A Escrita Segundo Assis Brasil

Luiz Antonio de Assis Brasil compoe seu ensaio Escrever ficcoo (2019) de suas vis?es como escritor de romances e como o mestre de oficinas literarias

30/01/2020 14:30 Por Eron Duarte Fagundes
A Escrita Segundo Assis Brasil

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Ficcionista renomado, professor universitário e criador duma Oficina de Criação Literária há mais de três décadas onde ajuda os aspirantes a escrever ficção, Luiz Antonio de Assis Brasil compõe seu ensaio Escrever ficção (2019) de suas visões como escritor de romances e como o mestre de oficinas literárias. No não-prefácio de seu livro, ele adverte que escreveu suas notas “para auxiliar quem deseja escrever textos de ficção”. E acresce: “Desse modo, poderá ser lido como um manual —mas também como um percurso de reflexões sobre a escrita”. Assim: se o leitor não aspira a escrever ficção, pode deleitar-se com as meditações sobre literatura deixadas por quem entende do riscado, alguém que foi capaz de acertar na veia de contar uma história em palavras em O inverno e depois (2016).

Não é novo este processo em que um escritor fala de sua arte. O inglês E.M. Forster cometeu suas sedutoras divagações em Aspectos do romance (1927); sim: aspectos, aqui e ali, em visões particularíssimas sobre o que Forster observou como leitor. O argentino Ernesto Sábato faz em O escritor e seus fantasmas (1963) o que ele chama “variações em torno de um só tema”: “por que, como e para que se escrevem ficções?” O brasileiro Autran Dourado, em Uma poética do romance; matéria de carpintaria (1976), propõe um “ensaio-fantasma” onde a matéria é feita basicamente dos livros que ele próprio escreveu, porém o autor não deixa de espiar para os lados, para aquilo que outros escreveram. Há também os prefácios-ensaio do americano Henry James à entrada de suas obras: auto-holofotes estéticos. Mario Vargas Llosa, o prestigiado romancista peruano, compôs nos anos 70 um tratado sobre Madame Bovary; e mais recentemente, em 2004, tergiversou, à sua maneira de argúcia derramada, sobre Os miseráveis. Escrever ficção insere-se um pouco neste rol, mas tem em sua base algo mais concreto do que a visão subjetiva de quem lê ou escreve, uma certa objetividade que vem das aulas de escrita que Assis Brasil tem dado nas oficinas.

Com frequência o escritor dirige-se ao leitor de Escrever ficção como a alguém sempre às voltas com os problemas de compor um romance. Mas este leitor que escreve está finalmente dentro do próprio livro que o mestre está escrevendo. Este leitor aparece “fisicamente” no texto, é Thiago, está redigindo uma história, representa todos os demais aspirantes que estão do lado de fora do texto; Assis Brasil aproveita muito das inquietações de Thiago para dar suas pistas que vão estruturando Escrever ficção como uma lucubração acerca da arte de escrever ficção; assuntos como a personagem, o conflito, a questão essencial são fios ou linhas que, para além de ajudar alguém a compor, o ajudam igualmente a ler o que está composto.

No começo mesmo de Escrever ficção, o não-prefácio, Assis Brasil lembra que seu livro não poderá substituir as leituras e as releituras das obras literárias, que é a fonte mesmo do que forma um escritor. A teoria literária não substitui a literatura, certo, mas é uma paralela iluminadora. Quando um ficcionista experimentado adiciona seu momento teórico, não se dirá que sua experiência possa ser melhor ou mais autêntica que a de outro leitor ou crítico, mas se dirá que certamente esta experiência traz um viés particular. Este olhar próprio é um pouco determinado pela perturbadora frase final de Escrever ficção: “caso você tenha aprendido alguma coisa de útil neste livro, você só será ficcionista por inteiro no dia em que o tiver apagado da memória.” Nesta sua sacada final o autor produz um choque de ideia com aquele desejo expresso na primeira frase do não-prefácio em que alude ao desejo do livro de ser um simples auxiliar do ficcionista incipiente.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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