A Conversa Raspante de Joao Antonio
Os climas criados pelo verbo de Joao Antonio sao o mais das vezes inusitadamente estranhos
O texto do contista João Antônio raspa pelos ouvidos do leitor. É um gemido original da literatura brasileira. São assim os contos de Abraçado ao meu rancor (1986), uma rigorosa composição de uma linguagem tão marginal quanto surdamente explosiva em sua burilada e sincopada sintaxe.
Os climas criados pelo verbo de João Antônio são o mais das vezes inusitadamente estranhos. Não é a estranheza metafísica de um Franz Kafka. É a estranheza religiosamente popular de um autor cujas raízes estão no universo do povo; criativo, inovador, João Antônio passa ao largo dos hermetismos que vieram na esteira de João Guimarães Rosa, preferindo aquela intimidade linguística com as ruas que se poderia chamar um novo literário realismo. Não o realismo chamado e convencional, mas um realismo inventor, pessoal.
“A rua ruim de novo.
Abafava, de quente, depois de umas chuvadas de vento, desastrosas e medonhas, em janeiro. Desregulava. Um calorão azucrinava o tumulto, o movimento, o rumor das ruas. Mesmo de dia, as baratas saíam da toca e escondidas, agitadas. Suor molhava a testa e escorria na camisa dos que tocavam pra baixo e pra cima.”
Estas notas fazem parte duma leitura feita já há alguns; antigas. E correspondem ao leitor de uma determinada época; ou, todo leitor é datado.
(Eron Duarte Fagundes – eron@dvdmagazine.com.br)
Sobre o Colunista:
Eron Duarte Fagundes
Eron Duarte Fagundes é natural de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 1955; mora em Porto Alegre; curte muito cinema e literatura, entre outras artes; escreveu o livro ?Uma vida nos cinemas?, publicado pela editora Movimento em 1999, e desde a década de 80 tem seus textos publicados em diversos jornais e outras publicações de cinema em Porto Alegre. E-mail: eron@dvdmagazine.com.br