OSCAR 2014: O Grande Gatsby (The Great Gatsby)

O filme confirma o estilo de Baz Luhrmann como um grande criador de imagens e concorre ao Oscar® de melhor Direção de Arte.

09/02/2014 19:17 Por Rubens Ewald Filho
OSCAR 2014: O Grande Gatsby (The Great Gatsby)

tamanho da fonte | Diminuir Aumentar

 

O Grande Gatsby (The Great Gatsby)

EUA, 13. Direção de Baz Luhrmann. Baseado no Livro de F. Scott Fitzgerald.  142 min. Com Leonardo Di Caprio, Joel Edgerton, Jason Clarke, Isla Fisher. Carey Mulligan, Tobey Maguire, Elizabeth Debicki.

 

Sou adepto de assistir certos filmes mais de uma vez, porque já descobri que tenho a tendência de não gostar do que foge as regras, do que é ousado e novo. Por isso acho que fui injusto com O Grande Gatsby, que concorre ao Oscar® de melhor direção de arte (ganhou também o premio do Sindicato da categoria). E que acabou sendo um grande sucesso de bilheteria (teve orçamento generoso de 105 milhões de dólares,  e renda de 144 nos EUA e mais 206 internacional). Tudo se considerando que é a adaptação de um romance clássico (não dos mais empolgantes) e que já foi filmado antes ao menos 3 vezes antes.

Quando se pensa no diretor Baz Luhrman  se pensa que se trata de um novo Moulin Rouge.  Foi preciso revê-lo para convir que realmente o diretor optou por um visual estilizado, delirante, fervente, tão louco quanto os anos vinte. Tanto que por vezes fica com cara de desenho animado. O  uso da Terceira Dimensão não procura efeitos fáceis, esta muito mais próximo do que fez Martin Scorsese com Invenção de Hugo Cabret, procurando dar a imagem  mais  volume, destaque, profundidade, forma. E sem duvida vesti-lo de um certo charme e encanto de conto de fadas da Disney. Isso ate  torna o filme de certa forma bonito demais, exagerado, fica mesmo pertinho do over, do quase cafona, do caricato, trata a delicada historia de amor como se fosse um número do Cirque Du Soleil!

Foi uma excelente ideia da Paramount em lançar justamente agora em Blu Ray, a versão anterior de O Grande Gatsby de 74 (ainda que em cópia sem nenhum absolutamente nenhum extra!). Tive a oportunidade de revê-lo e me parece interessante comentar várias coisas. Na verdade, é preciso remeter ao fato de que Gatsby é considerado a obra-prima do escritor F. Scott Fitzgerald (1896-1940, que não esta nem creditado na versão atual), muito autobiográfico já que realmente frequentou as festas de alta sociedade numa ilha perto de Nova York. Foi editada em 1924, quando ainda estava no auge (depois para sobreviver tentou escrever para Hollywood, mas acabou derrotado pelo alcoolismo e a demência de sua mulher Zelda).

Leitura obrigatória nas escolas americanas, Gatsby pinta o retrato de um misterioso milionário que esconde a origem de sua fortuna (mas dá para saber por suas ligações com gangsters que tem a ver com contrabando e atividades escusas). Na verdade, ele alugou uma mansão espetacular e dá festas sensacionais e abertas a todos, na esperança de chamar a atenção de Daisy, por quem ele se apaixonou quando era muito jovem. E foi rejeitado porque como ela explica: “moça rica não se casa com homem pobre”. Agora ele vida no lado pobre da Baia observando o farol que ilumina a casa de Daisy do lado oposto e chique.

Houve versões do livro ainda no cinema mudo, em 26, com Warner Baxter e Lois Wilson, dirigido por Herbert Brenon e depois outro esquecida mas interessante de Elliot Nugent, estrelado por Alan Ladd (a figura ideal para Gatsby), Shelley Winters (outra Mirtle perfeita), e a inadequada Betty Field como Daisy. O titulo era mais esquisito, Até o Céu Tem Limites! Além desta versão de 74, houve um telefilme de 2000 com Mira Sorvino e Toby Stephens (filho de Maggie Smith) e uma versão black disfarçada chamada G (G - Triangulo Amoroso, 2002) com Blair Underwood, Richard T. Jones.

