O alemão Jürgen Habermas é um navegador de ideias. Tenta tomar o caminho mais direto para seus grandes rios. Mas é preciso transpor algumas montanhas para o captar. Agir comunicativo e razão destrancendentalizada (Kommunikatives detranszadenlinerte Vermunft; 2001) é um opúsculo. Socorrendo-se de Kant, Heidegger e Wittgenstein, Habermas adapta esses estranhos a seu modelo de pensar: a seu universo. A relação entre uma ação de comunicação e a razão que destranscendentaliza para acoplar-se ao mundo dos homens é dada pela sintaxe das relações entre as pessoas; como uma coisa pode levar à outra, como a comunicação pode topar a razão, isto é, como Habermas assevera desde tempos imemoriais, como desobscurecer o pensamento mais complexo para que o pensar se transforme no “holofote que ilumine a falta de racionalidade frequentemente encontrada” (entrevista de Habermas a Juremir Machado da Silva em setembro de 1989).

Aqui, neste Agir comunicativo, deparamos: “Quando principalmente as estruturas do intelecto são cunhadas pela gramática da linguagem, se coloca a questão de como as sentenças e predicativo, na variedade de seus contextos de utilização, poderiam manter aquela generalidade e identidade de sentido sobre os quais os juízos e conceitos efetivamente ordenam, na esfera mental.” Ou o encontro daquilo que Habermas chama “intersubjetividade partilhada”. Seria possível? Talvez num signo criado por Habermas, a “esfera pública”, constantemente destruído pela irracionalidade.

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)