a novela inacabada. Depois seria retomada pela Bandeirantes, mas isso já é outra história que fica para outra vez.

O que queria passar era que a fascinação por vampiros não é novidade, e que o meu jeito de lidar com isso, foi construir uma grande história de amor. Drácula foge da Transilvânia (então Hungria) no primeiro capitulo, e não Romênia como muitos insistiam, expulso pelos camponeses e vinha para o Brasil refugiado, numa cidade do interior onde por acaso (ou não, levado pelo instinto) esta a antiga ama (a grande Isabel Ribeiro) com um rapaz que é seu filho (Ricelli) e, portanto herdou seus poderes e maldições. Um rapaz que ama uma mulher (Bruna) que por acaso é reencarnação (ou ele acha que é) da única mulher que Drácula amou e perdeu. Pronto: está formado o triangulo amoroso. Não me ocorreu na época colocar nenhum Lobisomem como em Lua Nova. Vai ver que foi aí que eu errei.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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