O Fogo Esttico em Refn

O dinamarqus Nicolas Winding Refn tem o condo de dividir radicalmente as opinies sobre seus filmes

10/02/2017 21:37 Por Eron Duarte Fagundes
O Fogo Estético em Refn

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O dinamarquês Nicolas Winding Refn tem o condão de dividir radicalmente as opiniões sobre seus filmes. Considerado por boa parte dos críticos sisudos um mistificador inconsequente do cinema (o norte-americano David Lynch, outro formalista deslumbrante, também tem enfrentado este apodo de alguns analistas), defendido por outros como um criador fascinante de imagens essencialmente cinematográficas, Refn torna a provocar reações disparatadas em seu novo filme, O demônio de neon (The neon demon; 2016), que é na verdade seu segundo filme exibido comercialmente no Brasil. O outro filme de Refn visto nos cinemas comerciais brasileiros, Drive (2011), tinha momentos da intensidade visual do estilo de encenação do realizador, mas em seu conjunto buscava uma espécie de vazio formal que nem sempre concretizava a hipnose fílmica que está na raiz do cinema de Refn; esta hipnose delirante ressurge agora em O demônio de neon, resgatando aquele brilho apaixonante de Guerreiro silencioso (2009), inédito no Brasil.

O universo e a trama de O demônio de neon são bastante triviais e, não fosse o precioso método de encenação de Refn, caberia num convencional melodrama de Hollywood. O ambiente em que se passam as ações do filme é o mundo da moda, em Los Angeles, que á cidade-meca do cinema, estabelecendo aí um confronto entre uma atriz e uma modelo, quase como se O demônio de neon se olhasse no espelho; a trama é singela, pois  trata da ciumeira entre as modelos quando uma delas, jovem e bonita, desperta a atenção e o interesse (inclusive erótico) de um chefão de estúdio. O que diferencia O demônio de neon de qualquer produto do gênero são as características muito particulares do cinema bastante tresloucado de Refn; com extremada grandeza estética, Refn imprime um certo fogo inusitado à sua narrativa (tão diferente de tudo) e vai produzindo algumas riquezas cinematográficas ao longo de seu caminho de filmar que podem provocar reações desparelhas em espectadores variados. As personagens do mundo da moda, tal qual Refn as exibe, não são nunca superfícies polidas; a atmosfera mefistofélica, como se tudo de repente fosse mergulhado nos labirintos infernais, domina a cena e subitamente o observador está diante de salas sem abertura para lugar nenhum, somos afundados numa claustrofobia estética que perturba, tonteia, pode hipnotizar ou afastar, dependendo das idiossincrasias de cada um.

Para o autor destas linhas, O demônio de neon é um dos mais belos filmes da  temporada de cinema de 2016 em Porto Alegre. Beleza em grau máximo e criativa. Algo necessário para estes tempos fechados e burocráticos. O primeiro filme de Refn chamou-se Bronson (2008) e já metamorfoseava os clichês. O penúltimo de seus filmes, Apenas Deus perdoa (2013), exibido na televisão, também foi vítima de incompreensão: seus delírios exacerbavam a paciência até de quem estava habituado a estes delírios fáusticos. O demônio de neon encarcera os limites destes delírios num pátio de demências que, subterraneamente, simbolizam nossa própria época. Quem sabe é este espelho incômodo posto em nossa sala que incomoda algumas almas que por azar deparam com sua presença?

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro “Uma vida nos cinemas”, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a dcada de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicaes de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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