OSCAR 2014: Walt nos Bastidores de Mary Poppins (Saving Mr. Banks)
Com título infeliz, O filme que foi indicado ao Oscar® de Trilha Musical
Walt nos Bastidores de Mary Poppins (Saving Mr. Banks)
EUA, 13. Direção de John Lee Hancock. 125 min. Roteiro de Kelly Marcel, Sue Smith. Com Tom Hanks, Emma Thompson, Colin Farrell, Ruth Wilson, Paul Giamatti, Bradley Withford, Annie Rose Buckley, Jason Schwartzman, Kathy Baker, Rachel Griffiths.
Na lista de piores títulos de todos os tempos, eu reservo lugar de honra para este aqui, que mais parece uma legenda. Para começar ninguém sabe hoje em dia quem é Walt (Disney sim, mas não Walt, e também não esta no ar mais Disneylandia na TV, que na minha infância tinha incrível poder de promoção). Depois “bastidores” faz pensar em Making of (ou seja, uma coisa banal hoje) e Mary Poppins remete a um filme musical infantil (que no Brasil não é todo mundo que gosta).
Sem dúvida, de todos os chefes de estúdio da historia de Hollywood, o único que se tornou uma lenda foi Walt Disney, que conseguiu construir um império de entretenimento com o desenvolvimento de seus personagens de desenho animado e o sonho dos parques de diversão. Apesar de ter falecido em 1966, sua lenda continua e ganha um filme produzido pelo próprio estúdio que criou, relembrando como ele conseguiu realizar um sonho, transpor para o cinema como musical, o livro infantil Mary Poppins. O problema: a autora a má humorada inglesa P.L. Travers não queria vender de jeito nenhum os direitos autorais. Esses fatos são retratados com Tom Hanks, como Walt Disney e Emma Thompson como a escritora, num papel que lhe deu o Globo de Ouro de melhor comediante. O filme que foi indicado ao Oscar® de trilha musical (um simpático trabalho de Thomas Newman) foi rejeitado entre outras coisas, pela ma reputação atual de Disney (saíram muitos livros o acusando de racista e politicamente reacionário, e parece que é verdade mesmo).
O estúdio chamou Hanks para fazer Disney se esquecendo que eles não são nada parecidos, nem mesmo de bigode. E se preocuparam em fazer grande campanha para Hanks ser indicado como coadjuvante. Foi um lobby tão exagerado que acho que acabou prejudicando a indicação por Capitão Phillips.
Realizado por um diretor medíocre de confiança do estúdio, John Lee Hancock (Branca de Neve e o Caçador, O Álamo, Um Sonho Possível) o filme deixa outros detalhes de lado: por exemplo, o fato de que a autora P.L. Travers era lésbica, preferindo apresentar longos flash-backs dela criança na Austrália onde tem problemas com o pai alcoólatra e irresponsável (pouco feito para Colin Farrell). Sempre bonitinho, o filme tem o ponto forte na presença de Emma Thompson, que está engraçada na medida certa (não cai em caricatura) e são bem curiosas as brigas dela principalmente com os Irmãos Sherman, com quem ela tem os principais entreveros (outro problema é que Disney pouco convive com ela assim como a transformação final dela, rápida demais e nada convincente). Ainda assim não consigo imaginar quem vá se interessar por um filme destes, a não ser fãs e estudiosos de cinema. Custou 35 milhões de dólares, rendeu 81 nos EUA, 16 no exterior.
Sobre o Colunista:
Rubens Ewald Filho
Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de Éramos Seis de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o Dicionário de Cineastas, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.