A ideia de fazer a versão de 74 na Paramount foi do então chefe de produção Robert Evans (o mesmo que  fez O Poderoso Chefão e Chinatown) que comprou os direitos em 1971,  porque achava que o papel de Daisy era ideal para sua então mulher Ali McGraw (que ele tinha revelado em Love Story). Infelizmente ela se apaixonou por Steve McQueen largou o marido e destruiu a carreira.  O roteiro estava sendo feito por Truman Capote, mas na versão dele Nick era homossexual e Jordan uma vingativa lésbica. Coppola reescreveu tudo em três semanas e foi bastante fiel ao original. A escolhida acabou sendo Mia Farrow, que estava grávida (o que é não tão discretamente escondido). O curioso porém é que ela com todo seu ar de sonsa e sonada é  melhor do que a atriz da versão atual, a chata e sem  brilho Carey Mulligan. Mia consegue passar a frivolidade e o vazio do personagem, assim como ao menos refletir suas duvidas e anseios. A artificialidade ela construiu para ar consistência a um papel difícil porque é contraditório. Ainda que mais ingrato ainda seja o de Gatsby, que é passivo e tem menos chance ainda de se explicar (e quando o faz resulta tolo). Mia dizia com razão que Redford não tinha a menor química com ela. O ator costumeiramente bonitão, aqui parece realmente ausente.

Mas os dois filmes tem em comum ainda o fato de terem um elenco de apoio muito discutível (a francesa e novata Elizabeth Debicki, que faz Jordan tem uma figura intrigante.  Sam Waterston com cara de presidente Lincoln ao menos tinha seriedade enquanto nesta versão o amigo na vida real de Leonardo Di Caprio, o ex menino aranha Tobey McGuire não consegue sustentar o personagem tão importante do narrador (e primo de Daisy). Na verdade, não gosto de ninguém no filme. Principalmente o papel fundamental de Daisy, que deveria ser uma mulher inesquecível, sedutora e acabou nas mãos frágeis de Carey Mulligan! Até  DiCaprio que parece constrangido com tudo aquilo, nada à vontade (basta compará-lo com Lobo de Wall Street, onde esta confiante e seguro). O roteiro não ajuda porque eles nunca se explicam. Mesmo o contato sexual é mostrado de passagem e sem grandes consequências. A única cena que tem certa força é que Gatsby perde a paciência na festa no apartamento na cidade, mas não tem o devido impacto porque dali em diante tudo se precipita para o final.

A versão de 74 era mais fria, mas também mais romântica,  delicada. Aqui, em nenhuma delas o romance impossível consegue nos convencer. Será porque todo o filme foi rodado na Austrália, em locações em estúdio ou seja tudo ficou com cara de Disney? Nada é aprofundado (ainda assim em sua defesa é preciso dizer que o estilo do livro e do autor também é assim, nada escancarado, conservando sempre certo mistério). Apesar de feérico, este Gatsby resulta frio e longo, e também se diferencia da versão anterior  porque aquela ainda  mostrava a chegada do pai do herói, um homem humilde (o que ajuda a entender melhor sua identidade, tentando decifrar o mistério de quem foi realmente Gatsby).

De qualquer forma é melhor que o anterior Austrália e confirma o estilo de Luhrmann como um grande criador de imagens.

Linha
tamanho da fonte | Diminuir Aumentar
Linha

Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

Linha

relacionados

Todas as máterias

Efetue seu login

O DVDMagazine mantém você conectado aos seus amigos e atualizado sobre tudo o que acontece com eles. Compartilhe, comente e convide seus amigos!

E-mail
Senha
Esqueceu sua senha?

Não é cadastrado?

Bem vindo ao DVDMagazine. Ao se cadastrar você pode compartilhar suas preferências, comentar ou convidar seus amigos para te "assistir". Cadastre-se já!

Nome Completo
Sexo
Data de Nascimento
E-mail
Senha
Confirme sua Senha
Aceito os Termos de Cadastro