A Seducao do Seculo XXI
Tremor (Strong motion; 1992) pertence a ultima decada do seculo XX. Mas, lido agora na alvorada do XXI, nao envelheceu
Cada século tem sua sedução narrativa. Não se sabe o tamanho desta sobrevivência. O romancista americano Jonathan Franzen tem a sedução de narrar própria do século XXI. Lido e bafejado pela crítica, ele atinge a alma multimórfica do leitor do século XXI, pós-cinema, pós-pós-moderno; as referências de Franzen, como se vê de suas citações aos ficcionistas americanos Sinclair Lewis e Henry James (o paradoxo entre a Boston de James e a da atualidade da narrativa de Franzen é um dado bem encaixado no romance de que vou falar), o romancista americano é um signo absoluto de nosso tempo, com suas magnitudes e irregularidades.
O romance de que trato: Tremor (Strong motion; 1992) pertence à última década do século XX. Mas, lido agora na alvorada do XXI, não envelheceu e parece dirigir-se ao leitor desorientado e perplexo destes dias turbulentos e quase indecifráveis em sua desordem constante e paradoxal.
Louis Holland é o protagonista que, retratando talvez uma parte do romancista, carrega nas tintas do homem atual, confuso entre seus sentimentos para com as mulheres (a sismóloga Renée Seitchek ocupa boa parte de seu coração) e as questões abrangentes da sociedade, como a ecologia e os estudos dos tremores de terra. A rebeldia do planeta contra o homem é mais lenta do que o terrorismo que nos assola de uns anos para cá, mas traz, em Tremor, o selo duma implacabilidade surda e perversa.
Não se pode dizer que Tremor chegue a extrair dos dados que desfila tudo o que é extraível, literariamente; mas o que extrai é suficiente para extrair o que seduz e importa ao amante de literatura possível nos dias de hoje.
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br