Schrader Acompanha Oscar Wilde e Robert Bresson Numa Caravana Estética e Espiritual

Eron Fagundes comenta a presença da temática sobre o homossexualismo no filme O Acompanhante e suas relações

29/10/2012 02:31 Da Redação
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O escritor inglês Oscar Wilde é citado, de viés e ironicamente, pela personagem de Woody Harrelson em O acompanhante (The walker; 2007), um dos inéditos mais ou menos recentes do diretor americano Paul Schrader. Harrelson vive um homossexual cheio de falsetes e afetações, lembrando mesmo um dândi britânico de antigamente, ainda que ironize. Wilde, repassado pela influência do cinema europeu dos anos 60 aos 80, é de fato um espírito que assombra as sutilezas de movimentos de câmara e a contemplatividade geral e exacerbante de O acompanhante. Wilde está dentro do filme de Schrader, um pouco maneiroso, um pouco formalista, mas danadamente sedutor para o esteta.

E dentro de O acompanhante surge, ainda e sempre, a sombra de um dos mestres de Schrader, o cineasta francês Robert Bresson. Mas agora na maturidade Schrader elabora melhor esta influência. Em Gigolô americano (1980) Schrader refazia as carícias entre grades, trocadas entre os amantes, como forma de opor-se à prisão física e libertar-se espiritualmente, tal qual Bresson  havia composto de maneira perfeita em Pickpocket (1958); no filme de 1980 o resultado era um plágio mofado do êxtase bressoniano. Em O acompanhante há uma evocação homossexual desta cena de Bresson: a criatura de Harrelson e um namorado se beijam entre grades. O resultado é mais criativo e cativante que em Gigolô americano. Não é para menos que Schrader semeia estas alusões ao momento beijo-entre-grades de Bresson; como se vê por seu texto sobre o diretor francês em O estilo transcendental em filme (1972), é uma imagem que o impressiona bastante. “Jeanne vai visitá-lo na prisão e ele, num gesto totalmente inesperado, beija-a através das grades dizendo, ‘Foi um longo caminho que me trouxe até você’, escreve Schrader em seu livro, como antevendo a marca milagrosa desta sequência em seu olhar de diretor, para bem e para mal.

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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