OSCAR 2014: A Festa

Rubens Ewald Filho comenta como foi a festa do Oscar 2014, que teve Gravidade com 7 prêmios e 12 Anos de Escravidão como grande vencedor

03/03/2014 12:31 Da Redação
OSCAR 2014: A Festa

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Não me recordo de um ano como este, em que todos os nove finalistas para melhor filme eram de alta qualidade, todos poderiam ser premiados. De tal jeito que ficaria difícil imaginar que sucessos de público e crítica como Trapaça ou O Lobo de Wall Street de Scorsese saíssem de mãos abanando. E a pequena jóia Ela, tenha levado apenas um Oscar®, ainda que merecido, como o de roteiro original.

Ainda assim com um ano e uma safra tão boa, acho que os sócios da Academia, já muito experientes em lidar com política, fizeram a escolha certa. Melhor filme tinha que ser mesmo 12 de Anos de Escravidão, um trabalho muito digno e serio que transcendeu os limites da mera informação, virou um marco na História do cinema americano, como o primeiro grande filme sobre a escravidão (ainda que dirigido por um britânico cuja família emigrou de Belize e Granada) que deu também finalmente o primeiro Oscar® para Brad Pitt, hoje empenhado produtor. Era mesmo difícil resistir à denúncia que o filme apresenta justamente no momento em que a governo federal americano anuncia que todas as escolas secundárias americanas receberão em breve cópia do livro original e do filme. Ou seja, é algo que transcende o mero filme, vira evento e passa realmente para a História.

Por outro lado, os 7 Oscars para Gravidade foram igualmente merecidos, dando o primeiro Oscar® de diretor para um latino americano, o mexicano Alfonso Cuarón, que tenho enorme carinho e respeito porque foi daqueles que acompanhamos a carreira desde o começo e fomos vendo seu florescer até explodir com Gravidade, o verdadeiro herdeiro de 2001, uma Odisseia no Espaço. Por outro lado, Lupita (nome em homenagem a Nossa Senhora de  Guadalupe, é emigrante do Quênia que nasceu no México, o nome foi agradecimento a santa local) também é a primeira mexicana a ser premiada com o Oscar® de coadjuvante (houve antes apenas Anthony Quinn que nasceu no México mestiço de irlandês), mas não latina porque teve antes Rita Moreno por West Side Story. É curioso porém como seu fenômeno estourou de forma inesperada, graças em particular a sua beleza e principalmente porque vestisse incrivelmente no tapete vermelho, se tornando um ícone fashion instantâneo!

Mas a verdade para mim esta foi a melhor festa do Oscar® dos tempos recentes, foi rápida, sem conversa fiada, com Ellen De Generes divertida (o monólogo foi ótimo e provocador, mas dali em diante virou anfitriã de maneira muito simpática com a colaboração de toda nata de Hollywood, de Meryl à Angelina, aliás especialmente linda). Fiquei muito tocado do jeito que ela soube cuidar tão bem do veterano Sidney Poitier. Aliás a mesma coisa com Matthew McConauhgey com Kim Novak, infelizmente trazendo marcas da doença que a deixou com dificuldade de falar. Outro cavalheiro!).

E o que dizer então no beijo entre Matthew e sua mulher numa imagem que eu nunca vi na Festa do Oscar®? A brasileira acabou de entrar para a História também (uma curiosidade: Lupita começou no cinema pelas mãos de Fernando Meirelles quando foi assistente de produção dele em O Jardineiro Fiel, os pais deles eram políticos do Quênia). Os números musicais provocaram aplausos de pé para a agora Diva Idina Menzel, Bette Midler (pela primeira vez no Oscar® e chorando emocionada), mas ainda não foi dessa vez que o U2 levou o prêmio (nem a minha favorita de Ela).

Não consigo deixar em branco a plástica de Goldie Hawn, nem que seja para prevenir futuras besteiras. Irreconhecível. Achei que ficou a desejar a homenagem tão falada aos heróis, principalmente o ponto forte que seria com o Homem Aranha ao vivo chamando o Bat Kid, um menino que esta vencendo sua leucemia graças a estar realizando seu sonho de ser Batman (não sei porquê, mas todo o segmento foi cortado em cima da hora!). Achei as edições de imagem apenas básicas e mal conseguia ter o tempo de identificá-las. Afinal de contas a festa do Oscar® estava com ar de Festa em Família e não acho  isso nada mal. Fiquei mesmo impressionado com a correção das escolhas (até mesmo O Grande Gatsby com todos seus excessos mereceu seus 2 Oscars de figurino e direção de arte, oops, design).

Agora o fato que mais me impressionou foi colocarem o nosso brasileiro Eduardo Coutinho dentre o In Memoriam,o Rogério Gallo sugeriu que deve ter sido ideia do Walter Salles e acho muito possível mesmo. Nada mais merecido para tão ilustre cineasta (por outro lado não entendo porque a Academia pede para não aplaudir nessa hora!!! Seria a última homenagem, credo!). Outra ironia: o Oscar® consagrou o diretor Steve McQueen que teve seu nome assim porque o pai dele era grande admirador do astro homônimo dos anos 60-70 e que morreu em 1980 aos 50 anos de câncer. Sem ganhar qualquer premio! Foi indicado ao Oscar® uma única vez por O Canhoneiro de Yang-Tse embora fosse incrivelmente carismático. Para se ver como é a vida. 

Resta demonstrar minha satisfação pela vitória de Cate Blanchett como melhor atriz, não apenas por sua esplêndida interpretação em Blue Jasmine, mas também porque não deu certo a campanha de difamação levantada nas ultimas semanas pela Mia Farrow contra Woody Allen, 14 anos depois do fato ter sido julgado e indeferido. Tinha certeza que nessas coisas Hollywood era sofisticada o bastante para saber como é cruel a vingança da mulher traída, como já dizia Shakespeare. Cate que não tinha nada com isso, deu um outro show de classe, elegância, personalidade, e certamente é a herdeira de Meryl Streep.

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Sobre o Colunista:

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho é jornalista formado pela Universidade Católica de Santos (UniSantos), além de ser o mais conhecido e um dos mais respeitados críticos de cinema brasileiro. Trabalhou nos maiores veículos comunicação do país, entre eles Rede Globo, SBT, Rede Record, TV Cultura, revista Veja e Folha de São Paulo, além de HBO, Telecine e TNT, onde comenta as entregas do Oscar (que comenta desde a década de 1980). Seus guias impressos anuais são tidos como a melhor referência em língua portuguesa sobre a sétima arte. Rubens já assistiu a mais de 30 mil filmes entre longas e curta-metragens e é sempre requisitado para falar dos indicados na época da premiação do Oscar. Ele conta ser um dos maiores fãs da atriz Debbie Reynolds, tendo uma coleção particular dos filmes em que ela participou. Fez participações em filmes brasileiros como ator e escreveu diversos roteiros para minisséries, incluindo as duas adaptações de “Éramos Seis” de Maria José Dupré. Ainda criança, começou a escrever em um caderno os filmes que via. Ali, colocava, além do título, nomes dos atores, diretor, diretor de fotografia, roteirista e outras informações. Rubens considera seu trabalho mais importante o “Dicionário de Cineastas”, editado pela primeira vez em 1977 e agora revisado e atualizado, continuando a ser o único de seu gênero no Brasil.

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