As Nuancas da Comunicacao: Seculo XXI

Eis o ponto a que chega Wolton em suas nuancas mais avancadas. Comunicar eh tambem enfrentar as dificuldades de comunicacao

30/09/2023 03:02 Por Eron Duarte Fagundes
As Nuancas da Comunicacao: Seculo XXI

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Dois conceitos dão entrada ao desenvolvimento dos raciocínios no livro Comunicar é negociar (Communiquer, c’est négocier; 2022), potente ensaio do francês Domninique Wolton: informação e comunicação; o primeiro, o autor o atrela à liberdade, o segundo ele o dá como a descoberta da existência do outro. No título de sua “Introdução”, como em todos os títulos dos capítulos do livro, Wolton já dá sua pista de ideias, de maneira bastante objetiva: “Uma teoria política da comunicação”. O título do livro mesmo vai também por aí: comunicar é negociar. Nada mais transparente do que isto: se somos diferentes, se discordamos em quase tudo, precisamos negociar; caso contrário, não há comunicação. O universo recente do século XXI (um debruçar-se  sobre a simbologia real da União Europeia, crises como a Covid 19 e a guerra da Ucrânia) cabe inteiro nas teses que Wolton elabora: eis um teórico que olha para a realidade com agudeza.

“Em última análise, a complexidade da comunicação é crescente e resulta do percurso altamente incerto entre o emissor, a mensagem, o receptor, o contexto, as desigualdades, as trocas comunicacionais, a ruptura e a convivência...”

No mundo de muitas fronteiras, Wolton vê nestes espaços fronteiriços um exercício de nossa relação com o outro. “O melhor exemplo da ambivalência dos muros e fronteiras? O projeto político da União Europeia.” E vai ao campo: “Essas áreas de fronteira são ótimos exemplos de convivência.” A ambivalência da realidade tem na escrita de Wolton uma clareza verbal não fácil de atingir. Wolton se aproxima de certas complexidades das relações humanas dando-lhes, no entanto, uma forma quase direta com suas frases. Explica-se o pensador: “Acredito que, à força de viajar pelo mundo, a realidade da alteridade se impôs definitivamente a mim. Também tenho sido cada vez mais perseguido pela tradução como desafio da globalização. O esquema se encaixou: todos buscamos a comunicação e, na melhor das hipóteses, convivemos. Se convivemos, é porque a comunicação está no horizonte da dificuldade de comunicação.”

Eis o ponto a que chega Wolton em suas nuanças mais avançadas. Comunicar é também enfrentar as dificuldades de comunicação, que são parte da própria comunicação. Diz Wolton que a história não acabou. O que significa: devemos estar sempre atentos às mutações em curso. Teórico da comunicação, uma comunicação que se tecnologizou (cada vez mais) e também uma comunicação que optou pelo privado econômico (cada vez mais), Wolton permanece um humanista. E um realista pleno: os pés no chão. Escreve: “O ser humano não é necessariamente pacífico e altruísta. Muitas vezes é agressivo; a política é, em última instância, o meio menos violento de regulação.” Como conciliar o ultramoderno que deparamos com a essência que somos como seres humanos, sem cair ou no tecnicismo ou no anacronismo? “Se a informação, às vezes, é técnica, a comunicação nunca pode ser assim a longo prazo. É essencial preservar o vaivém entre o ser humano e a tecnologia, nunca esquecendo que o mais complicado e o mais difícil vem sempre da comunicação e da antropologia política.” Comunicar é negociar se põe para o leitor interessado em sociologia do século XXI exatamente assim: longe das palavras de ordem definitivas, que já não fazem sentido como certezas lapidares, estamos diante de um texto que se  assemelha a uma água a que sempre podemos voltar, em qualquer situação, para meditar no mundo, porque vê as coisas de maneira flexível sem deixar de adotar sua força, bastante pessoal.

 

(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)

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Sobre o Colunista:

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes

Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br

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